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O milagre do Sol

Embora o conjunto dos fiéis não deva às revelações privadas o assentimento próprio de fé, os milagres feitos em confirmação de algumas delas tornam não só razoável aceitá-las como uma imprudência rejeitá-las.

Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 14, 27-31a)

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração. Ouvistes que eu vos disse: ‘Vou, mas voltarei a vós’. Se me amásseis, ficaríeis alegres porque vou para o Pai, pois o Pai é maior do que eu. Disse-vos isto, agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós acrediteis.
Já não falarei muito convosco, pois o chefe deste mundo vem. Ele não tem poder sobre mim, amas, para que o mundo reconheça que eu amo o Pai, eu procedo conforme o Pai me ordenou”.

Fátima é um dos fenômenos mais importantes da história recente. Tem uma transcendência espiritual que não pode ser comparada com qualquer outro fenômeno dos últimos tempos. Comecemos pelo final, isto é, pelo milagre do Sol, ocorrido na última aparição de Nossa Senhora, no dia 13 de outubro de 1917, mas partamos do princípio, a saber: de que Fátima é uma revelação privada. Qual é a diferença entre revelação privada e pública? É que o conjunto dos fiéis só está obrigado a crer na última. De fato, tudo o que Nosso Senhor revelou e Deus quis pôr no depósito da fé, ou seja, no conteúdo dogmático da fé cristã, nós somos obrigados a crê-lo com fé divina e católica [1], porque foi Cristo mesmo quem o ensinou. A revelação pública, a única obrigatória para a universalidade dos fiéis, abarca tudo quanto está no Credo. Quem não crê deliberadamente em qualquer de seus artigos, comete pecado de infidelidade [2]. Em resumo, tudo aquilo em que devemos crer foi revelado publicamente por Deus e se encerrou com a morte do último Apóstolo. A partir da morte de S. João, por mais que tenha havido revelações, ainda que Nossa Senhora tenha aparecido, mesmo que o próprio Cristo tenha aparecido, todas essas manifestações são privadas, particulares. Disso se segue, na prática, que os fiéis podem crer nelas, se há razões para isso, ou seja, motivos de credibilidade. Quando, na revelação da fé católica, Jesus toma um pedaço de pão e diz: “Isso é o meu corpo”, não é preciso ter motivos para crer [3]. É Cristo quem está falando: se Ele falou, acabou. Cremos no que Ele diz porque é Ele quem o diz. Não precisamos de milagres eucarísticos, por exemplo, para crer na Eucaristia porque essa doutrina é parte da revelação pública. É nisso que a Igreja crê há dois mil anos. Sim, os milagres eucarísticos ajudam a crer, mas não é por causa deles que se deve crer. Crê-se porque Jesus o disse. Já nas revelações privadas, como as de Fátima, cremos, mas não obrigados, porque não pertencem ao Credo, ao patrimônio da fé universal da Igreja. Não é necessário responder-lhes com fé divina e católica. Antes de tudo, é preciso ter motivos humanos para crer. Ora, em Fátima, Nossa Senhora “caprichou”, dando-nos um fenômeno extraordinário, o maior milagre dos tempos modernos. Afinal, quando já se ouviu falar de um milagre testemunhado por setenta mil pessoas e envolvendo nada menos que o Sol? É evidente que, com esse milagre, temos uma assinatura de Deus: “Crede! Aqui está atestado algo sobrenatural, vindo realmente do céu”. É Deus indicando que podemos crer em Fátima. Então, somos obrigados a crer? Não. Estamos obrigados a crer, por exemplo, na Imaculada Conceição de Maria, em sua Assunção ao céu, em sua virgindade perpétua, na divindade de Cristo, em sua presença real na Eucaristia etc. São verdades de fé nas quais devemos crer. Em Fátima não há isso. Sucede, porém, que, com um sinal tão claro, tão ostensivamente claro, se alguém não crê, é porque quer manter os olhos fechados para a verdade. O que aconteceu em Fátima, mais de cem anos atrás, no dia 13 de outubro? Nossa Senhora prometera fazer um milagre, e estava à espera dele uma multidão enorme. As estimativas mais baixas dizem que eram 40.000 pessoas; as mais altas falam de 100.000. O cálculo feito pela maioria diz que eram cerca de 70.000 pessoas, todas lá reunidas porque Nossa Senhora prometera um sinal. Mas entendamos o seguinte: estamos no interior de Portugal, em 1917. Não havia microfone nem estradas