Muitos podem ficar surpresos de saber que o Natal costumava ser ilegal na América — tudo graças aos protestantes.

A história começa na Inglaterra, logo depois que o líder Oliver Cromwell subiu ao poder. Após ter derrotado os levantes monarquistas ao longo da Inglaterra, do País de Gales e da Escócia, na Guerra Civil inglesa, e supervisionando o julgamento e a execução do rei Carlos I, Cromwell autoproclamou-se Lorde Protetor do Reino em 1653. Ele governou por breves cinco anos; mas, durante esse tempo, fez o que pôde para acabar com os "papistas", implementando com zelo a sua reforma puritana.

Entre essas reformas estava incluso o banimento das festividades de Natal. Radicais calvinistas escoceses já haviam banido o Natal desde 1560 e, agora, com o rei deposto na vizinha Inglaterra e com o parlamento cheio de simpatizantes do puritanismo, o governo inglês também decidiu fazer o mesmo.

A guerra não era tanto contra o Natal, mas contra o catolicismo; uma das marcas mais características da fé católica é a celebração de dias festivos — dias marcados por celebrações especiais no calendário litúrgico. Solenidades, festas, oitavas — para os puritanos, todas essas coisas não faziam muito sentido, não passavam de celebrações "papistas" sem qualquer fundamento na Escritura. Uma máxima puritana diz: "Aqueles para quem todos os dias são santos não podem ter feriado".

O Natal em particular era especialmente "católico". A estação começava com o dia do Natal, um feriado público, quando lojas e empresas fechavam e os fiéis iam à Missa, seguida por festividades nos próximos doze dias. Em contraste com a penitência do tempo do Advento, o Natal era marcado por comidas e bebidas em grande quantidade, com alimentos especiais como peru, bife, tortas de ameixa e uma cerveja inglesa especialmente preparada. Danças, cantos, brincadeiras e jogos também aconteciam, bem como a troca de presentes.

Eram os ingleses não conformistas — católicos que aderiram obstinadamente à fé de outrora e se recusaram a curvar-se às novidades do anglicanismo imposto pelo Estado — que celebravam o Natal com gosto. Eles eram objetos de um ódio particular pelos puritanos, que exigiam uma observância mais estrita e austera do Dia do Senhor, não apenas no Natal, mas também na Páscoa e em outros dias de guarda. Com a sua sombria teologia, os puritanos também assumiram uma visão negativa da alegria, julgando-a excessiva e pecaminosa.

Em 1640, o Longo Parlamento começou a abolir o Natal. O banimento foi feito oficialmente em 1647, transformando em ofensa punível não só a celebração do Natal, mas também a da Páscoa e a do Domingo de Pentecostes. Danças, jogos e especialmente bebidas estavam proibidas, como também qualquer sinal de celebração especial, e lojas foram obrigadas a permanecer abertas durante o dia do Natal. A ascensão de Cromwell como Lorde Protetor apenas consolidou a lei. A Inglaterra teria de esperar até 1660, com a restauração da monarquia sob o rei Carlos II — que se converteu à fé católica no leito de morte — para o Natal ser restaurado como um feriado.

No Novo Mundo, colônias em Boston seguiram seus companheiros puritanos na Inglaterra, evitando a festa em honra da natividade de Nosso Senhor. Os peregrinos que vieram a bordo do Mayflower, o famoso navio inglês que trouxe os peregrinos para a América, trabalharam no campo durante o dia 25 de dezembro, e a cidade de Boston — um reduto puritano — baniu o Natal de 1659 a 1681.

Aqueles que eram apanhados tirando um tempo para comemorar o Natal eram forçados a pagar uma multa. Embora a festa tenha se tornado legal na Inglaterra em 1660, a Coroa não foi capaz de exercer influência sobre suas colônias americanas neste assunto até 1680, quando celebrações discretas foram outra vez permitidas em Boston.

A hostilidade ao Natal não cessaria inteiramente por séculos, queimando em vilarejos puritanos de colônias na América aqui e ali. Durante a Revolução Americana, o Natal veio a ser frequentemente associado com os simpatizantes da realeza (composta enormemente por anglicanos e católicos de renome). Mesmo depois da ratificação da Constituição dos Estados Unidos, o Senado e a Presidência continuaram a reunir-se no Natal, e até 1850, empresas e escolas na Nova Inglaterra trabalharam durante o dia 25 de dezembro.

Ajudado pelo sucesso de Um conto de Natal, de Charles Dickens, publicado com grande aclamação em 1843, e em cuja história se apresenta um feliz conto do feriado, a percepção dos americanos sobre o Natal começou a mudar lentamente. Não seria antes de 1870 que Ulysses S. Grand declararia o Natal um feriado nacional, assegurando a legitimidade da celebração do nascimento de Nosso Senhor em qualquer estado. Desde aquele tempo, o feriado tem sido celebrado por muitos protestantes americanos como o tempo favorito do ano; a antiga hostilidade desapareceu da memória nacional — mas permanece o fato de que, uma vez na história, os antepassados protestantes dessa nação procuraram acabar com o Natal, ações que ultimamente encontram suas fontes em uma animosidade contra a fé católica.

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