Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 16, 23b-28)
Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos: “Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes ao Pai alguma coisa em meu nome, ele vo-la dará. Até agora nada pedistes em meu nome; pedi, e recebereis; para que a vossa alegria seja completa.
Disse-vos estas coisas em linguagem figurativa. Vem a hora em que não vos falarei mais em figuras, mas claramente vos falarei do Pai. Naquele dia pedireis em meu nome, e não vos digo que vou pedir ao Pai por vós, pois o próprio Pai vos ama, porque vós me amastes e acreditastes que eu vim da parte de Deus. Eu saí do Pai e vim ao mundo; e novamente parto do mundo e vou para o Pai”.
No Evangelho de hoje, Jesus nos fala da necessidade de nossa oração e de nossos pedidos. Entretanto, no texto original, em grego, o autor faz uma espécie de trocadilho com o sentido das palavras, de modo que fica difícil penetrarmos naquilo que ele está dizendo. Isso porque a palavra “pedir”, no grego, significa também “perguntar”.
Os Apóstolos estão fazendo muitas perguntas a Cristo, porque Ele, de repente, está falando de uma forma enigmática. No entanto, eles ainda não compreendem bem os ensinamentos de Jesus, porque não receberam ainda o Espírito Santo.
Portanto, esse Evangelho pode ser lido em dois planos diferentes: em um sentido de intercessão e em um sentido de interrogação. Devemos ter em mente que, ao mesmo tempo que precisamos interceder a Deus, também sabemos que, quando estivermos realmente na fé, iluminados pelo Cristo Ressuscitado, todos os nossos questionamentos desaparecerão.
Interpretando a passagem da samaritana no poço de Sicar com Jesus, que diz: “Se conhecesses o dom de Deus, e quem é aquele que te pede de beber, tu mesma pedirias a Ele água viva” (Jo 4, 10), Santo Tomás nos lembra que, para a verdadeira justificação do adulto, é necessário pedir. Ou seja, precisamos fazer um pedido para progredirmos na vida espiritual e entrar na vida divina.
A Primeira Carta de São João, no capítulo 2, atesta claramente que Jesus é o nosso misericordioso intercessor diante de Deus. Contudo, no Evangelho de hoje, estranhamente Cristo diz: “não vos digo que vou pedir ao Pai por vós” (Jo 6, 26).
Santo Agostinho e São João Crisóstomo tentam dar uma explicação a essa passagem. De acordo com Santo Agostinho, Jesus está tentando salientar que Ele é Deus e, por isso, devemos olhar para Ele não somente como o Intercessor, mas também como o Deus que atende às nossas orações.
Já São João Crisóstomo recorda um outro aspecto: embora Jesus, nosso eterno e mais potente Intercessor, esteja sempre diante do Pai rezando por nós, sua oração só terá eficácia em nós se pedirmos. Afinal, se as portas de nossa alma estão fechadas e se a nossa liberdade não se abre para a graça de Deus, Ele não irá agir em nosso coração.
Peçamos, pois, que Deus nos dê a graça de deixarmos ecoar seus ensinamentos dentro de nós, adquirindo cada vez mais fé nele, a fim de chegarmos um dia à felicidade eterna no Céu.
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