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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 6,20-26)

Naquele tempo, Jesus, levantando os olhos para os seus discípulos, disse: “Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus! Bem-aventurados vós que agora tendes fome, porque sereis saciados! Bem-aventurados vós que agora chorais, porque havereis de rir! Bem-aventurados sereis, quando os homens vos odiarem, vos expulsarem, vos insultarem e amaldiçoarem o vosso nome, por causa do Filho do Homem!

Alegrai-vos, nesse dia, e exultai pois será grande a vossa recompensa no céu; porque era assim que os antepassados deles tratavam os profetas. Mas, ai de vós, ricos, porque já tendes vossa consolação! Ai de vós que agora tendes fartura, porque passareis fome! Ai de vós que agora rides, porque tereis luto e lágrimas! Ai de vós quando todos vos elogiam! Era assim que os antepassados deles tratavam os falsos profetas.

Breve explicação do texto. — Lucas enumera apenas quatro bem-aventuranças, a saber: aquelas que aos homens parecem mais paradoxais e inacreditáveis, por se referirem a) aos pobres: Bem-aventurados vós, os pobres (v. 20); b) aos indigentes: Bem-aventurados vós que agora tendes fome (v. 21); c) aos aflitos: Bem-aventurados vós que agora chorais (ibid.); d) e aos que sofrem nas mãos dos homens sob pretexto de religião: Bem-aventurados sereis, quando os homens vos odiarem (v. 23). A estas quatro bem-aventuranças acrescenta o Senhor outras tantas cominações, com as quais afirma a sorte infeliz que terão os que, na estimação comum dos homens, são considerados felizes.

V. 24. Mas, ai de vós, ricos, porque já tendes aqui vossa consolação! Esta sentença deve entender-se em referência aos ricos semelhantes ao epulão do Evangelho (cf. Lc 16,19-31), ou seja, aos que abusam, para satisfazer os próprios desejos, das riquezas que deveriam usar para aliviar as necessidades dos miseráveis.

V. 25. Ai de vós que agora tendes fartura, porque passareis fome! É uma ameaça àqueles cujo deus, como diz São Paulo, é o próprio ventre (cf. Fp 3,19). — Ai de vós que agora rides, i.e., que nesta vida, na qual há tantos motivos para chorar, vos entregais às concupiscências do mundo e a todo tipo de prazer, porque tereis luto e lágrimas! Este infortúnio não está reservado apenas para a vida futura, pois é um perigo já na presente, segundo aquilo: “Não há paz para os maus” (Is 48,22).

V. 26. Ai de vós quando todos, i.e., os homens dados às coisas do mundo, vos elogiam, ou seja, quando vos louvam e aprovam, além disso, vossa doutrina; era assim que os antepassados deles, i.e., daqueles a quem elogiais (cf. Jr 5,31), tratavam os falsos profetas. Neste v., o Senhor se dirige aos discípulos, a quem recomenda em forma de ameaça a liberdade evangélica, o ódio do mundo e, quando necessário, o desprezo dos homens; do contrário, terão a mesma sorte que tiveram os falsos profetas. (Ez 13,9; Jr 28,2ss etc.) [1].

Notas espirituais. — 1) Riquezas, um bem relativo: “Ainda que no acúmulo de riquezas haja muitos atrativos para o pecado, há também muitos incentivos à virtude; e embora a virtude não precise de subsídios e seja mais louvável a esmola do pobre que a liberalidade do rico, não obstante, condena o Senhor com a autoridade da sentença celeste não os que possuem riquezas, mas os que não as sabem empregar bem” (Ambrósio). — 2) A necessidade da abstinência: “Ora, que seja necessária a abstinência, é evidente pelo fato de o Apóstolo enumerá-la entre os frutos do Espírito. Com efeito, a sujeição do corpo por nenhum outro meio se alcança melhor do que pela abstinência: por ela, como por certo freio, cumpre domar o fervor da juventude. É, portanto, a abstinência a morte do crime, o afastamento das paixões, o início da vida espiritual, que embota em si o acúleo da sensualidade” (Basílio Magno). — 3) Moderação no riso, seriedade na vida: “Já que o Senhor repreende agora os que riem, é evidente que nunca terá o fiel tempo para rir, sobretudo em tamanha multidão de homens que morrem em pecado, pelos quais é necessário chorar. De fato, o riso supérfluo é sinal de imoderação e movimento de uma alma sem freios” (id.). — 4) A pedagogia de Cristo: “Chamam-se falsos profetas porque, para conquistar o favor do povo, tentam predizer o futuro. Por isso, o Senhor, no monte, falou somente das bem-aventuranças dos bons, ao passo que, no campo, descreveu também as desaventuranças dos réprobos: pois a ouvintes ainda rudes é preciso compelir ao bem com os terrores da pena, enquanto aos perfeitos é suficiente convidá-los pelo anúncio do prêmio” (Beda, o Venerável) [2].

Referências

  1. O texto desta homilia é uma versão levemente adaptada de H. Simón, Prælectiones Biblicæ. Novum Testamentum. 4.ª ed., iterum recognita a J. Prado. Turini: Marietti, 1930, vol. 1, p. 301s, n. 201.
  2. Cf. Tomás de Aquino, Catena in Lucam, c. 6, l. 6.

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