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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas 
(Jo 15, 9-17)

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu guardei os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor. Eu vos disse isso, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena. Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos. Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai. Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça. O que então pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo concederá. Isto é o que vos ordeno: amai-vos uns aos outros”.

O Evangelho de hoje (Jo 15, 9-17) é a continuação do de semana passada. Jesus está na Última Ceia e acabou de fazer a comparação da videira: “Eu sou a videira, vós sois os ramos”. Logo depois de dizer: “Sem mim nada podeis fazer”, Jesus acrescenta: “Como o Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor” (Jo 15, 5). 

É interessante que aqui, já na primeira frase, há uma realidade trinitária: o Pai, o Filho e o Amor entre eles, que é o Espírito Santo. Isso nos recorda o que foi dito na 2.ª Leitura: “Deus é amor” (1 Jo 4, 8). Eis o que Jesus veio nos revelar.

No Evangelho de São João, Jesus realiza vários sinais e milagres, além de debater com os chefes dos judeus; mas agora, no momento culminante e mais decisivo, Ele se fecha no Cenáculo com os seus amigos, para lhes contar segredos que não mencionara até então. Cristo lhes revela o seu Coração, a sua intimidade. 

Essa, aliás, é uma das características da amizade, como o Senhor diz neste Evangelho: “Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que eu vi do meu Pai”. Amizade implica esse conhecimento íntimo, e é nessa intimidade que Jesus quer que entremos agora. Somos amigos dele, por isso participamos de sua intimidade com o Pai e o Espírito Santo. 

Na Santa Missa, entramos de alguma forma no mesmo momento sublime vivido entre Jesus e os Doze na Última Ceia. Também a nós Ele quer revelar sua intimidade com Deus Pai, ideia esta que já apareceu no início do Evangelho de São João, no capítulo primeiro: “Ninguém nunca viu a Deus, mas o Filho, que está voltado para o seio do Pai, foi Ele quem no-lo narrou”.

É exatamente o que Jesus está fazendo. Ele narra, quer dizer, dá a conhecer aos discípulos, seus amigos, o segredo que Ele, o Filho eterno, conhece no seio, isto é, na intimidade do Pai. Que segredo? O amor, revelado plenamente na Cruz. O Evangelho de hoje, com efeito, diz assim: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá vida pelos amigos” (v. 13).

Jesus, na intimidade do Cenáculo, conta aos Apóstolos o que será vivido nas próximas horas. Sim, os transeuntes, os que passarem pelo pretório de Pilatos, os que andarem pelas ruas de Jerusalém, os que subirem o monte Calvário, todos estes verão um crime, um inocente condenado à morte e uma execução cruenta, isto é, com derramamento de sangue. O que será vivido é uma verdadeira tragédia. 

Jesus está falando agora, a portas fechadas, de um amor escondido. Este, nem todos o verão. Aliás, a maior parte não verá, nem sequer os amigos dele, que estão aqui reunidos nesse Cenáculo, o compreenderão plenamente. 

A grande maioria fugiu. Mas João entendeu esse amor. Por quê? Porque fez, na Última Ceia, a mesma coisa que Cristo faz na eternidade. Assim como o Filho se reclina sobre o peito do Pai, na intimidade de Deus, na Última Ceia João reclinou a cabeça como discípulo amado no peito de Jesus, e assim compreendeu o que não puderam compreender os outros.

Jesus está revelando um segredo a seus amigos: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos”. Eis a natureza do amor e como ele pode ser vivido neste mundo. Quem ama transmite vida, entregando-a. O amor é fonte, principalmente o de Deus, como se diz na 2.ª Leitura: “Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de reparação pelos nossos pecados” (1 Jo 4, 10). Deus nos amou por primeiro. Esse é o grande segredo do amor. 

Em outras palavras, o amor que nos salva é o amor que recebemos, e não o contrário.

