A virgindade virou peça de museu. Ao menos, é o que dizem certas vozes da mídia, em nome de um suposto progresso humano e social. Esses dias mesmo, em um badalado programa de TV, os apresentadores discutiam com seus convidados como a sociedade teria "evoluído" desde a época em que se acreditava que toda pessoa deveria ser virgem antes do casamento. É verdade que, numa época dominada pela influência da revolução sexual e do dinheiro, falar de castidade soa antiquado. Infelizmente, o número de casais de namorados sexualmente ativos é muito grande. Mas isso em nada justifica a relação absurda que se costuma fazer entre liberdade sexual e progresso. Essa mudança de comportamento tem outras raízes.

A Igreja celebra nestes dias a memória litúrgica de uma grande mártir, cujo heroísmo na luta para preservar a própria pureza serve de exemplo para nossos dias, tão marcados pelo hedonismo. Maria Goretti era uma simples camponesa italiana, filha de pais pobres e a terceira de seis filhos. Desde cedo, graças ao exemplo de sua família, mostrou-se piedosa e dedicada à religião. Com apenas 11 anos de idade, teve de enfrentar a fúria do homem escravo do pecado. Alessandro Serenelli, à época, com 20 anos, aproveitando-se de uma ocasião em que Maria se achava sozinha em sua casa, quis forçar a menina a ter relações sexuais com ele. Maria recusou-se, obviamente, e disse ao rapaz: "Não! É um pecado! Deus não gosta disso". Ao perceber que nada conseguiria da pequena santa, Alessandro Serenelli golpeou-a 11 vezes com uma adaga.

Maria Goretti chegou a ser socorrida e ir para o hospital, mas não resistiu aos ferimentos. Antes de falecer, porém, perdoou seu assassino, dizendo que gostaria de vê-lo no céu. Alessandro Serenelli foi condenado a 30 anos de prisão. Arrependido, pediu perdão aos pais da vítima, após ter sonhado com a santa. Em 24 de junho de 1950, na presença dos familiares e, mais surpreendente ainda, de Alessandro Serenelli, Pio XII canonizou a humilde mártir, chamando-a de a "Santa Inês do século XX", por causa da semelhança entre o martírio das duas. Ambas deram a vida pela castidade. Entre tantas palavras comovedoras, o Papa exortou o orbe católico a "não ceder ante a sedução do vício, mas antes a combater com alegria (...) para alcançar aquela perfeição cristã de bons costumes, que todos podemos atingir com a força de vontade, ajudada com a graça divina" [1].

É claro que um crime hediondo como esse, do qual Santa Maria Goretti foi vítima, é capaz de horrorizar qualquer pessoa, seja cristã ou não. Basta pensar na comoção nacional, gerada recentemente pelo estupro coletivo ocorrido no Piauí, para afastar qualquer dúvida. O estupro não é simplesmente um atentado contra algum preceito religioso. É um atentado contra a dignidade do ser humano. E é isso o que o torna tão odioso aos olhos da humanidade. Ocorre, no entanto, que o poder de uma boa propaganda, sob a força de sofisticados mecanismos de manipulação, pode tornar até mesmo o estupro uma coisa atraente. Falamos aqui há poucos meses da "cultura do estupro", que vem se desenvolvendo ano após ano, sobretudo entre a juventude, graças a filmes como Cinquenta tons de cinza e outros congêneres igualmente bizarros. É exatamente essa cultura — orgulhosa pela inversão de valores que há anos promove no seio da sociedade — a responsável por tornar a virgindade um tabu e a liberdade sexual uma conquista.

O cinema, a televisão, os jornais e tantos outros meios de comunicação — embora sejam, de maneira geral, extremamente úteis, como já reconheceu a Igreja em inúmeras oportunidades — têm prestado um enorme desserviço à população, a pretexto de um novo padrão de comportamento [2]. Notem: Quais personagens de filmes, novelas ou séries, hoje em dia, promovem, com suas atitudes, aquelas virtudes necessárias ao bem comum? É difícil dizer. Praticamente todos fundamentam suas vidas em projetos de vingança, golpes, traições e divertimento sexual. Não há mais uma linha clara entre o bem e o mal. Ao contrário, há apenas uma parte do jogo: o mal. Por outro lado, personagens ligados a virtudes como castidade, bondade e pureza são caracterizados de maneira ridícula e boba, no intuito de nutrir o desprezo do público por esses ideais. Assim funciona. Aquilo que habitualmente se chamava de "sétima arte", na verdade, não passa de um empenho de engenharia social e busca por dinheiro. A verdadeira arte, com raras exceções, passa bem longe — algo que há muito tempo já notara o Papa Pio XI [3]:

