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Christo Nihil Præponere"A nada dar mais valor do que a Cristo"
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Texto do episódio
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São Josafá foi um bispo ucraniano que derramou o próprio sangue para manter-se fiel ao papado. No aniversário de 300 anos de seu martírio, em 1923, o Papa Pio XI publicou uma encíclica chamada Ecclesiam Dei, com a qual não só enaltecia o belo testemunho do santo, mas convidava nossos irmãos ortodoxos a voltar para as fileiras da Santa Igreja Católica. As lições dessa encíclica são bastante oportunas e, ainda hoje, valem para a nossa meditação, sobretudo no quadro atual de confusão dentro e fora da Igreja.

A Igreja no Oriente rompeu com a Igreja Católica em 1054. Esse cisma acabou gerando muitos conflitos, inclusive bélicos, que recrudesceram ainda mais o clima de desconfiança e agitação entre os dois lados. Neste sentido, o Papa Pio XI fez a seguinte afirmação na encíclica Ecclesiam Dei: “Como é necessário que os orientais dissidentes, esquecendo velhos preconceitos, procurem conhecer a verdadeira vida da Igreja, sem querer imputar à Igreja Romana a culpa de pessoas particulares”. O Papa mostrava, assim, que a Igreja não pode ser confundida com as escolhas privadas de alguns de seus membros, mas é a sua união com Roma, ou seja, com o Papa, a pedra de toque da sua autenticidade, de maneira que um bom cristão deve, portanto, estar bem unido ao Sucessor de Pedro, malgrado as dificuldades da pessoa que exerce esse ministério.

É erro bastante comum na argumentação de alguns cristãos acusar a Igreja dos crimes de seus filhos para não precisarem abraçá-la como Mãe e Mestra. Por isso, precisamos entender bem o que significa o papado e por que devemos nos manter unidos à Santa Igreja Católica.

A Igreja é uma instituição divina, cujo fundamento é a pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. De fato, ela é o Corpo Místico de Cristo. Há dois mil anos, essa mesma Igreja permanece íntegra como Igreja Católica, unida e governada pelo legítimo sucessor de Pedro, o Papa. Com sua doutrina e liturgia, essa Igreja tem gerado filhos para Deus e povoado o Céu com inúmeras almas piedosas, ao passo que, na terra, lutam os seus demais filhos como Igreja militante. Essa é a fé católica pela qual, se preciso for, devemos derramar o nosso sangue.

O papel do Papa na Igreja é o de garantir a unidade dos fiéis, confirmando-os na fé de dois mil anos. Um verdadeiro Papa não pode tirar novas doutrinas da sua mitra, como se fosse um mágico. Nestes termos, um bom católico acolhe todos os Papas, ainda que possa sentir mais simpatia por um do que por outro. Todavia, a sua fidelidade deve ser a mesma para os 266 sucessores de Pedro. Um católico nunca pode cair no conto da mídia de adotar Papas de estimação: esse eu aceito, aquele não. Isso não é católico. A fé deve ser no papado inteiro porque essa instituição foi querida pelo próprio Senhor ao entregar as chaves do Céu para Pedro, conferindo-lhe o carisma da infalibilidade para ensinar ex cathedra os dogmas da doutrina católica.

Infalibilidade, no entanto, não significa impecabilidade. Os Papas são homens maculados pelo pecado e, por isso, cheios de fraquezas. Na história da Igreja, houve muitos Pontífices dignos de pena. Libério, por exemplo, tremeu diante do poder político de sua época e, mais por coação que convicção, assinou um documento aparentemente herético. Paulo III, o Papa que convocou o Concílio de Trento, teve alguns filhos no tempo em que era cardeal. Esses filhos se casaram e lhe deram netos, os quais protegia e presenteava com cargos eclesiásticos, donde o termo nepotismo. Acusa-se ainda o Papa Leão X de homossexualismo. Todas essas acusações são gravíssimas, mas em nada diminuem o mistério do papado e a faculdade de ensinar as verdades salvíficas. O Concílio de Trento, assim como os demais decretos pontifícios, valem perfeitamente. A fé católica não depende do caráter de quem a ensina, mas das suas notas cristãs: “quod ubique, quod semper, quod ab omnibus”. Em outras palavras, é a fé de todos os lugares, professada desde sempre e por todos os fiéis.

Houve períodos conturbados em que o número de fiéis ficou bem reduzido. A crise ariana, por exemplo, praticamente dizimou os católicos, restando apenas alguns poucos bispos, padres e leigos fiéis. Diante desse quadro, os católicos não buscaram firmeza em apenas um documento ou formulação complicada, mas no conjunto dos Papas, na Tradição da fé católica de sempre, que iluminava o que estava confuso. Trata-se de firmar-se naquela experiência de fé de São Pedro que, diante da pergunta de Jesus sobre quem Ele era, declarou: “Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo” (Mt 16, 16).

Essa mesma experiência pode ser feita por cada cristão na sua vida interior, contemplando as verdades da fé católica. Desse modo, vamos adquirindo aquela disposição dos mártires para morrer pela verdade, além de participarmos da felicidade de Pedro, a felicidade de estar na verdadeira fé: “Feliz és tu, Simão” (Mt 16, 17). Foi essa felicidade que motivou São Josafá a morrer mártir pela unidade dos cristãos. Na verdade, ele se alegrou diante da notícia de que lhe haviam preparado uma emboscada, porque não existe maior glória do que poder seguir o caminho de Cristo na cruz. Depois de morto, tentaram esconder o seu corpo, jogando-o dentro de um rio. Mas uma luz saía do fundo das águas, e indicava a presença de Cristo no seu coração. Hoje o seu corpo está sepultado na Basílica de São Pedro.

Que a sua intercessão e exemplo nos mantenham firmes na fé e na unidade com Roma.

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