Antonin Scalia, o juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos que morreu em fevereiro de 2016, criou os nove filhos durante o período auge da Revolução Sexual, nas décadas de 1960 e 1970. Apesar dos tempos difíceis, o saldo final da educação que concedeu foi bem positivo: do casamento de Antonin e Maureen, saíram um sacerdote — o padre Paul Scalia — e 36 netos.

Esse expressivo número dá exemplo de que, mesmo em um mundo que perdeu tragicamente não só a fé em Cristo, como a própria concepção do que seja família, é possível dar aos nossos filhos uma educação católica de verdade — e ainda por cima colher, nas futuras gerações, os frutos da boa criação que receberam. A pergunta que fica é: como fazer isso? Como formar eficazmente as nossas crianças e impedir que elas sejam levadas pelas marés de novidade que arrastam o homem moderno?

Alguns fatos da vida dos Scalia podem ajudar a iluminar esse caminho e mostrar, ao mesmo tempo, onde exatamente estamos errando na educação dos nossos filhos.

O amor aos filhos

A família Scalia apreciava a dádiva dos filhos, em primeiro lugar. Como eles mesmos admitem, em uma conhecida entrevista à jornalista Lesley Stahl, da CBS News: "Nós não tínhamos planejado ter nove filhos. Somos apenas bons e velhos católicos jogando o que se costumava chamar a 'roleta do Vaticano'". A jocosa expressão era usada por alguns para qualificar os métodos naturais de controle de natalidade, os únicos moralmente aceitos pela Igreja Católica. Como a relação dos dois estava sempre aberta a um novo filho — como é a prescrição do Papa Paulo VI na encíclica Humanae Vitae, de que "qualquer ato matrimonial deve permanecer aberto à transmissão da vida" (n. 11) —, existia sempre o bendito "risco" (vamos chamar assim) de que viesse o segundo, o terceiro, o quarto... até que, enfim, eles chegassem aos nove.

Nove filhos, uma excelente família — mas certamente aparecerá alguém para chamar a família Scalia de "irresponsável". O que hoje em dia as pessoas chamam de irresponsabilidade, no entanto, é considerado pelo Autor Sagrado um grande dom: "Os filhos são a bênção do Senhor, o fruto das entranhas, sua dádiva. Como flechas que um guerreiro tem na mão, são os filhos de um casal de esposos jovens. Feliz aquele pai que com tais flechas consegue abastecer a sua aljava!" (Sl 126, 3-5). Como saímos disso para os mesquinhos pais de um filho só? Por que a mentalidade das famílias mudou tanto em tão pouco tempo, se até alguns anos atrás as famílias eram numerosas — e viam isso com bons olhos?

A resposta deve ser encontrada, sobretudo, na ilusão do dinheiro, porque a alegação que as pessoas hoje fazem para evitar filhos está sempre relacionada, direta ou indiretamente, a um problema material: um filho a mais é sempre "uma boca a mais", um item a mais no orçamento familiar. O parâmetro, a régua que os casais têm usado para medir as suas ações, está sempre guiada por essa lógica mesquinha, a qual, na verdade, denuncia a própria miséria moral em que estamos afundados. Afinal, se não temos nada mais a dar aos nossos filhos do que dinheiro, se essa é realmente a melhor coisa — ou, quem sabe, a única — que podemos passar às futuras gerações, enfim, "se é só para esta vida que pusemos a nossa esperança em Cristo, somos, dentre todos os homens, os mais dignos de lástima" (1 Cor 15, 19).

Não é verdade que o conforto e o dinheiro sejam o bem mais importante do matrimônio. A Igreja sempre ensinou, ao contrário, que a riqueza mais preciosa que um casal pode acumular são justamente os seus filhos! Foi o que disse o padre Paul Scalia, durante a Missa de Exéquias celebrada pela alma de seu pai, e é também o que ensinam o Papa Pio XI, na encíclica Casti Connubii — "Entre os benefícios do matrimônio ocupa o primeiro lugar a prole" (n. 12) —, o Concílio Vaticano II, na constituição Gaudium et Spes — "Os filhos são o dom mais excelente do Matrimônio" (n. 50) —, e o que confirmou o Papa Paulo VI, mesmo depois do Concílio. O próprio Jesus sugeriu o mesmo, quando disse: "Quem acolhe em meu nome uma destas crianças, a mim acolhe" (Mc 9, 37).

Ciente disso, a esposa e mãe de família Maureen Scalia não só zelou pela geração de seus filhos, mas também por sua educação — afinal, não basta simplesmente "pôr filhos no mundo", é preciso formá-los. Antonin considerava sua mulher "o produto da melhor decisão que havia feito em toda a sua vida". Foi ela quem criou os nove filhos do casal — admite o marido — "com mui pouca assistência" da parte dele. "E não há ninguém burro no grupo!", ele brincava. Também aqui é possível extrair uma grande lição dessa família: a de que as mulheres fazem muito bem quando decidem ficar em casa para cuidar de seus filhos. Sem dúvida, isso pressupõe também o compromisso e a dedicação dos homens de família em trazer o sustento para dentro de casa, porém nada justifica a "confusa ideia" feminista "de que as mulheres são livres quando servem seus empregadores, mas escravas quando ajudam os seus maridos".

