Os conflitos políticos se acirraram no Egito e levaram o país a decretar estado de emergência, ainda na tarde desta quarta-feira, dia 14 de agosto. Houve confrontos armados entre as forças de segurança do governo e defensores do ex-presidente Mohamed Morsi, ligado à Irmandade Muçulmana e deposto no começo do último mês. Até o momento, calcula-se que cerca de 600 pessoas morreram e quase 4000 ficaram feridas.
A cidade de Cairo, capital do país, se tornou um verdadeiro cenário de guerra: na praça Rabaa al-Adawiya, onde os partidários de Morsi se reuniam desde o dia 3 de julho, a destruição foi completa e, só ali, pelo menos 200 pessoas foram mortas; no distrito de Nasr, uma viatura foi lançada da ponte Seis de Outubro e o corpo de um policial foi agredido e arrastado por apoiadores do presidente deposto.
O Papa Francisco fez menção, ontem, durante a oração do Angelus, a "notícias dolorosas" vindas do Egito. "Desejo assegurar minha oração a todas as vítimas e a seus familiares, pelos feridos e pelos que sofrem. Rezemos juntos pela paz, pelo diálogo e pela reconciliação naquela terra querida e no mundo inteiro."
Na homilia por ocasião da solenidade da Assunção de Maria, o Santo Padre recordou a virtude da esperança expressa no cântico do Magnificat e disse que "este cântico é particularmente intenso, onde o Corpo de Cristo hoje está sofrendo a Paixão". Embora não tenha feito aqui uma referência explícita ao Egito, a situação dos cristãos coptas no país ilustra com exatidão esta Paixão que sofre "o Corpo de Cristo hoje".
A comunidade cristã no Egito é relativamente pequena: apenas 10% dos 80 milhões de habitantes se declaram cristãos. No entanto, o pequeno número de fiéis tem sofrido nas mãos de grupos islâmicos extremistas. A ofensiva desta semana era tragicamente prevista, já que há mais de um mês os cristãos coptas vêm sendo acusados de complô político para depor Morsi pelas emissoras da Irmandade Muçulmana. Estima-se que mais de 40 igrejas foram saqueadas desde a última quarta-feira em todo o território egípcio.
Ainda na manhã do dia 14, começaram a circular na Internet inúmeras imagens de um incêndio na igreja de São Jorge, o principal templo copta em Sohag, norte do Egito. Outra igreja dedicada ao mesmo santo foi saqueada na região do Assiut. As imagens do vilipêndio foram registradas e colocadas no YouTube:
De acordo com o jornalista Giorgio Bernardelli, outros incêndios tomaram a igreja de São Teodoro, em Mynia, uma das províncias com a maior concentração de cristãos no país, e a igreja de Arish, no Sinai, na qual exercia seu ministério o padre Mina Abdul, sacerdote copta assassinado há um mês. No nordeste do Egito, em Fayoum, uma multidão destruiu as cruzes de uma igreja dedicada a Nossa Senhora e o templo de Amir Tadros foi completamente incendiado.
A violência não afeta só a Igreja Ortodoxa, mas todas as confissões cristãs. Uma igreja greco-ortodoxa foi destruída no leste do país, em Suez. Na mesma região, uma paróquia e uma escola católicas foram saqueadas e incendiadas. O temor é tão grande que Sua Beatitude, o patriarca da Igreja Católica Copta, Ibrahim Sidrak, decidiu cancelar todas as missas da solenidade da Assunção, previstas para ontem.
"Também nós, católicos, como os coptas e os protestantes, preferimos manter fechadas as igrejas e os lugares de culto para evitar incidentes", disse o padre Paul Annis, superior da Congregação dos Combonianos, no Cairo.
A perseguição religiosa no Oriente Médio faz do Cristianismo a religião mais perseguida do mundo hoje. Embora haja uma "conspiração do silêncio" em torno do tema, sabe-se que, em 2012, pelo menos 100 mil cristãos foram mortos por motivo de religião, de acordo com o Observatório de Liberdade Religiosa da Itália. Ao lado da intolerância muçulmana, a ideologia comunista – tome-se como exemplo a Coreia do Norte – é responsável por grande quota deste morticínio.
Junto com o Santo Padre, o Papa Francisco, os católicos do mundo inteiro são chamados a oferecer orações e sacrifícios pelo Oriente Médio, especialmente no Egito, onde, mais uma vez, os cristãos têm pagado o preço da situação política dramática de seu país.
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