Há um recorrente mal entendido, no que diz respeito à vida matrimonial, que faz muitas pessoas dissociarem o casamento da vida de comunhão e intimidade com Cristo. O cuidado da casa, a necessidade de prover a própria família, os constantes afazeres e sobrecargas do dia a dia, podem facilmente conduzir homens e mulheres a uma "válvula de escape" perigosa: o pensamento de que as coisas de Deus não dizem respeito a quem vive e trabalha no mundo. "Rezar é coisa para padres e freiras, não para mim", alguém seria tentado a dizer.

Em outubro do ano passado, porém, o Papa Francisco realizou um ato significativamente importante, ao canonizar São Luís e Santa Zélia Martin, um casal que viveu em santo matrimônio na França do século XIX. Luís e Zélia são os pais de ninguém menos que Santa Teresinha do Menino Jesus. Juntos, eles viveram em plenitude a vontade de Deus, educando na fé as suas cinco filhas e trabalhando dia após dia pelo seu sustento físico e espiritual. Ao decretar a santidade desses dois, a Igreja confirmou mais uma vez aquilo que sempre ensinou — e que repetiu com particular insistência no Concílio Vaticano II: todas as pessoas, sem exceção, são chamadas à santidade [1].

Não é muito moderno, na verdade, o engano de separar "casamento" e "santidade". São João Crisóstomo, ainda no século IV, já repreendia — com a sua afiada eloquência — as ovelhas de seu rebanho que achavam impossível seguir a Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, cuidar de uma família:

"Não te proíbo de te casares nem me oponho a que te divirtas. Só quero que o faças com temperança, não com impudor, com culpas e pecados sem conta. Não imponho como lei que vades aos montes e aos desertos, mas que sejais bons, modestos e castos, mesmo vivendo no meio das cidades. Para dizer a verdade, temos em comum com os monges todas as leis divinas, com exceção do matrimônio [...]. Permanece na tua casa com a tua mulher e os teus filhos, mas não ultrajes essa mesma mulher, não desonres os teus próprios filhos, não metas na tua casa a peste dos teatros." [2]

"Onde estão agora os que dizem não ser possível a quem mora na cidade conservar a virtude, mas é necessário retirar-se à solidão e viver nos montes? Como se não fosse possível ser virtuoso quem governa uma casa e tem mulher e cuida dos filhos!" [3]

Com esses termos, o "boca de ouro" não queria negar a excelência da vida celibatária na Igreja. Ele tinha consciência da virgindade de Jesus e Maria, sabia do conselho do Apóstolo (cf. 1 Cor 7, 38: "Aquele que se casa com sua amada está agindo bem, e aquele que não casa estará agindo melhor"), conhecia, enfim, a excelência do estado religioso. Acontece que a beleza da vida contemplativa nunca significou uma proibição ou um menosprezo da vocação matrimonial. Fosse assim, Nosso Senhor não teria abençoado as bodas de Caná da Galileia (cf. Jo 2, 1-11), nem alçado o matrimônio à dignidade de sacramento.

Heresias de matriz gnóstica, contudo, desde o início tentaram espalhar uma ideia pervertida sobre o matrimônio, como se o simples fato de as pessoas se darem em casamento constituísse um pecado. É verdade que, hoje em dia, é mais frequente ouvir o erro oposto — ou seja, que "toda forma de amor vale a pena" —, mas, para quem já foi ao extremo liberal, não é muito difícil transitar para o extremo do rigor. Há quem, tendo deixado as obras da carne, talvez passe a rejeitar a própria carne; quem, tendo vivido o sexo desregrado, comece a achar que o sexo per se é um problema; quem, tendo experimentado um casamento conturbado, sinta arrepios só de ouvir tocar a marcha nupcial.

Isso seria, porém, como diz a expressão popular, "jogar fora a água do balde com o bebê dentro". A Igreja, repetindo a límpida e inequívoca mensagem de São Paulo (cf. 1 Cor 7), condenou várias vezes os inimigos do casamento cristão [4] e confirmou que, além das virgens e dos continentes, "também as pessoas casadas que procuram agradar a Deus com reta fé e vida honesta merecem chegar à eterna beatitude" [5].

Na moral cristã, o ato sexual sempre foi visto como algo sagrado e, justamente por isso — não porque seria uma coisa suja ou vergonhosa —, deveria ser vivido dentro de uma aliança igualmente sagrada, que é o matrimônio. Através dele, na verdade, os seres humanos não somente refreiam e moderam os instintos da sua carne, como participam do poder criador de Deus, gerando novas vidas — e, dentro da perspectiva cristã sobrenatural, novas almas para o Céu.

