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Texto do episódio
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A SOLIDÃO DA VIRGEM MARIA [1]. — Ponto 1. — Sepultado o corpo de Cristo, afastou-se Maria do túmulo acompanhada de Nicodemos e José de Arimatéia. No caminho de volta, ao rever a cruz, adorou-a profundamente, como instrumento em que se cumprira a redenção outrora começada em seu útero, e como trono em que se sentara, já adulto, o Menino que ela tantas vezes pegou no colo. Teve entrementes todo o cuidado para que nem ela nem outros pisassem os vestígios do sangue derramado. De volta à casa, agradeceu aos piedosos varões com palavras semelhantes às da Escritura: “Benditos sejais pelo Senhor, por terdes feito esta obra de misericórdia para com o vosso senhor […], sepultando-o” (2Sm 2, 5).

Ponto 2. — Terá a Virgem SS. passado aquela noite em parte a sós, indo em espírito ao limbo e ao sepulcro do Filho, em parte com S. João e os outros Apóstolos, deles ouvindo tudo o que fizera Jesus em sua última ceia, à qual não teve licença para estar presente. “Ela chora pela noite adentro, lágrimas lhe inundam as faces, ninguém mais a consola de quantos a amavam” (Lm 1, 2). Consola Maria, privada de seu Filho, como tantos nesta semana estiveram privados dele. Mas deixa também que Maria te console a ti, pois ela sabe e crê que aquela semente, morta no Calvário e escondida por ora debaixo da terra, dará fruto muito em breve.

Não é improvável que Deus tenha inspirado os Apóstolos a se reunirem onde estava Maria e, entre eles, especialmente Pedro, que, de joelhos, lhe terá pedido perdão pela tríplice negação. Contempla Maria a reunir sob o seu manto todas as almas a que então se reduzia a Igreja, como uma galinha que guarda sob as asas os seus pintainhos, assustados por qualquer perigo. Contempla-a a confirmar os futuros doutores do mundo na fé da ressurreição, porque era necessário crer que, após sua dolorosa Paixão, que Ele tanto havia predito, Cristo havia de ressuscitar dentre os mortos, como igualmente prometera. Nisto, todos terão sentido a perda de um deles, que, tendo traído o Mestre, consumou a própria desgraça com o pecado de desespero. 

Ponto 3. — Madalena e as outras santas mulheres, sentadas à frente do monumento, estiveram observando como se dava sepultura ao corpo de Jesus, enquanto planejavam vir ungi-lo o mais rápido possível, tão-logo acabasse o sábado. Por isso, foram no mesmo dia comprar unguentos, não satisfeitas com as cem libras que já haviam gastado. Piedosos sentimentos, mas fé ainda imperfeita. Assim convém, em todo o caso, considerar tranquilamente, recebida a sagrada Comunhão, como Cristo nos vem visitar, e então correr para preparar os unguentos e cingir os rins para as obras de santo odor, em proveito do Corpo místico de Cristo e para maior glória de Deus.

Referências

  1. Tradução adaptada de Cajetanus a Martorell, Manuale piorum exercitiorum pro sacerdotibus, Monseplii 1845, pp. 324-325.
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