O escritor e crítico literário vietnamita Nguyen Hoang Duc, testemunha fundamental no processo de beatificação do Cardeal François-Xavier Nguyen Van Thuan - a quem deve sua conversão e a cura de uma enfermidade - foi sumariamente impedido pelo governo comunista do Vietnã de viajar para Roma, onde assistiria ao encerramento da fase diocesana do referido processo, numa clara demonstração da tirania e repressão que caracteriza esse tipo de regime.

Quando o purpurado – na época, bispo auxiliar de Saigon – foi preso pelo regime socialista do Vietnã, em 1975, Hoang Duc era oficial de alta patente da administração em Assuntos Religiosos. Os caminhos destas duas personagens se cruzaram quando Hoang Duc foi enviado para vigiar o cárcere de Van Thuan. Ali, com o bispo vietnamita, ele não somente aprendeu francês, mas, fascinado pela força de seu testemunho, acabou por entrar também na escola da fé cristã.

É certo que Hoang Duc não foi o único a aderir ao Cristianismo a partir da experiência de santidade do cardeal Van Thuan. Todos à sua volta, carcereiros e encarcerados, ficavam impressionados com a viva esperança do prelado.

Confinado em um cubículo minúsculo, úmido e sem janela, de tal sorte que, para respirar, tinha de passar horas com o rosto metido em um pequeno buraco no chão, Van Thuan havia decidido não esperar por sua libertação: "Eu não esperarei. Vou viver o momento presente, enchendo-o de amor". E assim fez. Com a ajuda de amigos e de alguns vigilantes, celebrava a Eucaristia em sua cela mesmo. Depois, guardava as espécies eucarísticas com reverência e, à noite, reunia-se com os poucos católicos e outras pessoas ali presentes para adorar o Senhor. "Assim, na solidão, na fome... uma fome terrível, foi possível sobreviver. Desta maneira dávamos testemunho na prisão."

Tão notável foi a sua resistência, que foi digno de menção na encíclica Spe Salvi, do Papa Bento XVI:

"Durante 13 anos de prisão, numa situação de desespero aparentemente total, a escuta de Deus, o poder falar-Lhe, tornou-se para ele uma força crescente de esperança, que, depois da sua libertação, lhe permitiu ser para os homens em todo o mundo uma testemunha da esperança, daquela grande esperança que não declina, mesmo nas noites da solidão."

Sua beatificação anda a passos adiantados. Mas o governo marxista de Hanói, capital do Vietnã, não está nada contente com isto. Os relatos do cardeal Van Thuan circularam em muitos livros, traduzidos para vários idiomas de todo o mundo, e, definitivamente, não são boa propaganda do Partido Comunista e de sua ideologia. Por isso a recusa em conceder o passaporte de viagem a Nguyen Hoang Duc, peça fundamental no processo de beatificação de Van Thuan.

Ademais, Hoang Duc é, por sua própria história de vida, um verdadeiro exemplo do fracasso que é o comunismo. De fato, após conhecer Van Thuan na prisão, o oficial, então membro do governo vermelho, desacreditado de sua ideologia, abandonou o cargo na segurança pública e começou a frequentar igrejas católicas. Um dia, sonhou que era batizado em uma delas. Convencido ser este um sinal, Hoang Duc começou um caminho de formação que o levou ao batismo.

Hoje, batizado, dedicado à literatura, à crítica poética e ao debate cultural, Hoang Duc não esconde a sua gratidão pela vida do cardeal Van Thuan. O que, na década de 1970, como oficial do regime ateu vietnamita, ele só podia ver como superstição e obscurantismo, é hoje o fundamento basilar de sua vida.

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