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Como ter a paz de Cristo em meio à tribulação?

“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou”, diz-nos o Senhor no Evangelho de hoje; mas, para não nos enganarmos quanto à natureza dessa paz, Ele acrescenta: “não a dou como o mundo a dá”.

Texto do episódio
655

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João 
(Jo 14, 27-31a)

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração. Ouvistes que eu vos disse: ‘Vou, mas voltarei a vós’. Se me amásseis, ficaríeis alegres porque vou para o Pai, pois o Pai é maior do que eu. Disse-vos isto, agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós acrediteis.

Já não falarei muito convosco, pois o chefe deste mundo vem. Ele não tem poder sobre mim, amas, para que o mundo reconheça que eu amo o Pai, eu procedo conforme o Pai me ordenou”.

O Evangelho de hoje inicia com uma frase parecida com a que escutamos durante a liturgia da Santa Missa: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo”.

Essa frase é oportuna para meditarmos sobre a diferença entre a paz de Jesus e a paz do mundo. Para entendermos melhor, usaremos como exemplo nossas duas memórias: a memória carnal, que os animais têm, e a memória espiritual, da alma. Aquela se recorda de sensações e de acontecimentos, e esta se lembra de verdades, algo a que os animais não têm acesso. Se aplicarmos uma injeção em um cachorro, ele sempre enxergará aquilo como um mal, pois só sentirá a dor da agulha e não verá que aquilo lhe fará bem. 

Tanto o conhecimento da verdade como o das sensações ficam guardados em nossa memória. O grande problema é que as pessoas praticamente desativam suas memórias espirituais, esquecendo-se de Deus e das verdades de fé, sobretudo o fato de que Ele nos ama infinitamente a ponto de entregar seu Filho na Cruz para nos salvar.

Já nossa memória carnal está sempre ativada, de modo que a todo momento ficamos nos recordando do nosso sofrimento, da nossa cruz pessoal. Ou seja, nós somos capazes de nos esquecer da Cruz gloriosa de Cristo, que é uma verdade espiritual, mas nos recordamos constantemente da vítima que somos e do peso das nossas angústias. Isso mostra o quanto somos egoístas! 

A memória espiritual é diferente; ela não é uma sensação. A recordação de que Cristo nos amou na Cruz não é algo que sentimos, mas que sabemos. Logo, para termos a paz de Cristo, precisamos ativar a memória dessa verdade. 

A paz do mundo é a paz de não sentir dor nenhuma, completamente diferente da de Cristo. Na paz de Nosso Senhor, temos cruzes, lutas e angústias, mas nós os suportamos para obter um bem maior em nossas vidas. Portanto, quando a memória carnal disser: “Você está sofrendo, você é vítima, você é injustiçado”, devemos ignorá-la e acessar uma outra verdade, que conhecemos por meio da vida de oração, de pregações e meditações: a verdade de que fomos amados com um amor infinito. 

Portanto, precisamos nos recordar da verdade de que Cristo nos ama. Se a tivermos diante de nós constantemente, pedindo a Deus a graça de não a esquecermos, teremos a verdadeira paz no coração, pois saberemos que, apesar das tribulações deste mundo, somos amados por um amor que nunca acabará.

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