Não é preciso muita perspicácia para identificar que a humanidade afunda em uma grave crise. Infelizmente, até o lugar que deveria ser o oásis no deserto de materialismo que se experimenta em nossos tempos se encontra muitas vezes devastado pelo pensamento mundano. Poucas vezes as palavras do profeta foram tão apropriadas: “Se eu saio para os campos, eis os mortos à espada; se eu entro na cidade, eis as vítimas da fome!" [1].

Evidentemente, está a se falar de uma crise de fundo espiritual. O homem contemporâneo é o anômalo que o Papa Pio XII descrevia como “gigante do mundo físico", mas “pigmeu do mundo sobrenatural e eterno" [2].

Várias imagens podem ser usadas para compor esta personagem estranha que é o homem do século XXI. Em outros tempos, por exemplo, era comum o fenômeno das “conversões tardias": pessoas que, após viver muito tempo afastadas de Deus e da Igreja, vendo a passagem dos anos e a proximidade da morte, caíam em si mesmas, tomavam fôlego e procuravam o caminho do Céu. Hoje, experimenta-se a triste realidade das “obstinações tardias": pessoas que, depois de viverem dissolutamente a vida inteira, recobram ânimo no fim da vida... para ofender ainda mais a Deus, dissipando os seus últimos dias no lamaçal do pecado e usando os seus fios de cabelo brancos para aconselhar os outros a fazer o mesmo – bem ao estilo “comamos e bebamos, porque amanhã morreremos" [3].

No outro extremo da pirâmide etária, o quadro também não é muito alentador. O demônio aprendeu muito bem com Platão que “o começo, em todas as coisas, é sempre o mais importante, mormente para os jovens", já que “é sobretudo nessa época que os modelamos e que eles recebem a marca que pretendemos imprimir-lhes" [4]; por isso, destrói a família e aquilo que deveria ser a educação das crianças torna-se a razão de sua queda. Não é raro assistir, por exemplo, até mesmo em programas de televisão, a crianças cantando e dançando músicas indecentes.

Mas, os exemplos se multiplicam. Em um projeto chamado de “genial" por um site jornalístico, uma norte-americana criou um acampamento em que colocava meninos – de 5 a 12 anos – vestidos como meninas e vice-versa. O objetivo era “ajudar famílias e escolas a entenderem mais sobre o assunto relacionado ao universo LGBT". A iniciativa – mais uma das que integram a malfadada “ideologia de gênero" – “gerou uma série de fotos, que por sua vez se tornarão um livro" [5].

Menino desfila vestido de menina. A imagem faz parte de um álbum só para retratar "crianças que não se conformam com o próprio gênero".

O que dizer de uma época em que fotos como essas, com crianças sendo tratadas como cobaias de uma experiência ideológica, são apreciadas a ponto de produzirem um livro? Na ânsia de “agigantar-se" física e materialmente, o homem tem prescindido de sua dimensão espiritual e, como consequência, tem descido mais baixo que a própria natureza.

Investigar as causas da rápida e progressiva degeneração de nosso século é menos urgente que indicar os remédios para a sua salvação. Estes, na verdade, se resumem a um: a graça de Deus. Qualquer esforço humano, sem o auxílio sobrenatural, será em vão. Para isso, é preciso que recuperemos duas coisas sobre as quais pouco se fala ultimamente: oração e penitência.

Essas duas palavras, tão comuns no vocabulário dos antigos, designam, com efeito, as duas armas com as quais a Igreja, desde o começo e em todo o tempo, santifica os seus membros. Por meio da oração, pedem-se a Deus as graças necessárias para amá-Lo; pela mortificação, os nossos corações se alargam para amar mais perfeitamente a Ele.

Se são muitos os males que pesam sobre nossas cabeças, é porque são poucas as bocas que repetem e menos ainda as almas que se conformam às verdades eternas. Que sejamos santos: eis o grande desafio de toda a nossa existência.

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