O aval do Papa veio no dia do seu aniversário. Na tarde da quinta-feira, 17 de dezembro, Francisco ratificou o reconhecimento do milagre que levará a beata Madre Teresa de Calcutá à honra dos altares. Assim se concluiu o processo super miro ("sobre o milagre") da causa da "apóstola dos desvalidos". A data oficial da canonização será divulgada no próximo Consistório, mas estima-se que a cerimônia aconteça no dia 4 de setembro, ao longo do Ano Santo da Misericórdia.

O milagre tinha sido colocado sob a avaliação final dos bispos e cardeais reunidos na Congregação para a Causa dos Santos, no dia 15 de dezembro. Depois de escutarem a exposição de um proponente da causa, os prelados deram o seu parecer positivo e submeteram o caso à aprovação do Papa. Foi o último grau de julgamento na fase romana do processo sobre o milagre, iniciado em junho deste ano, na diocese brasileira de Santos, São Paulo.

A cura extraordinária, que aconteceu em 9 de dezembro de 2008, é relativa a um homem, hoje com 42 anos, que ficou às portas da morte por conta de "múltiplos abscessos cerebrais com hidrocefalia obstrutiva". De acordo com o diagnóstico, o paciente já tinha sido "submetido a um transplante renal e a terapia com imunossupressores", mas nada tinha adiantado. O caso clínico extremamente crítico e com um prognóstico quod vitam decididamente infausto se resolveu de repente, de modo total e duradouro, sem qualquer intervenção cirúrgica. No dia 10 de setembro deste ano, os membros da junta médica foram unânimes em considerar o tratamento da doença cientificamente inexplicável, com sete votos positivos, de sete.

Também unânime foi o voto sucessivo dos teólogos que, segundo o costume, são chamados a manifestar e redigir o próprio voto sobre a perfeita conexão de causa e efeito entre a invocação unívoca à beata Madre Teresa e a cura imprevista.

"Roguem a Madre Teresa que ela o cure"

À época dos fatos, o paciente, engenheiro de profissão, tinha 35 anos e estava casado há pouco tempo. Seu calvário tinha começado nos primeiros meses de 2008. Ao fim do ano, ele foi diagnosticado com oito abscessos cerebrais. Os cuidados médicos não surtiram nenhum efeito e o quadro clínico piorou depois, com o surgimento da hidrocefalia. Uma cirurgia deveria ser feita para afastar a possibilidade de morte, tida como iminente. No dia 9 de dezembro, já em coma, o paciente entrou na sala de operação. Por causa de problemas técnicos, todavia, a intervenção foi adiada. Enviado de volta à sala de cirurgia, depois de apenas uma meia hora de espera, o cirurgião encontrou o paciente surpreendemente sentado, acordado, sem quaisquer sintomas, perfeitamente consciente e perguntando: "O que eu estou fazendo aqui?".

"Eu nunca vi nada parecido", escreveu o médico em seu depoimento. "Dos outros casos semelhantes a esse, em 17 anos de profissão, todos estão mortos. Não posso dar uma explicação médica ou científica". Exames sucessivos confirmaram a cura definitiva da patologia cerebral e, em pouco tempo, sem nenhum sequela, o paciente pôde retornar ao seu trabalho e às suas atividades normais.

As provas documentais revelam que foram feitas muitas orações a Madre Teresa, especialmente durante a gravíssima crise de 9 de dezembro. Depois de perceber a gravidade da situação, a esposa do jovem profissional tinha pedido aos seus conhecidos que rezassem à beata de quem ela era devota: "Roguem a Madre Teresa que ela o cure". Exatamente naquela meia hora de espera da cirurgia, ela se achava com um sacerdote e outros familiares rezando a Madre Teresa na capela do hospital.

Invocada, a religiosa rapidamente interveio, vindo em auxílio de uma pessoa em condições extremas, como de resto sempre tinha feito em vida, dedicando-se ao cuidados dos moribundos e à assistência dos mais necessitados.

