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Christo Nihil Præponere"A nada dar mais valor do que a Cristo"
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Texto do episódio
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O primeiro passo para o progresso espiritual é o da humildade. Sem essa virtude, que Santo Agostinho descreve como os limites dentro dos quais devemos nos manter, é impossível avançar na vida de santidade, pois a soberba é a maior inimiga dos santos.

Um limite bem visível do ser humano é o seu corpo. Trata-se de uma realidade que não pode ser ignorada sem grave prejuízo. Aqueles que, seguindo uma tendência espiritualista, ignoram esse dado, acabam colhendo frutos bem amargos, pois a ética não é uma questão meramente intelectual, como acreditava Sócrates. O ser humano não é um anjo, mas um composto de corpo e alma, o que significa que sua psicologia é a de um ser corpóreo, que sofre influência das paixões e dos apetites.

Para domar os desejos da carne, o homem conta com dois tipos de apoio: o da graça de Deus e o das instituições. O primeiro leva em conta a nossa natureza e atua diretamente sobre a nossa vontade, conformando-a ao querer divino. O segundo age como um lembrete de nossa identidade, mantendo-nos dentro daqueles limites da humildade, sobre os quais falava Santo Agostinho.

Mas o que é uma instituição?

Há um trecho de um filme francês chamado “Paris, Je t'aime” que deve servir de exemplo sobre como funciona uma instituição. Nesse filme, um senhor está decidido a separar-se de sua esposa. Ele está à sua espera em um restaurante e pretende comunicar-lhe a decisão ali mesmo. Enquanto aguarda pela mulher, esse senhor se recorda de todas as manias e defeitos dela: o casaco vermelho que ela gosta de usar; as cantigas que ela canta durante o preparo das refeições; o hábito de nunca pedir sobremesa e terminar sempre comendo a dele… Enfim, coisas que já haviam se tornado insuportáveis. E ele também se lembra de sua amante. Até que finalmente a sua esposa chega e, sentando-se à sua frente, sorri e, logo depois, começa a chorar. Ela estava com câncer em fase terminal.

Imediatamente, o senhor sente como se todo o restaurante houvesse se voltado para ele e dito: “Tem de se comportar à altura da situação”. Ele, então, desiste do divórcio, rompe com a amante e, a partir daquele dia, passa a se comportar como o marido apaixonado que nunca fora. E assim ele se apaixona de verdade por sua esposa e, quando ela morre, não consegue ver uma mulher de casaco vermelho sem sentir uma profunda vertigem.

Assim funcionam as instituições. Elas têm o poder de nos colocar em nosso devido lugar, em nosso devido papel dentro da sociedade: o papel de pai, mãe, padre, bispo, seminaristas, leigo etc. No caso da instituição do matrimônio, foi assumindo a sua identidade de marido que o senhor do filme se tornou um grande marido apaixonado. E assim deve ocorrer com o sacramento da Ordem e outras vocações.

Historicamente, o cristianismo modelou a sociedade e desenvolveu as instituições, esses papéis sociais, como mecanismos de ordem para a segurança das vocações. De algum modo, um bom pai de família era sempre recompensado assim como um mau pai era sempre punido; um bom sacerdote era reconhecido pelos seus fiéis, ao passo que os maus sacerdotes eram repreendidos. Coisas como o divórcio eram vistas com maus olhos por todos. Um homem ou uma mulher deveria ter muita coragem para optar pelo divórcio e enfrentar a opinião pública. No fundo, o objetivo das instituições era não somente salvar casamentos e sacerdócios, mas salvar as almas.

Como dito anteriormente, o ser humano é uma criatura corpórea, com apetites carnais. Os símbolos das instituições servem justamente para controlar esses apetites e proteger o ser humano das possíveis quedas no pecado. A aliança, por exemplo, é um símbolo para ajudar o marido a ser fiel à sua esposa. Um homem que opta por não usar a aliança para confiar nas suas próprias forças, frequentando lugares cheios de mulheres, está se colocando em uma posição de enorme perigo. E o mesmo se diga da batina do sacerdote.

No caso dos padres, é fundamental que ele viva como tal o tempo todo, que assuma a sua identidade em tempo integral. O próprio Padre Paulo Ricardo relata que, no início de seu sacerdócio, ele tinha uma visão um pouco funcionalista da sua vocação. Ele se comportava como padre apenas nas situações oficiais. E assim se colocava em muitas situações de total esquecimento da presença de Deus, situações que poderiam se converter, mais tarde, em ocasiões de pecado, como passar três horas à frente da TV assistindo a um filme de entretenimento. Ainda que não fosse um filme pecaminoso, diz Padre Paulo, esse passatempo o levava para longe de Deus.

Após um exame de consciência, Padre Paulo notou que precisava ser padre o tempo todo, que ser padre não era um peso, mas a sua mais íntima identidade.

As instituições servem, portanto, para nos recordar dessa mais íntima identidade pela qual precisamos nos santificar, como ensinava São Josemaria Escrivá. Quando você cumpre com zelo aquilo que é próprio da sua vocação, você está prestando um culto agradável a Deus. E, desse modo, mesmo os momentos de lazer são vivenciados na presença de Deus e não se convertem em férias da própria vocação.

É verdade que as instituições estão em crise. Em nosso curso sobre “A Igreja e o mundo moderno”, vimos que as instituições primárias (família e Igreja) estão se convertendo em instituições secundárias, isto é, empresas que tornam qualquer pessoa descartável. Nas instituições primárias, o pai sempre será pai, a mãe sempre será mãe, e o filho sempre será filho. A crise das instituições, porém, está criando a ilusão de que esses papéis podem ser substituídos por outros. Hoje, a identidade de uma pessoa se confunde com a sua profissão: ela é um médico, um mecânico, um balconista, coisas que podem se modificar conforme a oferta.

Tudo isso só pode santificar, porém, se for algo vivido como vocação, não como fonte de renda. Por isso é necessário um resgate das instituições, a fim de que voltemos a viver de acordo com nossas vocações, pois é se comportando como um santo que você chegará a ser santo!

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