Visitar as pessoas enfermas diz respeito a uma verdadeira obra de misericórdia com autêntico espírito cristão, contanto que haja, em primeiro lugar, intenção sobrenatural de agradar a Deus, servindo-Lhe na pessoa dos membros enfermos de Cristo.

Eis aqui, portanto, as principais virtudes cristãs que há de praticar aquele que visita ou cuida dos enfermos, a fim de que sua ação caritativa seja verdadeiramente proveitosa para o enfermo e altamente meritória para si mesmo.

1.º Fé. — Antes de tudo, é necessário o exercício da fé, de modo que o fiel veja no enfermo o próprio Cristo, que sofre em um dos membros de seu Corpo místico. De fato, somente assim o Senhor nos dirá no dia do juízo final: "Vinde, benditos de meu Pai…, porque estive enfermo e me visitastes" (Mt 25, 34-40). Quando somos movidos por qualquer outra razão que não seja esta, desvirtuamos completamente o sentido desta grande obra de misericórdia e a destituímos quase inteiramente de seu imenso valor diante de Deus; pois Cristo não recompensará uma obra na qual em nenhum momento se pensou nEle.

A fé, assim, é o modo de ver fundamental no qual é preciso colocar-se a pessoa que pratica esta ou qualquer outra obra de misericórdia. Isso não quer dizer, porém, que não se possa pretender também finalidades humanas com essa visita, como: curar o enfermo, aliviá-lo, consolá-lo, distraí-lo, confortar a família, etc.; mas tudo isso deve estar subordinado à finalidade última e suprema que é atender ao doente como membro enfermo de Cristo, como se se tratasse do próprio Salvador em pessoa.

Por não se ter em conta esse detalhe tão primário e fundamental, quanta moeda falsa, do ponto de vista sobrenatural, e quanta caridade aparente na visita e no cuidado dos enfermos! Por isso, nunca se insistirá o bastante na necessidade de retificar a intenção, ao exercermos qualquer obra de misericórdia corporal ou espiritual. Se não o fazemos, expomo-nos a agir no plano puramente humano e natural, que, embora não seja pecaminoso, carece absolutamente de valor na ordem e plano sobrenatural. Porque não basta, para o mérito sobrenatural, estar na graça e possuir a caridade habitual; é preciso que a caridade influencie ao menos virtualmente o que estamos fazendo.

2.º Caridade. — Compreende-se sem esforço, portanto, que é precisamente a caridade que nos move e impulsiona ao exercício das obras de misericórdia. Mas não nos esqueçamos que a caridade se funda na participação da eterna bem-aventurança, e, por conseguinte, em última análise, a visita e o cuidado do enfermo deve também a ela encaminhar-se. É bom que nos preocupemos pela sua saúde corporal e que empreguemos para consegui-la todos os meios legítimos ao nosso alcance; mas, acima de tudo, devemos procurar sua saúde espiritual, animando-o a aceitar santamente sua enfermidade, vendo nela a expressão da vontade misericordiosa de Deus, e — se o caso o exigir — preparando-o para a digna recepção dos santos sacramentos.

É incrível, a esse respeito, a cegueira de tantas famílias que se chamam cristãs e que, na hora de manifestar o máximo amor e prestar o maior serviço aos entes queridos, salvando-lhes a alma, apodera-se deles com tal veemência o temor de "assustá-los", que não vacilam em deixá-los morrer sem receber os santos sacramentos, que talvez lhes eram absolutamente necessários para sua salvação eterna. Trata-se de um crime monstruoso que não ficará sem grande castigo da parte de Deus, neste mundo ou no outro; crime ao qual não servirá de desculpa o carinho mal-entendido que se sentia por aquele familiar, a quem não se vacilou em sepultar para sempre no inferno, ao invés de dar-lhe um pequeno susto que lhe teria aberto as portas do céu por toda a eternidade.

3.º Paciência e abnegação. — Os enfermos costumam pensar muito em si mesmos e ser bem exigentes, não se dando conta, muitas vezes, das grandes dificuldades que ocasionam aos que lhes rodeiam. É preciso armar-se, por isso, de paciência e de uma abnegação a toda prova, a fim de atender-lhes com sorriso nos lábios, sem dar a entender o sofrimento que nos causam. O trabalho da enfermeira ou da irmã de caridade desempenhado com suavidade e doçura, sem se impacientar jamais pelas mil impertinências e caprichos dos enfermos, supõe um domínio completo de si mesmo e uma abnegação heroica, que Deus saberá premiar com largueza na hora das recompensas eternas.

4.º Prudência e delicadeza. — Além disso, no trato com os enfermos, prudência e delicadeza são requeridas em grau superlativo. Na ordem material, deve-se procurar, por um lado, cumprir exatamente as prescrições médicas — algumas das quais são incômodas e penosas para o enfermo, que, por isso mesmo, quererá recusá-las —, sem que, por outro lado, se agite ou turbe o ânimo do paciente. Na ordem espiritual e religiosa, deve-se evitar com todo cuidado dar ao enfermo notícias que possam desgostá-lo ou afligi-lo — exceto, naturalmente, quando se-lhe deve falar dos últimos sacramentos — ou que despertem em sua alma sentimentos de rancor, inveja, impaciência e outras coisas semelhantes. Deve-se, por isso, criar para ele um clima de paz, serenidade, otimismo, confiança em Deus e plena aceitação, gozosa e alegre, de sua Divina Vontade, que nunca permite o mal senão para tirar maiores bens.


Do livro Teologia de la Caridad, do Pe. Antonio Royo Marín, Madrid: BAC, 1960, p. 426s.

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