Um dos ensinamentos mais controversos do catolicismo diz respeito à homossexualidade. De acordo com o Catecismo da Igreja Católica (§ 2357):

Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves (cf. Gn 19, 1-29; Rm 1, 24-27; 1Cor 6, 9-10; 1Tm 1, 10), a Tradição sempre declarou que os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados. São contrários à lei natural. Fecham o ato sexual ao dom da vida. Não procedem de uma complementaridade afetiva e sexual verdadeira. Em caso algum podem ser aprovados.

Para muitos de nós, esse ensinamento é desafiador, especialmente se alguém a quem amamos é homossexual. Mas e se for você o católico lutando contra esses desejos? É possível ser fiel aos ensinamentos da Igreja e ainda assim ser feliz?

Sim, é possível.

Eu sou uma mulher católica de 37 anos e muito bem casada há cerca de 15. Temos cinco filhos educados em casa. E eu também luto, diariamente, com a atração pelo mesmo sexo (AMS).

A maior parte dos homossexuais dirá que “sabiam” ser assim desde uma idade muito precoce. Eu não sabia. Dentro de mim, eu tinha as “quedinhas” normais por rapazes e, assim como a maioria das mulheres heterossexuais, me imaginava casada e tendo filhos com um grande homem.

Até eu conhecer Nora. Nora morava na mesma residência universitária que eu, e nós tínhamos muitas aulas juntas, razão pela qual começamos a passar muito tempo juntas. Meu namorado incentivava a nossa amizade, porque era uma forma de eu não ficar sozinha enquanto ele estava no trabalho. Nora e eu tínhamos muitos interesses em comum e, por isso, rapidamente nos tornamos melhores amigas.

Um dia, porém, alguns meses mais tarde, uma ideia alarmante atravessou a minha mente: “Eu estou apaixonada por Nora.” Fiquei terrivelmente assustada com aquele pensamento. Chorei por horas, tentando achar uma saída para o estranho enigma de me sentir apaixonada por uma mulher. Estava tudo ali, exatamente como acontecia com relação aos homens: a atração emocional e, sim, até a atração física.

Passei então a evitá-la, mas ela insistia em querer saber o que de errado estava acontecendo. Finalmente eu lhe contei como me sentia, meio que torcendo para que ela recuasse de pavor. Ao contrário, ela confessou sentir o mesmo a meu respeito. E não, nenhuma de nós jamais havia se sentido atraída por outra mulher antes.

Sei que alguns de vocês podem estar pensando: “O que você quer dizer com isso? Que simplesmente ‘acordou’ um dia e se viu apaixonada por uma mulher? Uma coisa dessas pode realmente acontecer?” Na verdade, a história não foi bem assim. Houve vários fatores, tanto no meu passado quanto no de Nora, que nos tornaram vulneráveis à AMS.

Nora havia sido molestada repetidas vezes por um primo quando era criança. Eu fui abandonada por minha mãe biológica e cresci sendo abusada fisicamente por minha mãe adotiva, que tinha problemas mentais. Para Nora, eu representava segurança; para mim, Nora oferecia o vínculo de carinho que eu nunca tive com uma mulher. Nenhuma de nós havia recebido qualquer orientação sobre sexualidade, a não ser: “Não fique grávida”. Tampouco tínhamos algum tipo de fé em Deus, o que tornou muito mais fácil ignorarmos nossas consciências quando nos sobreveio a tentação de nos envolvermos.

Naquele verão, começamos o que acabou se tornando um caso de três anos. Nora e eu decidimos ser colegas de classe pelos últimos dois anos de universidade. Por mais estranho que possa parecer, nós saíamos periodicamente com homens neste intervalo de tempo. Naqueles dias, antes de o “casamento” homossexual ser aprovado nos Estados Unidos e antes de a fertilização in vitro entrar na moda, nenhuma de nós conseguia imaginar em desistir do nosso sonho por uma família de verdade.

Agora eu percebo que, não obstante nossa atração uma pela outra, o chamado de Deus à união matrimonial ainda estava gravado em nossos corações. Nós nos gostávamos muito, mas ainda queríamos o velho casamento dos contos de fada, os filhos e uma casa no campo. Para nós, nada daquilo era possível para um par de lésbicas.

Talvez tenha sido por isso que sofremos tanto para esconder nosso relacionamento de parentes e amigos. Ainda que não fôssemos capazes de imaginar nossas vidas uma sem a outra, também não podíamos imaginar um futuro juntas. Sentíamo-nos profundamente envergonhadas por causa do nosso comportamento, ainda que a maioria de nossos amigos fosse liberal e jamais viesse a nos julgar. Metade de nossos amigos eram, eles mesmos, gays ou lésbicas. Ainda assim, como que por instinto, nós protegíamos nossa imagem de mulheres heterossexuais.