pavimentadas. Não havia meio de manipular aquela multidão de sabe-se lá quantas mil almas. Não havia quem dissesse com um microfone: “Vejam! Está acontecendo isso”, ou: “Está acontecendo aquilo”. Não, não havia como manipular aquela gente. Tudo aconteceu de fato. E quais foram os fatos presenciados? Antes da aparição, estava chovendo torrencialmente, a cântaros! As pessoas estavam molhadas, completamente ensopadas. Era uma multidão de guarda-chuvas e chapéus. De repente, a chuva parou, e Lúcia pediu aos homens que tirassem o chapéu, porque Nossa Senhora estava presente. Ninguém, além de Lúcia, Francisco e Jacinta, viu Nossa Senhora. Lá pelas tantas, Lúcia, sem que ela mesmo advertisse — ela diz não recordá-lo —, chamou a atenção das pessoas, e todos olharam para o céu. Quando os olhos se ergueram — é um testemunho colhido por inúmeros investigadores —, o Sol parecia um disco de prata, uma lua, de maneira que se podia olhar diretamente para ele sem ferir a vista. De repente, o Sol começou a mudar de cor, e, mudando ele, mudavam de cor também as coisas: se o Sol começa a emitir uma luz azul, as coisas ficam azuis; uma luz amarela, as coisas ficam amarelas etc. Eis que, no meio dessa mudança de cores, para o espanto de todos, o Sol — usando a linguagem popular empregada na época — começou a bailar. O Sol estava dançando no céu! Na verdade, o que se viu foi o Sol girar sobre o próprio eixo, dando a impressão de estar-se precipitando sobre a Terra. Naquele momento, a multidão ficou desesperada. Foi um momento de “apocalipse”. Muitos acharam que iriam morrer e começaram a fazer seu ato de contrição. Uma mulher começou a contar em público seus pecados, enquanto outros clamavam: “Salvai-me, Nossa Senhora!”, “Meu Deus, nós vamos todos morrer!”. Em meio àquela comoção toda, doentes foram curados. Findo o fenômeno, as pessoas olharam para as roupas, e estavam secas, enxutas! Esse é o relato colhido das testemunhas na época. São milhares de pessoas. A coisa era a tal ponto incontestável, que até jornais anticlericais e maçônicos tiveram de noticiá-la. O famoso jornal O Século trouxe um artigo, de dia 15 de outubro, em que relatava os acontecimentos. Assinado por Avelino de Almeida, é um artigo famosíssimo, por vir de uma testemunha anticlerical: ateu, não crente, que relata o que acabamos de descrever. Não há dúvida de que houve um fenômeno no céu de Fátima. Ninguém está dizendo que o Sol materialmente girou. É claro: se aquele fenômeno foi observado somente em Fátima e a alguns quilômetros dali (porque há testemunhos de quem viu o milagre desde o Porto, por exemplo), e não há nenhum registro astronômico de que tenha acontecido algo de diferente com o Sol, então ele se deu na atmosfera da região. No resto do planeta, ninguém mais notou nada diferente no Sol. É evidente, pois, que estamos falando de um fenômeno atmosférico, mas nem por isso menos real e milagroso. E milagroso por quê? Milagroso, porque não há fenômeno na natureza que o explique; milagroso, porque as pessoas cresceram na fé; milagroso, porque houve curas; milagroso, porque é inexplicável o fato de as pessoas aparecerem de repente com as roupas secas, após uma tempestade. Nossa Senhora quis mostrar a todos: “Crede no que os pastorinhos estão dizendo! Crede no que a Lúcia, porta-voz deles, está dizendo!” Com o milagre do Sol, Maria também se uniu à revelação pública da Igreja. Por quê? Porque no Livro do Apocalipse, ela aparece como a Mulher revestida de Sol. Em Fátima, o que ela é senão uma mulher vestida de Sol? O Sol torna-se brinquedo nas mãos de Nossa Senhora para mostrar a sua glória! E ela a mostra a milhares e milhares de pessoas. Enquanto, em outras aparições, temos motivos sérios de credibilidade (como, por exemplo, em Lourdes, com suas inúmeras curas), em Fátima a coisa é ainda mais séria, porque se trata de uma manifestação pública. É Deus “assinando embaixo”. Nosso Senhor quer chamar a atenção de todos os que vivemos no século XXI para esta mensagem, importantíssima para os nossos dias. Hoje, vimos as razões de credibilidade: Fátima tem uma assinatura de Deus. Peçamos, pois, a Nossa Senhora do Rosário de Fátima que brilhe como a Mulher vestida de Sol para aumentar a nossa fé e dar-nos a graça de amarmos e servirmos a Deus com mais devoção.

