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O Espírito Santo e a contrição perfeita

Pela contrição perfeita, arrependo-me de meus pecados do fundo do coração, não por medo do inferno ou pelo desejo do céu, mas pela razão mais profunda: “Deus é bom, sumamente digno de ser amado, por isso não quero nunca mais voltar a ofendê-lo”.

Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 17, 11b-19)

Naquele tempo, Jesus ergueu os olhos para o céu e rezou, dizendo: “Pai santo, guarda-os em teu nome, o nome que me deste, para que eles sejam um assim como nós somos um. Quando eu estava com eles, guardava-os em teu nome, o nome que me deste. Eu os guardei e nenhum deles se perdeu, a não ser o filho da perdição, para se cumprir a Escritura.

Agora, eu vou para junto de ti, e digo estas coisas, estando ainda no mundo, para que eles tenham em si a minha alegria plenamente realizada. Eu lhes dei a tua palavra, mas o mundo os rejeitou, porque não são do mundo, como eu não sou do mundo. Não te peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno. Eles não são do mundo, como eu não sou do mundo.

Consagra-os na verdade; a tua palavra é verdade. Como tu me enviaste ao mundo, assim também eu os enviei ao mundo. Eu me consagro por eles, a fim de que eles também sejam consagrados na verdade”. 

Continuamos nossa preparação para o dia de Pentecostes. Nessa novena, queremos pedir a Deus a graça do Espírito Santo. Que Ele venha aos nossos corações para que possamos amar a Deus com o amor com que Ele quer ser amado! Hoje, com a graça de Deus, temos um dos grandes frutos de Pentecostes que são os sacramentos. A partir de Pentecostes, inicia-se um tempo maravilhoso, que vai durar até a segunda vinda de Cristo. É o tempo dos sacramentos. No dia de Pentecostes, após Pedro sair do Cenáculo e pregar pela primeira vez à multidão que estava em Jerusalém, as pessoas, ouvindo as palavras do Evangelho, ficaram com o coração cheio de contrição e disseram: “O que devemos fazer?” S. Pedro disse: “Deveis arrepender-vos dos vossos pecados e ser batizados”. Com esse Batismo no dia de Pentecostes, começou o tempo fantástico dos sacramentos. De fato, não havia sacramentos antes de Cristo. No Antigo Testamento, não havia sacramentos [1]. Tampouco no céu há sacramentos. Vivemos agora o tempo dos sacramentos, que se estende de Pentecostes até a segunda vinda de Cristo no Fim dos Tempos. É por eles que as pessoas agora são salvas. Como então faziam elas para salvar-se no Antigo Testamento, ou seja, antes que houvesse os sacramentos? Como é que o Espírito Santo agia nos corações? O único recurso de que se dispunha no Antigo Testamento era a contrição perfeita, ou seja, o arrependimento dos pecados motivado pelo grande amor que Deus nos tem. Pela contrição perfeita, arrependo-me de meus pecados do fundo do coração, não somente por medo do inferno ou pelo desejo do céu, mas por uma razão mais profunda, por um um ato de caridade perfeita: “Deus é bom, sumamente digno de ser amado, por isso não quero nunca mais voltar a ofendê-lo”. É um tipo de arrependimento que, infelizmente, não se vê com muita frequência hoje em dia. É raro que uma pessoa se arrependa pela razão sublime de ter ofendido a Deus. No entanto, isso pode acontecer hoje como acontecia no passado. É raro, sim, mas por causa da dureza do nosso coração. O Espírito Santo, porém, quer dar-nos essa contrição perfeita. Foi para isso que, no Antigo Testamento, Deus enviou os profetas, ou seja, para que o povo, ouvindo a pregação deles, se arrependesse pela razão correta: porque Deus é sumamente bom e digno de ser amado. Deus tentou de diversas maneiras atrair o povo por meio dos profetas, é por isso que o Espírito Santo é chamado inspiratio Prophetarum, inspiração dos profetas. Ele, no Antigo Testamento, chamara as pessoas ao arrependimento como nos chama ainda hoje. Infelizmente, o povo não ouviu… Eis por que o profeta Ezequiel viu Israel como um amontoado de ossos ressequidos. Ezequiel viu que o povo de Deus, chamado para amar a Deus, estava morto espiritualmente. Por quê? Porque se entregara aos ídolos, aos pecados, aos deuses falsos. Então Ezequiel viu um campo cheio de cadáveres, de ossos secos, de pessoas mortas, caveiras sobre caveiras. Mas eis que, de repente, um vento vem sobre aquele campo de morte, e os ossos começam a se juntar, a carne se forma, a pele volta a recobrir os mortos! É o sinal da ressurreição espiritual que o Espírito Santo quer fazer em nós. Quando alguém se arrepende de seus pecados, mas se arrepende de verdade, por ter ofendido a Deus, sumamente digno de ser amado, cumpre-se essa profecia de Ezequiel: o Espírito Santo sopra sobre os ossos ressequidos para devolver à alma a vida espiritual. É o próprio Deus quem o diz por boca do profeta: “Eu irei arrancar o vosso coração de pedra e dar-vos-ei um novo coração, um coração de carne”, isto é, a capacidade de amar. Isso, que pode acontecer graças à contrição perfeita, coisa que, infelizmente, é rara, acontece para quem recebe dignamente os sacramentos, nos quais temos garantida a ação do Espírito Santo. Quando somos batizados ou nos confessamos, o Espírito Santo recria em nós a vida da alma: os ossos ressequidos são novamente recobertos de carne, e nós ganhamos vida, vida espiritual, vida eterna, a vida do próprio Deus em nós! É o Espírito Santo que vem dar-nos a capacidade de amar com a qual Deus quer ser amado: “Dar-vos-ei um novo coração, irei arrancar o vosso coração de pedra e dar-vos um coração de carne”. É o coração movido pelo Espírito Santo, e o nome desse coração, no fundo, é Coração de Jesus. Porque o Espírito Santo, na verdade, vem fazer em nós um transplante de coração, tirando o nosso para nos dar o de Cristo. É como está escrito na carta de S. Paulo aos filipenses: “Tende em vós os mesmos sentimentos de Cristo Jesus”, isto é, o mesmo coração de Cristo Jesus, amar como Ele amou, reagir às coisas e aos acontecimentos da vida como Ele reagia. É isso o que Deus quer de nós, é isso que o Senhor espera de nós; mas, para tanto, precisamos do Espírito Santo. Não deixemos de receber a graça do Espírito Santo. Nessa novena de Pentecostes, precisamos restabelecer nossa fé, firme e forte, número um, na ação dos sacramentos, que nos dão o Espírito Santo ao ressuscitarem nossa vida espiritual, seja pelo Batismo, seja pela Confissão; mas também, número dois, na bondade de Deus, pedindo ao Espírito Santo a contrição perfeita, mesmo que estejamos em estado de graça, recobrada pela Confissão. Trata-se de fazer atos de amor, arrependendo-se dos próprios pecados pelo motivo sublime de haver ofendido a um Deus tão bom. Olhemos para a bondade dele, olhemos para a bondade de Cristo e digamos: “Jesus, não quero nunca mais voltar a vos ofender”. Se fizermos isso, e o fizermos com profundidade, estaremos ouvindo os apelos do Espírito Santo, Ele, que verdadeiramente inspirou os profetas e agora nos inspira a contrição perfeita e o propósito de mudança de vida.

