Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 6,27-38)
Naquele tempo, falou Jesus aos seus discípulos: “A vós que me escutais, eu digo: Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam, e rezai por aqueles que vos caluniam. Se alguém te der uma bofetada numa face, oferece também a outra. Se alguém te tomar o manto, deixa-o levar também a túnica.
Dá a quem te pedir e, se alguém tirar o que é teu, não peças que o devolva. O que vós desejais que os outros vos façam, fazei-o também vós a eles. Se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Até os pecadores amam aqueles que os amam.
E se fazeis o bem somente aos que vos fazem o bem, que recompensa tereis? Até os pecadores fazem assim. E se emprestais somente àqueles de quem esperais receber, que recompensa tereis? Até os pecadores emprestam aos pecadores, para receber de volta a mesma quantia.
Ao contrário, amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai sem esperar coisa alguma em troca. Então, a vossa recompensa será grande, e sereis filhos do Altíssimo, porque Deus é bondoso também para com os ingratos e os maus.
Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados. Dai e vos será dado. Uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante será posta no vosso colo; porque com a mesma medida com que medirdes os outros, vós também sereis medidos”.
Com grande alegria, celebramos hoje a Memória de São João Crisóstomo, um desses grandes pastores que teve vida monástica e contemplativa e, por causa dessa grande experiência de intimidade com Deus e com sua Palavra, tornou-se um pastor exemplar.
É interessante notar isso na vida dos santos. Principalmente no início, nos primeiros séculos da Igreja, na época dos Santos Padres, isso é uma realidade muito comum. Lembremos que São João Crisóstomo é contemporâneo de um outro grande monge, um bispo chamado Santo Agostinho de Hipona.
Pois bem, Crisóstomo era um jovem da comunidade cristã de Antioquia, onde os cristãos foram chamados de “cristãos” pela primeira vez. Na Síria, João Crisóstomo estudou na grande escola de sua época. Foi prodigioso como orador e, ainda pagão não batizado, já era famoso por seus discursos, recebendo o apelido de “Boca de Ouro”, “Crisóstomo”.
O jovem foi atraído pela verdade de Cristo, então recebeu o batismo e tornou-se monge, abandonando a carreira e se dedicando à vida monástica e à oração num grupo de monges, ou seja, vivendo em comunidade; mas logo quis ser ainda mais radical: tornou-se eremita, homem de profunda penitência, até que, finalmente, os exageros da juventude fizeram com que João Crisóstomo tivesse de renunciar à vida monástica. Tendo prejudicado a própria saúde, ele voltou para Antioquia e foi ordenado diácono, encarregado da caridade, da catequese e dos catecúmenos.
Mais tarde, embora não se sentisse digno e tivesse feito de tudo para o evitar, foi ordenado sacerdote e, como tal, João Crisóstomo mostrou mais uma vez a sua capacidade oratória. O padre João Crisóstomo salvou a cidade de Antioquia com sua pregação, fazendo com que as pessoas se transformassem interiormente.
Exigência de mudança de vida, ruptura com o mundo e, ao mesmo tempo, fidelidade a Deus e crescimento no amor, eis aí o perfil deste grande sacerdote!
A fama do padre João Crisóstomo não demorou a se espalhar, chegando até a capital, Constantinopla. João Crisóstomo, que tivera dificuldade em aceitar ser ordenado padre, enfim foi eleito bispo de Constantinopla, a capital onde morava o imperador Acádio.
Pois bem, para o persuadir a se deixar ordenar bispo, arquitetaram um plano: Crisóstomo foi raptado; quando chegou a Constantinopla, foi sagrado bispo e assim começou o seu ministério e, ao mesmo tempo, o seu martírio.
Tratava-se de uma cidade imperial, portanto cheia de vaidades. João Crisóstomo não poupou os poderosos, os influentes, os ricos, os vaidosos, e assim exerceu o ministério incomodando a muitos.
Para detê-lo, conseguiram forjar uma espécie de “concílio”, no qual ele foi condenado e exilado. O povo de Constantinopla, embora ficasse incomodado com a pregação do bispo, exigiu que ele permanecesse; mas, pela segunda vez, o pastor foi mais uma vez exilado, vindo a morrer no exílio com menos de 60 anos de idade. João Crisóstomo morreu exilado, perseguido por aqueles a quem entregara a vida na pregação, desafiando-os a ser santos e buscar o Céu.
Exilado, injustiçado, maltratado, João Crisóstomo a todos perdoou e hoje, no céu, é um exemplo fantástico de pastor que se deixou levar pelo amor de Cristo, encontrado na oração. O bom pastor pede às ovelhas que se entreguem ao Amor feito carne, que o fez renunciar a si mesmo.
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