Enquanto a produção de figuras realmente artísticas, de cenas humanas e ao mesmo tempo virtuosas exige um esforço intelectual, trabalho, habilidade e também uma despesa grande, é relativamente fácil provocar certa categoria de pessoas e de classes sociais com representações que excitam as paixões e despertam os instintos inferiores, latentes no coração humano.

Na mosca! Comparem quanto tempo levou para J.R.R. Tolkien escrever a obra-prima O Senhor dos Anéis e o tempo gasto pela senhora E.L. James para produzir o lixo sadomasoquista sobre Christian Grey. É muito mais fácil seduzir as massas com algumas cenas de nudez e sexo, que motivá-las, por meio de personagens bem construídos, a guardar a castidade, pedir perdão, lutar pelo céu etc. E como tudo tem o seu preço, o resultado é uma sociedade imbecilizada pelo vício, incapaz de reagir com honestidade às contrariedades e provações do cotidiano. Grande parte dos jovens universitários, por exemplo, imagina-se dentro de um daqueles filmes bobocas de colegiais americanos, onde reina o sexo livre e a bebedeira. Poucos se veem em uma instituição de ensino superior. Dão testemunho disso as famosas cervejadas e trotes que, dia sim dia também, costumam sair com algum escândalo nos noticiários do país.

É um engano terrível creditar as mudanças morais das pessoas simplesmente ao espírito do tempo (o Zeitgeist), como se estivéssemos, irreversivelmente, fadados à perversão dos costumes e da lei natural. Não sejamos tolos. Por trás de cada filme, série e notícia, existe uma equipe altamente especializada, capaz de usar os mais variados recursos da comunicação, para induzir o povo à sua pauta. Quem conhece o mínimo de Teoria da comunicação já ouviu falar sobre as técnicas de agendamento de notícias, a fim de produzir uma única consciência coletiva. Noticia-se somente aquilo que convém ao grupo no poder. Percebam: toda essa campanha em torno da causa gay, diga-se de passagem, está alicerçada em um grande esquema publicitário. Mesmo vozes da imprensa secular já denunciaram essa artimanha. Famílias naturais são apresentadas de maneira problemática, com traições, divórcios e brigas constantes, ao passo que os relacionamentos homossexuais são escritos cuidadosamente para conquistar a opinião pública. Isso a doses homeopáticas, a fim de que a audiência não perceba. Trata-se de um programa de projeção e identificação, como explica o teórico Edgar Morin [4]:

O leitor ou o espectador, ao mesmo tempo em que libera fora dele virtualidades psíquicas, fixando-as sobre os heróis em questão, identifica-se com personagens que, no entanto, lhe são estranhas, e se sente vivendo experiências que contudo não pratica.

Não vamos insistir aqui em boicotes a determinados filmes, marcas ou canais de televisão. Sejamos francos. O problema já se tornou tão grave que levantar cruzadas santas seria flertar com o ridículo. O que defendemos — e com muita esperança — é o apostolado pessoal, em que cada cristão, por meio de seu testemunho — ora por atos, ora por palavras —, desperte a consciência das pessoas à sua volta para a verdadeira vocação do ser humano: a santidade. Isso, sim, é eficaz. O exemplo de um casal de namorados que busca, a cada dia, viver a santidade em seu relacionamento é muito mais convincente que qualquer propaganda. Aos poucos, as pessoas irão perceber a miséria oferecida por esses programas de TV e, como o filho pródigo, voltarão para a casa do Pai. O boicote ocorrerá naturalmente. Mas é preciso o apostolado; um grupo de verdadeiros cristãos que "enfrente e anule o trabalho selvagem daqueles que pensam que o homem é uma besta" [5].

E esse apostolado é missão sua, leitor.

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