Referências

  1. Distingue-se da fé meramente divina, que se deve a uma revelação privada ou pessoal, na qual está obrigado a crer apenas aquele a quem é certamente dirigida, ainda que a Igreja prudencialmente a reconheça como autêntica. Essa distinção não deve ser confundida nem é estritamente homologável com a que se costuma estabelecer, na qualificação dos enunciados teológicos, entre proposições “de fé divina” e “de fé divina e católica”. São de fé divina as proposições reveladas contidas na S. Escritura ou na Tradição apostólica. São de fé divina e católica as proposições que, além de estarem contidas de algum modo nas fontes da revelação, são ensinadas como verdades de fé pelo Magistério infalível da Igreja. Tornam-se de fé divina e católica definida quando o Magistério, além de ensiná-las, as declara como verdades de fé de maneira extraordinária (por uma definição papal ex cathedra, por exemplo).
  2. Por isso, às revelações privadas, como as de Fátima, não estão obrigados a prestar assentimento de fé divina os fiéis a quem elas não foram imediata e certamente dirigidas, embora convenha prestar-lhes assentimento de fé humana, na medida em que a autoridade da Igreja prudencialmente as reconhece como autênticas, isto é, livres de todo indício razoável de fraude, engano, manipulação e de quaisquer elementos que contradigam o conteúdo da revelação pública. Assim, não peca contra a fé quem não crê nas revelações de Fátima ou em outras aparições marianas particulares, embora nisto possa haver certa indocilidade ao Magistério eclesiástico, quando ele mesmo reconhece a autenticidade de tais manifestações e as propõe aos fiéis, especialmente pela Liturgia, como dignas de fé e conformes à doutrina cristã.
  3. A rigor, para que seja conforme à razão o ato de fé teologal, pelo qual assentimos ao conteúdo da revelação divina, isto é, ao conjunto de seus distintos objetos materiais (por exemplo, à trindade de pessoas na única essência divina, à presença real de Cristo na Eucaristia etc.), é conveniente que as verdades propostas por Deus, embora inevidentes para a nossa inteligência, gozem todavia de alguma evidência extrínseca, ou de credibilidade, pela qual possamos estar certos do fato de que foram reveladas por Ele e, por conseguinte, são credíveis. Essa evidência, para os contemporâneos do Senhor, era imediata mas externa, fundada nos sinais visíveis (milagres) e inteligíveis (profecias) com que Ele confirmava sua missão divina e mostrava, portanto, ser razoável crer em sua doutrina; para nós, ela é igualmente extrínseca mas mediata, porque a revelação e as verdades nela contidas nos são propostas por intermédio do Magistério infalível da Igreja Católica. Deus, ensina o Concílio Vaticano I, “instituiu, por meio de seu Filho Unigênito, a Igreja, para que pudéssemos cumprir o dever de abraçar a verdadeira fé” (DH 3012).
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