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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 21, 29-33)

Naquele tempo, Jesus contou-lhes uma parábola: “Olhai a figueira e todas as árvores. Quando vedes que elas estão dando brotos, logo sabeis que o verão está perto. Vós também, quando virdes acontecer essas coisas, ficai sabendo que o Reino de Deus está perto. Em verdade, eu vos digo: tudo isso vai acontecer antes que passe esta geração. O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar”.

O Evangelho de hoje, extraído do capítulo 21 de S. Lucas, nos apresenta um versículo que, entre o final do séc. XIX e os primeiros anos do XX, foi pedra de tropeço para vários teólogos protestantes, que nele viram a “prova” definitiva de que Jesus não passaria de um líder religioso mais, pregador de uma doutrina atrativa e fraterna, mas que se teria equivocado em muitas coisas e, por fim, sucumbido ante o poderio militar de Roma. Trata-se do versículo 32, no qual se lê uma profecia que sempre custou aos intérpretes não pouco suor: “Em verdade, eu vos digo: tudo isso vai acontecer antes que passe esta geração”. Jesus se refere nesta passagem aos sinais que precederiam a sua segunda vinda (cf. Lc 21, 27), e a aparente afirmação de que já os seus contemporâneos veriam o Fim dos Tempos levou alguns protestantes liberais, imbuídos daquele historicismo crítico surgido no séc. XVIII, a propor a hoje célebre distinção entre um “Jesus histórico”, equiparável a personalidades como um Buda, um Maomé etc., e um “Jesus da fé”, reconstrução mais ou menos alegórica que teriam inventado os seus seguidores, como forma de contrapesar o fracasso da cruz e o descumprimento de profecias como a enunciada em Lc 21, 32. Essa teoria, no entanto, além de basear-se numa interpretação incorreta do versículo em questão [1], não passa de uma inconfessada apostasia, que nega a partir de uma única dificuldade textual a fé naquilo que Cristo mesmo confirmou em incontáveis ocasiões, a saber: a sua origem e missão divinas. Pense-se, v.gr., na multidão de passagens que nos atestam seus conhecimentos cardiognósticos (cf. Jo 1, 43-50; 16, 18.28; Lc 6, 6-11; 7, 36-50; 9, 46; Mt 12, 25; 16, 7; Jo 2, 24; 13, 27; 16, 30) e telepáticos (cf. Mt 17, 27; Mt 21, 2; Jo 11, 11-5), sem contar as inumeráveis profecias e milagres com que Ele deu provas, suficientes a todo entendimento, da veracidade do seu testemunho: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30). Não nos deixemos enganar por falsas doutrinas que, travestidas de ciência e arrogando-se o direito de falar em nome do “senso crítico”, fecham os olhos às evidências mais clamorosas, por não quererem aceitar senão o que se ajusta aos seus critérios, limitados e, não raro, eivados de preconceitos racionalistas. Cientes de que a nossa fé, se não pode ser demonstrada pela razão, nem por isso a contradiz nem com ela é incompatível, confessemos este santo “exclusivismo” que a Igreja, por fidelidade a Cristo e pelo bem das almas, nunca teve vergonha de professar: há um só Senhor, Jesus Cristo, Deus e homem verdadeiro, Cabeça da Igreja una, santa, católica e apostólica, fora da qual não pode haver salvação.

Referências

  1. S. Jerônimo, v.gr., vê em “esta geração” uma referência a todos os homens, ou seja, a este século, que há de durar até o Fim dos Tempos, de modo que as palavras do Senhor significariam: “Não passará este mundo”, isto é, ele não chegará ao fim, “antes que tudo isso aconteça” (cf. Mt 24, 34). Por outro lado, autores como Orígenes, S. Hilário e S. João Crisóstomo, v.gr., entendem por “geração” o conjunto dos fiéis cristãos, a quem se dirigiria o Senhor na figura dos Apóstolos, em alusão ao Sl 23, 6: “Tal é a geração dos que o procuram, dos que buscam a face do Deus de Jacó”. Nesse sentido, as palavras de Cristo significariam: “Esta geração”, isto é, o cristianismo que vim instaurar, “não passará” nem terá fim, “antes que aconteça tudo isso”, quer dizer, até que, cumprido o número dos eleitos, chegue o Fim dos Tempos. Ambas as leituras são possíveis e, longe de se excluírem, se complementam mutuamente. Cf. Cornélio a Lapide, Commentaria in S. Scripturam. Lugduni, 1839, vol. 8, pp. 447b-448a.
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