Uma mulher de profunda comunhão com Deus

O trabalho de Madre Teresa junto aos pobres é amplamente conhecido. O que permanece oculto para muitos é a sua profunda intimidade com o Santíssimo Sacramento, a qual constituía a força de toda a sua vida e apostolado. "A Missa é o alimento espiritual que me sustenta", ela dizia. "Sem ela, eu não conseguiria completar sequer um dia ou uma hora da minha vida."

Foi de diálogos com Jesus Eucarístico, por exemplo, que lhe vieram as inspirações para fundar a Congregação das Missionárias da Caridade, ainda em 1946. Ela era diretora de uma escola católica e sentiu forte o chamado de Deus para abandonar tudo e começar uma missão especial entre os pobres. Quando conseguiu a autorização de seu bispo, a única coisa que pedia para ela e suas irmãs era "ajuda espiritual". "Se tivermos nosso Senhor no meio de nós, com a Missa diária e a Santa Comunhão, não temo nada nem para minhas irmãs, nem para mim", escreveu ela ao prelado. "Ele cuidará de nós. Mas sem Ele, fraca que sou, eu não posso nada."

As suas palavras de amor à Eucaristia só confirmavam o lugar de destaque que Jesus tinha em todas as suas ações. Quem quer que visitasse o seu abrigo em Calcutá ficava surpreso ao ser levado, em primeiro lugar, à capela do Santíssimo. Jesus era "o Mestre da casa", como ela dizia, e era a Sua presença a grande motivação do seu trabalho. De fato, tanto na sua vida de oração quanto no seu apostolado de assistência aos mais necessitados, Teresa servia a uma só Pessoa: Jesus de Nazaré. "Na Missa – ela explicava –, nós temos Jesus sob a aparência do pão, enquanto, nas favelas, nós vemos o Cristo e O tocamos nos indigentes, nas crianças abandonadas."

As Missionárias da Caridade, portanto, não iam às ruas como agentes sociais e políticos, mas como servas indignas, chamadas a levar Jesus às casas e aos corações das pessoas. "Toda Santa Comunhão nos preenche de Jesus e nós devemos, com Nossa Senhora, ir depressa e dá-Lo aos outros", exclamava a beata Teresa.

Pouco a pouco, Cristo foi "tomando posse" da religiosa de Calcutá e transformando todo o seu ser, a ponto de ela poder exclamar, com São Paulo: "Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim" (Gl 2, 20). Nesse processo de configuração a Cristo, Madre Teresa experimentou, a exemplo dos grandes místicos da Igreja, a chamada "noite escura", um processo de purificação por meio do qual a alma amante vai se desapegando das criaturas para encontrar o seu repouso em Deus.

Cartas escritas pela beata, divulgadas há alguns anos, fizeram referências a "dúvidas" e à sensação de um grande "vazio". Alguns jornais interpretaram tudo como o "ateísmo" de Madre Teresa. Quem conhece um pouco a vida dos santos, no entanto, sabe que esse caminho de "secura" e "escuridão" foi experimentado por todas as grandes almas de oração, desde o começo da Igreja até os dias de hoje. O Eclesiástico mesmo adverte, a quem quer que entre "para o serviço de Deus": "Prepara a tua alma para a provação; humilha teu coração, espera com paciência, dá ouvidos e acolhe as palavras de sabedoria; não te perturbes no tempo da infelicidade, sofre as demoras de Deus (...), a fim de que no derradeiro momento tua vida se enriqueça" (Eclo 2, 1-3). Fora da Cruz, verdadeiramente, não existe outra escada por onde subir ao Céu.

O corpo da bem-aventurada Madre Teresa está sepultado em Calcutá, junto à sede das Missionárias da Caridade. Sobre o seu túmulo branco despojado, está escrito um versículo do Evangelho de São João que se aplica perfeitamente a toda a sua vida – e deve aplicar-se à vida de todos quantos se dizem cristãos: "Amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado" (Jo 15, 12).

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