É este, aliás, o motivo que faz São Paulo comparar a união conjugal ao amor de Cristo por Sua Igreja (cf. Ef 5, 21-33): assim como Nosso Senhor dá vida e alimento aos Seus discípulos com a Palavra e os Sacramentos, os pais são chamados a fazer a mesma coisa com os seus filhos, não só no sentido físico, mas principalmente no sentido espiritual, gerando-os com a pregação da Palavra de Deus e alimentando-os com o exemplo das virtudes. Nisso consiste o chamado fim primário do matrimônio cristão; todos os outros — auxílio mútuo, patrimônio em comum — são secundários e subordinados a esse [6]. A razão é muito simples: a glória dos filhos santos no Céu durará por toda a eternidade; as casas, automóveis e prazeres deste mundo, todos passarão.

A inversão de valores que vive o homem moderno, principalmente depois do advento da pílula anticoncepcional, é, de fato, a grande responsável pela cegueira generalizada que impede os casais de enxergarem em seu casamento um caminho de santidade. O matrimônio, para muitas pessoas dentro da própria Igreja, se transformou num simples concubinato, pelo qual cada um é livre para satisfazer os seus próprios desejos e egoísmos, sem pensar nem em renúncias, nem em filhos, nem na vida eterna. A expressão dura não é nossa, mas de Santo Agostinho:

"Aqueles que se unem para impedir a propagação da prole com propósitos ou obras más, ainda que sejam chamados de cônjuges, não o são nem guardam qualquer coisa do verdadeiro matrimônio, mas alargam esse nome honesto para velar as suas torpezas. Demonstram-no quando chegam ao ponto de abandonar os filhos que nasceram contra a sua vontade, ou quando se recusam a alimentar e ter consigo os que temiam trazer a este mundo. Assim, quando se enfurecem com os filhos gerados contra a sua vontade, põem às claras toda a sua iniquidade e tornam manifestas as suas torpezas ocultas. Algumas vezes essa crueldade impura ou impureza cruel chega ao ponto de recorrer aos venenos da esterilidade, e, se com eles nada consegue, procura extinguir de algum modo no ventre materno o fruto concebido e livrar-se dele, preferindo que a prole morra antes de viver ou, se já vivia no ventre, seja morta antes de nascer. Sem dúvida, se ambos assim são, não são cônjuges. E, se se uniram desde o início com essa intenção, não celebraram um casamento, mas um concubinato. Se, no entanto, só um deles assim for, ouso dizer que ou ela é de algum modo meretriz do marido ou ele, adúltero da mulher." [7]

É claro que tal projeto de vida é totalmente alheio à própria vida cristã e não impressiona que pessoas dentro de um contexto como esse realmente se desesperem e até sintam certa repulsa do casamento. Trata-se de um projeto cômodo demais para ser levado minimamente a sério, esse de viver tão somente para satisfazer a própria luxúria. Foi por causa disso que morreram os sete primeiros maridos de Sara (cf. Tb 3, 7-10) e é por esse mesmo motivo que os relacionamentos de hoje fracassam inevitavelmente: estão construídos sobre a areia do egoísmo, do dinheiro e dos prazeres. Um casamento assim realmente jamais levará a lugar algum, a não ser o inferno.

Ao contrário, o casal que quer verdadeiramente se santificar precisa se lembrar que não é deste mundo. Ele está no mundo, mas a sua morada definitiva é outra. O segredo consiste em viver esta vida com os olhos fixos na eternidade, em pisar esta terra esperando ansiosamente por colocar os pés no Reino de Deus. Tendo isso em mente, tudo à nossa volta ganha um significado novo: o lar se transforma em Igreja doméstica; o cônjuge se converte em imagem do próprio Cristo (sim, ele mesmo!); os filhos são as almas que Deus nos confiou para habitar o Céu; enfim, a família se transforma em semente da própria vida eterna.

Para quem acha esse um ideal muito distante da realidade, olhe para a família de Santa Teresinha do Menino Jesus, para os seus pais, canonizados há pouco pelo Papa Francisco; ou para o casal Luís e Maria Beltrame Quattrocchi, beatificados em 2001 por São João Paulo II; ou para Santa Gianna Beretta Molla, a médica e mãe de família canonizada em 2004; ou para tantos pais e mães de família que, ao longo da história da Igreja, atingiram a perfeição propriam viam sequentes, isto é, seguindo o caminho que lhes é próprio... Todos eles, é certo, não viveram um mar de rosas, mas a vida cristã tem os seus espinhos para todos, porque foi a todos que Cristo fez o apelo da cruz: "Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz, cada dia, e siga-me" (Lc 9, 23).

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