Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 13, 10-17)
Naquele tempo, os discípulos aproximaram-se e disseram a Jesus: "Por que tu falas ao povo em parábolas?" Jesus respondeu: "Porque a vós foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não é dado. Pois à pessoa que tem, será dado ainda mais, e terá em abundância; à pessoa que não tem, será tirado até o pouco que tem. É por isso que eu lhes falo em parábolas: porque olhando, eles não veem, e ouvindo, eles não escutam, nem compreendem. Deste modo se cumpre neles a profecia de Isaías: 'Havereis de ouvir, sem nada entender. Havereis de olhar, sem nada ver. Porque o coração deste povo se tornou insensível. Eles ouviram com má vontade e fecharam seus olhos, para não ver com os olhos nem ouvir com os ouvidos, nem compreender com o coração, de modo que se convertam e eu os cure'. Felizes sois vós, porque vossos olhos veem e vossos ouvidos ouvem. Em verdade vos digo, muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não viram, desejaram ouvir o que ouvis, e não ouviram".
O Evangelho que a Liturgia propõe hoje à reflexão dos fiéis nos coloca diante do mistério da dureza de coração. Com efeito, ao ser interpelado pelos discípulos a respeito de suas parábolas, Jesus faz questão de mencionar uma antiga profecia segundo a qual o povo de Israel se tornaria tão insensível a Deus que, ainda que O escutasse, nada entenderia; ainda que tivesse olhos para ver, nada enxergaria. Estas palavras nos remetem como que espontaneamente àquele episódio do Êxodo em que Deus diz a Moisés: "Eu endurecerei o coração do faraó" (Ex 14, 4). No entanto, será mesmo possível atribuir ao Senhor uma ação à primeira vista tão "maldosa" e "cruel"? Acaso poderia Deus ser causa de um mal que Ele próprio repreende e condena, a saber: a incredulidade?
Para bem compreendermos estes trechos, precisamos ter em vista o seguinte ensinamento do Evangelho: "À pessoa que tem, será dado ainda mais, e terá em abundância; à pessoa que não tem, será tirado até o pouco que tem", ou seja: a quem tem fé e se esforça por levar um vida em conformidade com os Mandamentos da lei divina, o contato com a Palavra de Deus é sempre proveitoso; mas aquele que obstinadamente se fecha à graça por culpa própria se torna tanto mais duro de coração, surdo e cego quanto mais instantes e clamorosos são os apelos e sinais de Deus: "Eles ouviram com má vontade e fecharam seus olhos", diz o profeta Isaías, "para não ver com os olhos nem ouvir com os ouvidos, nem compreender com o coração, de modo que se convertam e eu os cure".
Por isso, para que o nosso contato com a Palavra de Deus seja efetivamente salutar, precisamos, de fato, ter fé sobrenatural. Ora, para que o nosso coração assim se abra ao Senhor, são-nos necessárias quatro coisas. Em primeiro lugar, um vivo desejo da verdade e dos bens verdadeiros; em segundo, um perseverante interesse em buscar sempre tudo quanto diz respeito a Deus e à divina sabedoria; em terceiro lugar, um amor cada vez mais ardente por este Senhor amável e amoroso que nos vai revelando os seus mistérios, que nos vai abrindo os seus tesouros; por fim, a própria fé, sem a qual não é possível nem agradá-lO nem crer como convém à salvação (cf. SantoTomás de Aquino, Super Matt., c. 13, l. 1). Peçamos, pois, à Maria Santíssima que prepare o nosso coração e o faça sempre dócil e submisso às verdades da fé, além de fiel aos Mandamentos de Nosso Senhor.
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