Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 5, 38-42)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: "Ouvistes o que foi dito: 'Olho por olho e dente por dente!' Eu, porém, vos digo: Não enfrenteis quem é malvado! Pelo contrário, se alguém te dá um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda! Se alguém quiser abrir um processo para tomar a tua túnica, dá-lhe também o manto! Se alguém te forçar a andar um quilômetro, caminha dois com ele! Dá a quem te pedir e não vires as costas a quem te pede emprestado".
Dando continuidade ao Sermão da Montanha, o Evangelho desta 2.ª-feira nos apresenta o ensinamento de Cristo sobre a lei de Talião: "Olho por olho e dente por dente" (cf. Lv 24, 17-20; Ex 21, 24; Dt 19, 21). Para bem compreendermos essa passagem, é preciso ter em conta, antes de tudo, que a aplicação deste princípio de proporcionalidade estrita entre dano e reparação pertencia ao âmbito da justiça pública, e não ao da vingança privada, prática tão comum entre os povos do Antigo Oriente. Lembremo-nos, em segundo lugar, do que dissera o Senhor: "Não julgueis que vim abolir a Lei e os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição" (Mt 5, 17). Não se deve pensar, portanto, que Cristo tenha anulado o direito de punir as ofensas e injustiças; seria um absurdo, com efeito, imaginar que o Autor quer da natureza quer da sociedade civil revogasse um dos pilares da ordem social.
Por estes motivos e com base no comportamento de Jesus (cf. Jo 18, 22s), é preciso considerar aquelas palavras: "Se alguém te dá um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda" não um preceito, mas um conselho a ser seguido por quem, diante de um prejuízo pessoal que não atinja a terceiros, prefere sofrer pacientemente injúrias e agressões a reivindicar o que por direito lhe pertence. Jesus nos exorta aqui a um cumprimento mais perfeito da Lei, a fim de que, superando o mal com o bem (cf. Rm 12, 21), progridamos naquela perfeição do amor que somos chamados a realizar (cf. Mt 5, 48). Os conselhos deste Evangelho, por conseguinte, não podem entender-se nem como normas penais a serem observadas pela justiça pública nem como regras de conduta para toda e qualquer pessoa ou circunstância (cf. At 22, 2-5). Se queremos, pois, ser perfeitos na caridade, não paguemos a ninguém com o mal; antes, quanto depender de nós, vivamos em paz com todos os homens, confiando a Deus, justo e bom, a punição e a vingança (cf. Rm 12, 17ss).
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