O definitivo chamado de Deus, a graça da vocação para a vida religiosa, eu senti desde os sete anos de vida. Com essa idade, ouvi pela primeira vez a voz de Deus na alma, ou seja, o convite para uma vida mais perfeita, mas nem sempre fui obediente à voz da Graça. Não encontrei ninguém que me pudesse explicar essas coisas.

Aos dezoito anos, fiz um insistente pedido aos meus pais para que me deixassem entrar no convento; a recusa foi decisiva. Depois dessa recusa, voltei-me às vaidades da vida, passei a viver uma vida de vaidades, não prestando nenhuma atenção à voz da Graça, embora minha alma não encontrasse satisfação em nada disso. O contínuo chamado da Graça era para mim um grande sofrimento que eu procurava abafar com diversões. Evitava interiormente a Deus, voltando-me com toda a alma para as criaturas. Contudo, a graça do Senhor venceu em minha alma.

Numa ocasião, eu estava com uma de minhas irmãs num baile. Quando todos se divertiam a valer, a minha alma sentia [tormentos] interiores. No momento em que comecei a dançar, de repente, vi Jesus a meu lado, Jesus sofredor, despojado de suas vestes, todo coberto de chagas e que me disse estas palavras: “Até quando hei de ter paciência contigo e até quando tu Me desiludirás?

Neste momento, parou a música encantadora, não vi mais as pessoas que comigo estavam, somente Jesus e eu ali permanecíamos. Sentei-me ao lado de minha irmã, disfarçando com uma dor de cabeça aquilo que se passava comigo. Em seguida, deixei discretamente os que me acompanhavam e fui à catedral de Santo Estanislau Kostka. Já começava a entardecer, havia poucas pessoas na catedral. Sem prestar atenção a nada do que ocorria à minha volta, caí de bruços diante do Santíssimo Sacramento e pedi ao Senhor que me desse a conhecer o que devia fazer a seguir.

Então ouvi estas palavras: “Vai imediatamente a Varsóvia, e lá entrarás num convento.” Terminada a oração, levantei-me, fui para casa e arrumei as coisas indispensáveis. Como pude, relatei à minha irmã o que acontecera na minha alma; pedi que se despedisse por mim dos meus pais e assim, só com a roupa que tinha no corpo, sem mais nada vim para Varsóvia.

Quando desci do trem e vi que cada um seguia o seu destino, fiquei com medo e sem saber o que fazer. Para onde dirigir-me, não tendo ali ninguém conhecido? Implorei à Nossa Senhora: “Maria! Conduzi-me, guiai-me.” Imediatamente ouvi dentro de mim uma voz que me dizia que saísse da cidade e fosse a determinada aldeia, onde poderia passar à noite com segurança. Foi o que fiz e encontrei tudo como Nossa Senhora me havia dito.

No dia seguinte, bem cedinho, vim à cidade e entrei na primeira igreja que encontrei e comecei a rezar para saber o que mais era da vontade de Deus. As Santas Missas se sucediam. Durante uma delas, ouvi estas palavras: “Vai falar com esse padre e ele te dirá o que deves fazer em seguida”.

Terminada a Santa Missa, fui à sacristia e contei tudo o que se tinha passado na minha alma e pedi conselho para saber em que convento ingressar. No primeiro momento, o Padre ficou muito surpreendido, mas depois recomendou-me que tivesse muita confiança, pois Deus me guiaria. “Por enquanto”, [disse ele] “vou enviar-te a uma piedosa senhora com a qual ficarás enquanto não ingressares no convento.”

Quando fui ter com essa senhora, ela me recebeu com muita afabilidade. Durante esse tempo, eu procurava um convento, mas a cada porta que batia era recusada. A dor apertou-me o coração e roguei então a Jesus: “Ajudai-me, não me deixeis sozinha.” Até que, finalmente, bati à porta do nosso Convento.

Quando [veio] ter comigo a Madre Superiora, a atual Madre Geral Michaela, depois de uma breve conversa, disse-me que fosse ver o “Senhor da casa” e perguntasse se Ele me aceitaria. Compreendi logo que devia perguntar a Nosso Senhor. Fui à capela com grande alegria e perguntei a Jesus: “Senhor desta casa, Vós me aceitais? — Foi uma das Irmãs que me mandou perguntar assim.”

E logo ouvi uma voz que me dizia: “Eu te aceito, tu estás no Meu Coração.” Quando voltei da capela a Madre Superiora logo me perguntou: “E então, o Senhor te aceitou?” — Respondi que sim. — “Se o Senhor te aceitou, eu também te aceitarei.”

Esta foi a minha admissão.

Referências

  • Extraído de Diário de Santa Faustina Kowalska. 36.ª ed., Curitiba: Mãe da Misericórdia, 2009, pp. 21-23, nn. 7-15.

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