O curso ao qual Padre Paulo Ricardo está dando andamento sobre “O Senhor dos Anéis dá ocasião de respondermos a alguns questionamentos importantes. Em nossa primeira transmissão ao vivo, uma dúvida anônima, que é certamente a de muitas pessoas, versava o seguinte:

Para aquelas pessoas que não perceberam e não sabem desta chave de leitura cristã de “O Senhor dos Anéis”, até que ponto mergulhar nesse mundo fictício contribuiria para seu desenvolvimento espiritual cristão? E como um mundo mágico desta natureza e que encanta, poderia não abrir os corações dos jovens para uma nova filosofia de vida mágica, de mistérios e poderes ocultos, nesta sociedade do “tudo, menos Deus”?

A preocupação deste aluno podia muito bem ser a de um pai ou de um educador. Existe por parte de muitos formadores o receio de que essa imersão na literatura fantástica acabe conduzindo crianças e adolescentes ao mundo do ocultismo.

A preocupação, reconheçamos, tem sua razão de ser. Tolkien iniciou, de fato, todo um gênero literário, que ficou bastante famoso e que se tornou uma verdadeira indústria de livros, mas isso não significa que tudo quanto saia da pena de escritores de fantasia seja belo, bom e justo.

A esta indagação, no entanto, o próprio J. R. R. Tolkien respondeu, certa vez, do seguinte modo:

A Fantasia pode, é claro, ser levada ao excesso. Pode ser malfeita. Pode ser posta a serviço de fins maus. Pode mesmo iludir as mentes das quais veio. Mas de que coisa humana neste mundo caído isso não é verdade? Os homens conceberam não apenas elfos, mas imaginaram deuses, e os adoraram, adoraram mesmo aqueles mais deformados pelo próprio mal de seus autores. Mas eles fizeram falsos deuses com outros materiais: suas idéias, suas bandeiras, seus dinheiros; até suas ciências e suas teorias sociais e econômicas exigiram sacrifício humano. Abusus non tollit usum. A Fantasia permanece um direito humano; criamos na nossa medida e ao nosso modo derivativo, porque fomos criados: e não apenas criados, mas criados à imagem e semelhança de um Criador. [1]

Esperamos que essa resposta esclarecedora, vinda do próprio “senhor da fantasia”, ajude nossos alunos e visitantes a entenderem que histórias de ficção não são más em si mesmas, assim como não é mau o facão que um açougueiro pode usar tanto para cortar carne quanto para matar alguém, assim como não é mau o álcool do vinho que Cristo deu aos convidados das bodas de Caná (cf. Jo 2, 1-11).

Não, o abuso que muitos fazem de determinadas coisas não as torna ruins. Continuamos devendo usar de modo sensato os bens que Deus colocou à nossa disposição. Sem os endeusarmos. Sem os demonizarmos indevidamente. “Idolatria se comete”, afinal, “não somente pela instituição de falsos deuses, mas também, pela instituição de falsos demônios; fazendo os homens temerem a guerra e o álcool, ou a lei econômica, quando eles devem temer a corrupção espiritual e a covardia” [2].

Referências

  1. J. R. R. Tolkien. Sobre histórias de fadas (trad. de Ronald Kyrmse). São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2006, p. 63.
  2. G. K. Chesterton. In: Illustrated London News, 11 set. 1909.

Recomendações

  • Nosso curso sobre “O Senhor dos Anéis” não acabou! Além da transmissão de hoje à noite, dia 17, ainda teremos aulas ao vivo nos dias 29, 30 e 31 deste mês. Corra para fazer sua inscrição e participar desta aventura conosco!

O que achou desse conteúdo?

0
0
Mais recentes
Mais antigos