Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 12, 1-7)
Naquele tempo, milhares de pessoas se reuniram, a ponto de uns pisarem os outros. Jesus começou a falar, primeiro a seus discípulos: “Tomai cuidado com o fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. Não há nada de escondido que não venha a ser revelado, e não há nada de oculto que não venha a ser conhecido.
Portanto, tudo o que tiverdes dito na escuridão, será ouvido à luz do dia; e o que tiverdes pronunciado ao pé do ouvido, no quarto, será proclamado sobre os telhados.
Pois bem, meus amigos, eu vos digo: não tenhais medo daqueles que matam o corpo, não podendo fazer mais do que isto. Vou mostrar-vos a quem deveis temer: temei aquele que, depois de tirar a vida, tem o poder de lançar-vos no inferno.
Sim, eu vos digo, a este temei. Não se vendem cinco pardais por uma pequena quantia? No entanto, nenhum deles é esquecido por Deus. Até mesmo os cabelos de vossa cabeça estão todos contados. Não tenhais medo! Vós valeis mais do que muitos pardais”.
Celebramos hoje a memória de S. Pedro de Alcântara, que, junto com Nossa Senhora Aparecida, ostenta o título de Padroeiro do Brasil. Nascido na província de Cáceres, na Espanha, no fim do século XV, Pedro de Alcântara foi um desses santos extraordinários cuja vida austera e penitente, desafiando a compreensão humana, só pode ser explicada por referência à ação sobrenatural de Deus. Foi por algum tempo diretor espiritual de ninguém menos que S. Teresa d’Ávila, a quem muito estimulou a empreender a reforma do Carmelo. Seu amor à penitência e à Paixão de Cristo esteve associado também a graças místicas e contemplativas especiais, já que a ascese cristã não é mais do que um elemento preparatório para aquela amorosa união que Deus quer estabelecer com cada um de nós.
Ainda que nem todos cheguemos necessariamente às alturas espirituais de um S. Pedro de Alcântara — reservadas muita vez a certas almas eleitas —, a todos cabe trilhar o mesmo caminho de santidade que ele e os outros santos percorreram. O ponto de partida, portanto, é o mesmo para todo e qualquer fiel: “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Pr 9, 10; cf. Sl 110, 10). E é precisamente disto que nos fala o Evangelho de hoje: “Temei aquele que, depois de tirar a vida, tem o poder de lançar-vos no inferno”, diz Nosso Senhor, para logo em seguida reiterar: “Sim, eu vos digo, a este temei”. Este temor não é mero respeito, mas um profundo assombro ante a grandeza e majestade divinas. Deus é infinitamente grande; diante dele, Criador onipotente, somos menos do que nada e devemos, sim, temer que recaiam sobre nós os justíssimos castigos que Ele nos pode inflingir, caso descumpramos a sua bondosa vontade. É por isso que nos exorta o Apóstolo: Cum metu et tremore vestram salutem operamini, “Trabalhai na vossa salvação com temor e tremor” (Fp 2, 2).
O temor de Deus, com efeito, é algo tão constitutivo da nossa vida espiritual que ele permanecerá inclusive no céu: ao vermos a Deus face a face na glória, reconheceremos claramente a excelência e a grandeza daquele a quem servimos na terra. Mesmo a alma de Cristo, santíssima e obedientíssima, temia a Deus, não — é claro — por medo de o ofender, pois o Senhor era impecável, mas por estar submetida total e reverentemente àquele que está acima de toda criatura e que tem o firmamento como escabelo de seus pés. O temor inicial com que começamos a obedecer a Deus por medo aos seus castigos deve, no entanto, converter-se em temor filial, ou seja, em piedosa reverência, que nos impulsiona “a servir a Deus e a cumprir sua divina vontade, fugindo da culpa só por ser esta uma ofensa a Deus, e pelo temor de ser separado dele” (Antonio R. Marín, Teología de la perfección cristiana, n. 353), nosso sumo e único Bem. Ele, se é grande e poderoso, é também amável e compassivo, justo na hora de castigar quem não se corrige, mas rápido para perdoar os que a Ele se voltam com confiança, pois valemos aos seus olhos “mais do que muitos pardais”.
Temamos, sim, “aquele tem o poder de lançar-nos no inferno”, mas que deseja, acima de tudo, arrancar-nos dos nossos pecados e associar-nos ao coro dos seus santos. Que, pelos merecimentos e sufrágios de S. Pedro de Alcântara, o Pai de misericórdias se digne perdoar-nos hoje as nossas culpas e infundir em nossas almas o dom do santo temor. — S. Pedro de Alcântara, Padroeiro do Brasil, intercedei por nós!
O que achou desse conteúdo?