Referências

  1. No entanto, costuma-se chamar sacramentos aos ritos e cerimônias de religião mosaica, enquanto sinais sagrados que, por um lado, prefiguravam os mistérios de Cristo e, por outro, dispunham o povo para a vinda dele. Assim escreve S. Tomás de Aquino: “Existiram na antiga Lei alguns sacramentos, isto é, sinais de coisas sagradas, como o cordeiro pascal e outros sacramentos legais, que somente significavam a graça de Cristo, mas não a causavam. Eis por que o Apóstolo os chama ‘rudimentos fracos e pobres’ (Gl 4, 9): são pobres porque não continham a graça, e fracos, porque não podiam conferir a graça” (De articulis fidei et Ecclesiæ sacramentis, c. 2). E o Cardeal J. B. Franzelin, SJ, diz: “Assim como, em geral, a Igreja do Novo Testamento está entre a economia mosaica, como sombra prefigurada, e a Jerusalém celeste, como perfeição final, do mesmo modo, em particular, esta dupla relação se dá nos sacramentos. Com efeito, os sacramento antigos, na sinagoga mosaica, são tipos e promessas dos novos [sacramentos] da Igreja de Cristo, e estes novos são penhores e preparações para os bens eternos na Igreja celeste, onde a realidade mesma significada pelos sacramentos permanece sem sinais e nada mais está [encoberto] em figura, senão que tudo está [descoberto] na verdade” (De sacramentis in genere, Tese II).
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