No dia 30 de novembro de 1900, morria, em Paris, o escritor Oscar Wilde, autor do famoso romance "O Retrato de Dorian Gray". A sua figura é frequentemente instrumentalizada e mal compreendida, tanto na profundidade de sua obra quanto no drama de sua vida. Por isso, pode ser útil recordar ao menos algumas coisas.

Wilde nasce em Dublin, no atual território da Irlanda, em 16 de outubro de 1854. O seu pai, sir William, é um médico de muito renome, que "muda com mais frequência de amante que de camisa". Sua mãe, Jane, "não é muito dada ao cuidado da casa, nem à educação moral dos filhos" [1].

William e Jane vivem uma relação "aberta", com todas as suas consequências. Quando Oscar nasce, a mãe, "que esperava ardentemente uma menina", fica desiludida e termina projetando sobre o filho homem os seus desejos: o pequeno Oscar é vestido como menina, "enfeitado com laços e rendas", e sofre tanto com as imposições da mãe quanto com a ausência do pai. Muitos biógrafos jogam luz sobre o fato de que Wilde tinha interiorizado uma figura negativa de pai, e isso o impediu de desenvolver plenamente a sua virilidade e o seu senso de paternidade. O escritor vai acabar procurando, em outras figuras masculinas, o pai que nunca teve, além de ser, dentro da própria família, o marido infiel e o pai ausente que ele tanto desprezava em seu pai.

Wilde logo se separa de sua família e vai para a universidade, primeiro ao Trinity College, de Dublin, e depois a Oxford. Em certos aspectos ele vai continuar sendo "uma eterna criança", incapaz de "amadurecer, pelo menos no plano afetivo".

Seu pai não é para ele objeto de admiração. De fato, Oscar não aprova "a libertinagem desenfreada do pai e não exclui que, justamente como reação aos excessos paternos, ele tenha concebido desde a adolescência uma espécie de relutância a estabelecer relações de compromisso com as mulheres". Ele se casará, amará a sua mulher, mas, assim como o seu pai, jamais conseguirá fazê-lo verdadeiramente, alternando os remorsos e o desejo de reatar o casamento com a insegurança e a instabilidade de suas múltiplas e fugazes relações com mulheres, homens e adolescentes. O vértice de sua depravação – como ele mesmo dirá – levará o escritor, depois do sucesso, à prisão, bem como a uma saúde frágil, graças ao uso prolongado de álcool... até o fim dos seus dias.

Encarcerado em 1895, depois de ser acusado de relações homossexuais com vários adolescentes e prostitutos, Wilde escreve da prisão à sua mulher, Constance: "Perdoa-me... os meus pecados têm sido tremendos e imperdoáveis". Wilde sente vergonha da sua vida passada, anela por sua regeneração, por seu renascimento, faz com que lhe dêem um Evangelho, os escritos dos cardeais Newman e Manning, a História dos Papas... e planeja escrever, uma vez fora do cárcere, alguma coisa sobre São Francisco, quase como uma reparação por sua "selvagem perseguição do prazer que torna áridos o corpo e o espírito". Em 1897, ele escreve uma carta ao seu amante, o lorde Alfred Douglas, que leva o título De profundis – as palavras iniciais do Salmo 130.

Em 30 de novembro de 1900, Oscar Wilde morre, depois de ter entrado para a Igreja Católica — da qual sempre havia sido admirador confesso — e de ter recebido o sacramento da Extrema Unção [2].

Assim como Charles Baudelaire, Paul Verlaine, Arthur Rimbaud e Joris-Karl Huysmans (que depois se tornará oblato beneditino), todos tendo passado, uns mais outros menos, por um forte relacionamento com a fé religiosa, também Wilde não pode ser compreendido senão remontando à sua pergunta: são os prazeres do mundo, os "frutos terrestres", que saciam a fome do homem, ou, ao contrário, a nossa "inquietude", para citar Agostinho, é saciada somente pelo encontro com Deus?

Reportamos abaixo algumas frases de seu livro De profundis, escrito quando o poeta já não estava mais sobre um palco, mas debaixo do pedestal sob o qual ele mesmo quis se meter, para ser, por si mesmo, o sentido da própria vida; escrito quando, no lugar dos prazeres sensuais e da dissipação, restaram apenas a dor e a solidão; quando a tentativa de construir uma vida esplêndida, para além do bem e do mal, "como se Deus não existisse" e "tudo fosse permitido", terminou se revelando um fracasso:

"Devo dizer a mim mesmo que eu me arruinei, e que ninguém, grande ou pequeno, pode ser arruinado, exceto por sua própria mão. Estou quase pronto para dizê-lo. Estou tentando dizê-lo, ainda que, no presente momento, talvez não seja o que pensem. Essa cruel acusação eu trago sem piedade contra mim mesmo. Foi terrível o que o mundo fez para mim, mas muito mais terrível foi o que eu fiz a mim mesmo. [...] Diverti-me sendo um vagabundo, um dândi, um homem da moda. Acerquei-me das naturezas mais baixas e das mentes mais mesquinhas. Tornei-me o dissipador do meu próprio gênio, e trouxe-me uma curiosa alegria desperdiçar uma eterna juventude. Cansado de ficar nas alturas, deliberadamente desci às profundezas, à procura de uma nova sensação. O que me era o paradoxo na esfera do pensamento tornou-se para mim a perversidade na esfera da paixão. O desejo, no fim das contas, era uma doença, ou uma loucura, ou os dois. Cresci sem prestar atenção às vidas dos outros. Senti prazer no que me agradava, e fui em frente. Esqueci que toda pequena ação do dia comum constrói ou destrói o caráter e que, portanto, o que alguém fez na câmara secreta um dia terá que clamar do alto dos telhados. Deixei de ser senhor de mim mesmo. Deixei de ser o capitão da minha alma, e não sabia. Permiti que o prazer me dominasse. Terminei terrivelmente desgraçado. Só me resta agora uma coisa, a humilhação absoluta."

Depois, falando de Jesus, ele escreve que:

"Piedade ele tem, é claro, pelos pobres, por aqueles que são encerrados nas prisões, pelos humildes, pelos miseráveis; mas ele tem muito mais compaixão dos ricos, dos hedonistas obstinados, daqueles que desperdiçam a sua liberdade tornando-se escravos das coisas, daqueles que usam roupas finas e vivem em casas de reis. Riquezas e prazer pareciam-lhe ser, na verdade, tragédias maiores que a pobreza ou o sofrimento. [...] No Natal consegui a posse do Novo Testamento em grego e, toda manhã, depois de limpar minha cela e polir meus metais, leio um pouco dos Evangelhos, uma dúzia de versos tomados por acaso. É uma forma agradável de começar o dia. Todo o mundo, mesmo que em uma vida turbulenta e indisciplinada, deveria fazer o mesmo."

Isto era o que esperava Oscar Wilde: que Jesus tivesse piedade também dele e de seu hedonismo desenfreado, do qual ele tinha se aproximado para construir a própria felicidade, mas que se tornou, contudo, o motivo da sua ruína.

Referências

  1. Francesco Mei. Oscar Wilde (Le Vite). Milano: Rusconi, 1987.
  2. Paolo Gulisano. Il Ritratto di Oscar Wilde. Milano: Ancora, 2009, p. 181.

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