O Papa Francisco recordou um ensinamento grave da Igreja acerca da participação dos leigos na política. Respondendo à pergunta de um jovem, o Santo Padre afirmou que "temos que nos envolver na política, porque ela é uma das formas mais altas de caridade". Questionou ainda as razões pelas quais ela está "suja": "está suja por quê? Por que os cristãos não se envolveram nela com espírito evangélico?". Para o Pontífice, o fiel não pode se fazer de Pilatos e lavar as mãos. "É fácil colocar a culpa nos outros, mas e eu, o que faço?", perguntou Francisco ao grupo de estudantes do Colégio Jesuíta da Itália, durante um encontro na última sexta-feira, 7 de junho, no Vaticano.
O alerta vem em boa hora, sobretudo quando se vê a aprovação de leis cada vez mais iníquas em países de longa tradição católica. Essa derrocada dos princípios cristãos deve-se, entre outras coisas, à negligência dos leigos e pastores e ao relativismo de muitos políticos que se dizem cristãos, mas na prática, professam outras doutrinas. Embora se tente dizer que é vedado à Igreja opinar sobre questões ligadas ao Estado, o Papa Bento XVI, por ocasião das eleições de 2010, lembrou aos bispos brasileiros que "quando os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigirem, os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas".
A legítima separação entre Igreja e Estado, instituída por Cristo quando disse "dai a César o que é de César e a Deus o que é Deus", não significa de maneira alguma que a moral oriunda da lei natural possa ser relativizada no campo político. E cabe aos cristãos impedir qualquer tentativa que caminhe neste sentido. Um documento da Congregação para Doutrina da Fé, assinado pelo então Cardeal Joseph Ratzinger em 2002, sobre a atuação dos leigos católicos na política ensina precisamente isso: "não pode haver, na sua vida, dois caminhos paralelos: de um lado, a chamada vida espiritual, com os seus valores e exigências, e, do outro, a chamada vida secular, ou seja, a vida de família, de trabalho, das relações sociais, do empenho político e da cultura".
E aqui deve-se trazer à memória o testemunho contumaz de vários santos, como São Thomas More, que sofreram o martírio por se recusarem a obedecer leis contrárias à reta moral. Ensina o Catecismo da Igreja Católica que "se acontecer de os dirigentes promulgarem leis injustas ou tomarem medidas contrárias à ordem moral, estas disposições não poderão obrigar as consciências" (1903). Ademais, continua o Catecismo, "a recusa de obediência às autoridades civis, quando suas exigências são contrárias às da reta consciência, funda-se na distinção entre o serviço a Deus e o serviço à comunidade política", (2242).
As passeatas francesas, conhecidas como "La Manif pour tous", contrárias ao "casamento" entre pessoas do mesmo sexo, as Marchas pela Vida que ocorrem nos Estados Unidos e, mais recentemente, na Irlanda, sendo as maiores dos últimos anos, são também um ótimo exemplo a ser seguido pelos demais leigos católicos. Outro fato louvável é a atuação da ministra do Trabalho e Assuntos Sociais na Alemanha, Úrsula Von der Leyen, que está rompendo paradigmas ao mostrar que é possível ter uma família numerosa, mesmo trabalhando. Úrsula é mãe de sete crianças e chama a atenção no seu país por saber conciliar os trabalhos políticos com os cuidados do lar. Segundo a ministra, "comprovamos que sem crianças um país não pode seguir existindo, por razões econômicas e também emocionais".
A história dos últimos vinte anos mostra de maneira incisiva o declive no qual se coloca a sociedade cristã, quando esta não assume de maneira responsável seus encargos na esfera política. Vê-se a ascensão de governos anticristãos coniventes com todo o tipo de perversidade e imoralidade. Essa crise tem uma razão, diria São Josemaria Escrivá. É uma crise de santos. Somente um testemunho santo e piedoso terá a força para barrar o avanço do mal.
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