O fato de as mulheres terem "conquistado" o mercado de trabalho, como se diz, também configurou um fator decisivo para a redução do número de filhos por família em todo o mundo. Isso enfraquece dramaticamente os laços familiares e torna a comunidade familiar uma presa fácil para as ideologias externas. Os filhos de Antonin Scalia, pasmem, frequentaram escolas públicas e, "certamente, cresceram envolvidos por uma cultura que não dava suporte aos nossos valores". O que os salvou, então? "Fomos ajudados pelo fato de que éramos uma família muito grande", ele diz. Famílias numerosas são núcleos fortes e robustos; famílias pequenas são facilmente fagocitadas pelo mundo. Quanto mais crianças, portanto, tanto melhor.

A educação religiosa

A família Scalia educava com a fé e com o exemplo, em segundo lugar. Em artigo publicado em The Washington Post, Christopher Scalia, o oitavo filho do casal, dá um comovente testemunho de seu pai:

"Ele nos levava à Missa todo domingo. Trazia consigo o seu já gasto Missal Romano, com as páginas enrugadas por causa da água benta e cheias de cartões de oração de décadas. Seu comportamento durante a Missa não era sempre contido. Se ele discordava de uma posição do padre durante o sermão, ele se inclinava, olhava para minha mãe e franzia a testa ou balançava a cabeça. Assim ele demonstrava o seu desacordo com a homilia. Por outro lado, se gostava de um sermão, ele depois dizia o quanto ao sacerdote. Todos nós víamos quão importante era a Missa para ele, com seus olhos fechados e a cabeça abaixada enquanto se aprofundava na oração durante a consagração e após a Comunhão."

Esse pequeno relato do filho mais novo do casal é bastante revelador. Antonin Scalia não concordava com tudo o que ouvia quando ia à igreja. Ainda que Christopher não tenha dado detalhes do que fazia seu pai menear a cabeça enquanto sentava no banco da paróquia, ele certamente não é o único de nós a discordar do que escuta durante as homilias dominicais. Isso é para nós um testemunho da sua . Antonin estava convencido do poder dos Sacramentos, independentemente dos erros ou possíveis escorregões dos ministros da Igreja. Estava convicto da verdade da fé católica, mesmo quando os seus pregadores falhavam em demonstrar a sua grandeza. Estava na Missa todos os domingos por causa de Cristo presente na Comunhão, e não por causa dos homens.

Os seus filhos, vendo o comportamento do pai, seguiram o seu exemplo e, por terem recebido uma sólida formação religiosa, não desertaram nos momentos de crise. Mais do que isso, eles mesmos parecem ter repetido em suas respectivas famílias aquilo que viram acontecer em casa. Pressupondo que, com exceção de Paul, todos os outros Scalia se casaram, temos 8 matrimônios e 36 filhos, uma média de 4 a 5 filhos por casal. Ninguém pretende elevar a família Scalia aos altares, mas, em uma sociedade que se limita a um casal de filhos por casal e basta, o exemplo deles é realmente admirável.

Novamente, como eles conseguiram isso?

"Você não é todo o mundo!"

A família Scala era intransigente nos costumes, em último lugar. Em um período em que todos começaram a abandonar os trajes mais sociais para usar calça jeans, a família Scalia resistiu bravamente. Eugene, o filho mais velho, conta que "levou um tempo" para que seus pais finalmente os deixassem usar jeans na escola. "Nós dizíamos, 'Está todo mundo usando jeans', e eles diziam, 'Por que você quer ser como todo o mundo?'".

Hoje, o nível de decadência das roupas está bem além do normal. O jeans já não satisfaz, o clima é tropical e as alfaiatarias têm que cortar as pernas das calças. Tome-se como exemplo a notícia de meninas fazendo protestos para usarem "shortinho" no colégio. Qual é o argumento da vez? A resistência a este ente abstrato e desconhecido chamado "machismo" — mais uma variante da agressiva "luta dos sexos" que está por toda parte. O que essas adolescentes falham em perceber — e, juntamente com elas, as suas mães — é que usar uma roupa decente, cobrir com modéstia o corpo feminino, é uma forma de elas mesmas se protegerem! É verdade que o modo masculino de olhar para as mulheres precisa mudar, mas esse não é, nem de longe, o único aspecto do problema da objetificação da mulher: também elas são responsáveis pela imagem que passam para os outros. Certamente, ninguém se resume à roupa que veste, mas também a veste constitui parte importante do que uma pessoa é. No mais, Santo Tomás de Aquino fala sobre isso com propriedade em sua Suma Teológica.

Para não permitir que os seus filhos fossem arrastados pelas modas do momento, Antonin Scalia criou em sua casa uma cultura própria. "A primeira coisa que você precisa ensinar aos seus filhos é o que os meus pais costumavam me dizer o tempo todo: 'Você não é todo mundo. Nós temos as nossas próprias regras e elas não são as mesmas do mundo em muitos aspectos, e quanto mais cedo você aprender isso, tanto melhor.'", ele diz.

Esta é, sem dúvida, uma noção fundamental a passar para os nossos filhos nos dias de hoje: a de que eles não são como os outros, de que são diferentes e, por isso, devem realmente se comportar de maneira diferente. Eles estão no mundo, mas, assim como os cristãos de outras épocas, não pertencem a ele — são cidadãos do Céu. Nós todos, também dentro do matrimônio, somos chamados a ser sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5, 13-16). Se o sal perder o seu sabor, não haverá com o que salgarmos.

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