Alguns meses antes de me formar, conheci um jovem rapaz cuja mente brilhante e senso de humor puseram um fim em meu relacionamento com Nora. Embora não viéssemos a nos casar, ele me oferecia o senso de normalidade de que eu precisava desde que passei a me envolver com uma mulher. Nora não aceitou bem a situação e decidiu revelar à própria família que era lésbica. Ela expôs nosso segredo, então, a quem quer que a quisesse escutar. A família dela, que havia me acolhido calorosamente em sua casa por três anos, afastou-se completamente de mim. A seus olhos, eu era uma depravada que lhes havia corrompido a filha.

Depois de Nora, eu nunca mais me relacionei com outra mulher, em grande parte porque não cheguei a conhecer nenhuma por quem sentisse uma atração emocional tão forte como a que tinha sentido por ela. A atração sexual por mulheres em geral, no entanto, nunca foi embora. Descobri que, ao mesmo tempo que eu me sentia atraída por homens em particular, minha atração principal era por mulheres, tanto sexual quanto emocionalmente.

Dois anos depois, eu conheci meu marido, um homem por quem eu sentia tudo isso, e ainda mais. Abracei o matrimônio, feliz por finalmente ter encontrado uma vida “normal”. Entretanto, mesmo depois disso, a AMS permaneceu instalada como uma armadilha dentro de mim. Quando eu viajava para fora a trabalho, lutava comigo mesma para não ir a bares lésbicos. Eu havia prometido fidelidade e precisava honrar minha promessa. De alguma forma eu sabia que, se traísse meu marido, eu estaria definitivamente perdida enquanto pessoa. Agradeço a Deus todos os dias por me ajudar a combater essas tentações.

Então nós nos tornamos católicos. Se nossos votos já haviam sido sagrados antes, agora eles se tinham tornado sacramentais. Embora eu buscasse ser obediente à Igreja, não conseguia entender plenamente a doutrina católica sobre sexualidade, até estudar a teologia do corpo do Papa São João Paulo II. Finalmente pude entender o sentido do meu corpo e por que o matrimônio era algo tão sagrado. Entendi por que eu jamais me satisfaria com Nora e por que eu aspirava tanto me unir a um homem e constituir uma família.

Mas entender minha sexualidade não fez as tentações irem embora. Eu não podia simplesmente eliminar a tendência de me sentir sexualmente atraída por mulheres.

Por um tempo, eu havia me convencido de que, já que eu não me envolvia em atos homossexuais, eu não estava pecando (ou seja, estaria tudo bem dar azo à fantasia). Quanto mais eu entendia a castidade autêntica, porém, mais frágil se tornava esse pretexto. Que “pureza de coração” era a minha, se eu cedia a fantasias pecaminosas durante o ato mais íntimo do meu casamento? Como eu podia imaginar outra pessoa naquele instante sem, ao mesmo tempo, desrespeitar meu amado marido? Eu sabia que a castidade de verdade exigia algo maior do que simplesmente seguir a letra da lei: exigia conversão de coração.

Felizmente, a batalha hoje é mais fácil do que nos primeiros anos de casamento. Eu permaneço fiel a Deus e a meu marido porque trabalho duro a fim de evitar as ocasiões próximas de pecado.

Eu evito, por exemplo, amizades muito intensas com mulheres que possam eclipsar meu relacionamento com meu marido, e não assisto, de jeito nenhum, a filmes com temática homossexual. Também treinei minha imaginação para evitar pensamentos impuros. Pode ser tentador cair em velhos padrões de pensamento, especialmente quando estou cansada. Mas, se necessário for, eu vou à exaustão física e emocional, só para não ofender a Deus. Nenhum prazer sensual passageiro vale a pena de ofender a Jesus, que tanto sofreu para me salvar.

Ajuda-me saber também que o que eu tenho com meu marido supera qualquer coisa que eu poderia ter em um relacionamento homossexual. O dom mais extraordinário da nossa união é podermos cooperar com Deus na criação de uma pessoa única, com uma alma imortal. Trata-se de um grandioso privilégio, transcendente e espiritual, que eu teria perdido se fosse lésbica.

Naturalmente, tenho uma compaixão profunda por quem luta a mesma luta que eu. Mas não acredito que devamos ceder à AMS se a tivermos. De fato, eu não sou nem um pouco diferente de um homem heterossexual que luta para não transformar as mulheres em objeto. Ou de uma mulher heterossexual que é tentada ao sexo fora do casamento. Nós todos somos pessoas “quebradas”, e é por isso que todos, sem exceção, precisamos de Cristo.

Eu não posso reordenar minha sexualidade decaída, mas, como tenho testemunhado ao longo dos últimos dez anos, a graça e a fé em Jesus podem por mim. Basta ter paciência e vontade de receber a cura. A santificação, afinal de contas, é o processo de uma vida inteira. Conforta-me saber que, devagar mas efetivamente, Deus está curando as feridas dos pecados sexuais que desfiguraram minha alma.

Se Deus ama seus filhos que lutam com a atração por pessoas do mesmo sexo? É evidente que sim. Mas Ele nos ama demais para nos deixar do jeito que estamos.

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