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Um Papa que confirmou a fé

Celebramos hoje a memória de um Doutor da Igreja, São Leão Magno, que foi Papa durante o século V, período bastante conturbado para a Igreja, tanto no campo político, devido à invasão dos bárbaros, como no campo espiritual, por causa das heresias cristológicas.

Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 17, 11-19)

Aconteceu que, caminhando para Jerusalém, Jesus passava entre a Samaria e a Galileia. Quando estava para entrar num povoado, dez leprosos vieram a seu encontro. Pararam à distância, e gritaram: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!” Ao vê-los, Jesus disse: “Ide apresentar-vos aos sacerdotes”.

Enquanto caminhavam, aconteceu que ficaram curados. Um deles, ao perceber que estava curado, voltou glorificando a Deus em alta voz; atirou-se aos pés de Jesus, com o rosto por terra, e lhe agradeceu. E este era um samaritano.

Então Jesus lhe perguntou: “Não foram dez os curados? E os outros nove, onde estão? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?” E disse-lhe: “Levanta-te e vai! Tua fé te salvou”.

Com grande alegria celebramos hoje a memória de um Doutor da Igreja, São Leão Magno, Papa durante o século V, um período bastante conturbado para a Igreja tanto no campo político, devido à invasão dos bárbaros, como no campo espiritual, por causa de heresias cristológicas. Leão Magno teve de enfrentar, por exemplo, o nestorianismo e o monofisismo, combatidos e condenados no Concílio de Éfeso, em 431, e no Concílio de Calcedônia, em 451.

Nesse período, São Leão Magno estabeleceu com muita clareza qual é a fé da Igreja. O Catecismo nos diz que Nosso Senhor Jesus Cristo é ao mesmo tempo Deus e homem. Essa foi a forma que Deus escolheu para nos salvar. Ele poderia ter salvado a humanidade de várias maneiras, mas quis que o Filho, segunda Pessoa da Santíssima Trindade, viesse ao mundo e assumisse nossa humanidade. Nisto consiste o mistério da Encarnação: para a nossa salvação, o Filho — Deus eterno, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai — criou para si um corpo e uma alma humanos, ou seja, uma natureza humana. Deus não tinha corpo, mas a partir da Encarnação tem um; Deus não tinha alma humana, mas a partir da Encarnação tem uma. Com a vinda do Filho, Deus fez-se igual a nós em tudo, exceto no pecado.

A fé católica nos ensina que Jesus é ao mesmo tempo igual a Deus Pai e igual a nós, exceto no pecado. Porém, é erro comum pensar que as duas naturezas em Cristo estão como que misturadas. Não, Jesus não é uma mistura de Deus e do homem, como se fosse um “semi-deus” das mitologias antigas, grega e romana. Jesus não é uma mistura de Deus com homem; em si mesmo, Ele é perfeitamente Deus e perfeitamente homem. Essas duas naturezas, uma perfeitamente divina e outra perfeitamente humana, são as naturezas em que subsiste uma única pessoa, uma Pessoa divina, o Filho eterno. Essa é a doutrina de fé que São Leão Magno ajudou a esclarecer e expressar. 

Essa Pessoa divina tem duas naturezas, uma natureza eterna, pois é Deus, e uma natureza humana, criada no ventre de Nossa Senhor. Quando Jesus cura cegos, ressuscita mortos, caminha sobre as águas, não é apenas um homem prodigioso fazendo milagres. A Igreja Católica está cheia de santos que ressuscitaram mortos, curaram cegos, andaram sobre as águas e até levitaram. Tudo isso existe e são fenômenos prodigiosos de pessoas profundamente unidas a Deus. Mas eram ações de pessoas humanas. Jesus tem algo infinitamente maior; Ele é uma Pessoa divina. Jesus tem o que nenhum santo tem: a unidade de natureza com o Pai e com o Espírito Santo.

O Catecismo ensina e São Leão Magno confirma a nossa fé, segundo a qual o Verbo subsiste em duas naturezas distintas. As naturezas estão unidas, mas não confundidas nem misturadas; são distintas, mas não separadas, como se estivessem apenas justapostas. Unidas sem confusão, distintas sem separação. Essas ideias precisam estar claras na nossa cabeça para termos uma compreensão adequada de quem é Nosso Senhor e, a partir daí, podermos nos relacionar com Ele. Ao ler as passagens do evangelho, entenderemos que o que tocou no leproso foi, sim, a mão de um homem, mas de quem? De um homem que é uma Pessoa divina.

Eis a beleza e a  grandeza do mistério da nossa redenção. Jesus é plenamente homem, igual a nós, mas, ao mesmo tempo, é uma Pessoa divina. Agradeçamos a Deus por São Leão Magno confirmar nossa fé. Todas as vezes que formos comungar, saibamos que estamos recebendo, sob a aparência de pão, um corpo humano, vivo e verdadeiro, mas é o corpo humano de uma Pessoa divina. É Deus que vem para que, como os leprosos, os cegos e os aleijados, possamos “tocá-lo” e, assim, possamos um dia participar da sua bem-aventurança eterna.

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