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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 5, 17-19)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento. Em verdade, eu vos digo: antes que o céu e a terra deixem de existir, nem uma só letra ou vírgula serão tiradas da lei, sem que tudo se cumpra.

Portanto, quem desobedecer a um só desses mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será considerado o menor no Reino dos Céus. Porém, quem os praticar e ensinar será considerado grande no Reino dos Céus.

O Evangelho de hoje nos fala de Jesus, que veio para realizar as profecias e também levar a Lei à sua plenitude. Trata-se de um trecho do Sermão da Montanha. Nesta parte, Jesus está aqui tentando ensinar para os seus discípulos a realidade misteriosa de que, embora o Antigo Testamento esteja superado, ao mesmo tempo ele continua valendo. Como assim?

Deus, para que seu Filho viesse a este mundo para salvar a humanidade, teve de preparar o caminho, e houve uma longa preparação, desde dois mil anos antes de Cristo, quando Abraão deixou a Mesopotâmia, ouvindo a Palavra de Deus no seu coração, que dizia: “Sai da tua terra e vai onde eu irei te mostrar” (Gn 12, 1). Pois bem, ao longo desses dois mil anos, houve uma gestação em que Deus pedagogicamente foi fazendo um povo para que seu Filho pudesse se encarnar. Eis o processo da vinda de Jesus ao mundo para a salvação da humanidade inteira. Ele teve de, primeiro, ser verdadeiramente realizado em termos jurídicos.

Essa é a parte da Lei. Ou seja: nós, seres humanos, manchados pelo pecado original, precisávamos de alguma forma ser contidos em nosso egoísmo, e foi exatamente a Lei que Deus realizou no Antigo Testamento. Em primeiro lugar, toda a primeira parte da Lei, que revela para nós aquilo que nós poderíamos descobrir com o nosso próprio raciocínio, com a nossa própria inteligência, ou seja, a lei natural. Os dez Mandamentos são isso. Os dez Mandamentos são a lei natural que toda a humanidade, se não fosse tão egoísta e fechada dentro de si mesma, poderia ter descoberto facilmente, e no entanto Deus a revela, para que nós possamos enxergar, na realidade das coisas, como Deus pensou a humanidade. Esses são os dez Mandamentos.

Além dessa realidade da lei natural, Deus deu outras prescrições: prescrições jurídicas para governar o povo de Deus no Antigo Testamento, e essas eram transitórias; outras prescrições litúrgicas para a realização do culto em Jerusalém, também transitórias porque seriam plenamente completadas em Jesus; além disso tudo, Deus também profetizou e disse claramente que viria um Messias, viria um Salvador. Por que era necessária esta promessa de um Salvador? Porque, embora Deus tenha nos dado uma Lei, também é verdade que a humanidade, o povo de Israel, ficou esperando, foi experimentando cada vez mais a sua incapacidade de cumprir o que Deus estava pedindo.

Ou seja: quando falamos “a Lei e os Profetas”, não nos damos conta de que existe aqui uma complementaridade no sentido de que a Lei é o que Deus espera de nós, os Profetas são o que nós devemos esperar de Deus. Sim, Deus espera de nós que nós cumpramos a Lei, mas nós esperamos de Deus que Ele nos dê a graça de cumpri-la. Deus espera de nós um coração transformado, mas nós esperamos de Deus que Ele mande do céu este coração, este coração que é plenamente humano e plenamente divino, que possa assim realizar a comunhão entre o céu e a terra. Jesus disse: “Eu vim realizar a Lei e os Profetas”. Veio realizar a Lei porque, finalmente, o ser humano consegue levar até a sua última consequência, sua última vírgula, o seu último iota, a Lei do Antigo Testamento.

Pois bem, mas isto, na realidade, é o cumprimento das profecias. Por quê? Porque Deus havia profetizado: “Dar-vos-ei um novo coração, arrancarei o vosso coração de pedra e vos darei um coração de carne” (Ez 36, 26; cf. 11, 19s). Essa é a realização da promessa de Jesus. Jesus realiza a profecia. Pois bem, então. Façamos hoje nossa oração, enxergando esse grande mistério: o mistério de que, de fato, Deus espera de nós a Lei, mas realiza em nós o que Ele espera, os Profetas. Como diz Santo Agostinho: “Da quod iubes et iube quod vis” (Conf. X 29, 40), “Dá aquilo que pedes e pede o que quiseres”. Deus pede de nós a lei do amor e da caridade; mas, para isso precisamos do seu auxílio. Que a graça venha ao nosso socorro e sejam realizadas as profecias, que convergem para Jesus Cristo, nosso Salvador.

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