Para ficar mais claro, é oportuno fazer um contraste com os espíritas. Nós, católicos, temos uma visão muito diferente da deles. O espírita acha que o amor que salva é o que ele mesmo realiza. O espírita faz muita filantropia: ajuda os pobres, cria orfanatos, asilos, creches… Ele faz muita coisa, porque acha que a filantropia é o meio por excelência de conseguir, com o próprio esforço, um upgrade, “passar de estágio”, reparar “culpas passadas” e, assim, ir salvando a si mesmo.

Para o espírita, portanto, o amor que “salva” é o amor que nós realizamos. Para os cristãos, porém, o amor que salva é, antes de tudo, o amor que nós recebemos de Cristo. 

Sim, é claro, nós temos de amar. Jesus mesmo diz que devemos seguir os Mandamentos. É que estou seguindo aqui a ordem lógica. O Evangelho, por ser narrativo, segue uma ordem diferente. Ora, a ordem lógica é esta: primeiro, há o amor da Trindade no Céu; o Filho encarnado vem revelar esse amor, e o faz morrendo na Cruz; no Cenáculo, Ele dá aos discípulos a “chave hermenêutica” para entenderem o que vai acontecer dali a pouco.

O que vai acontecer é um grande amor, como se Jesus dissesse: “Vós abrireis os olhos e vereis um grande crime, mas há um negócio escondido que é um grande amor. Eis o amor que vos há de salvar. Crede nele”. A 2.ª Leitura diz o mesmo ao afirmar que Deus nos amou por primeiro. O princípio do amor cristão e de toda a vida espiritual está em termos sido amados por Deus e crermos nisso. Eis por que somos salvos pela fé, que é “amor passivo”. 

A fé é o único meio pelo qual podemos receber amor de alguém. Trata-se de um fenômeno inclusive humano. Não há como abrir o coração de uma mãe para ver se, lá, existe verdadeiro amor. O filho precisa crer no amor dela. Sim, a mãe manifesta amor por seus atos, mas é sempre possível duvidar… Sem um ato de fé, não se pode receber amor de ninguém. Quem não crê no amor não recebe amor. 

Precisamos crer no amor manifestado na Cruz de Cristo. Esse é o primeiro passo: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15, 13). Jesus quer que sejamos seus amigos, e o primeiro passo para o estabelecimento desta amizade é que, quando éramos inimigos de Deus — recorda São Paulo (cf. Rm 5, 10) —, Jesus morreu por nós na Cruz. Para instaurar essa amizade, noutras palavras, é preciso antes olhar para a Cruz.

“Quando eu for elevado, atrairei todos a mim” (Jo 12, 32), diz Jesus no mesmo Evangelho de João. O amor de Cristo nos atrai, é a experiência primordial que devemos fazer. Por isso, o Senhor diz: “Permanecei no meu amor” (Jo 15, 9). Para isso, é preciso, antes de tudo, ter fé. O primeiro passo é olhar para a Cruz de Cristo, ver o amor dele por nós e crer. O segundo passo é questionar nossa própria vida: “Como eu não vou amar de volta um amor assim?” — “Quomodo talem amorem non redamarem?”, nas palavras de Santo Agostinho. 

Quando se ama de volta, instaura-se uma coisa chamada amizade, que é amor, mas de mão dupla: se Deus ama você, e você não ama a Deus, você não é amigo de Deus. A amizade requer reciprocidade, correspondência. Há uma diferença entre amizade e amor. Este pode ser de mão única, a amizade só pode ser mão dupla: “Eu amo e sou amado”; no caso, eu sou amado em primeiro lugar, porque Deus teve a iniciativa. Ele me amou por primeiro, e eu creio nesse amor, por isso o amo de volta e guardo os seus Mandamentos. 

Há, contudo, um problema trágico. Sozinhos, não somos capazes de guardar os Mandamentos, muito menos o que Jesus está nos dando: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei” (Jo 15, 12). 

Alguém poderia pensar: “Jesus parece ter exagerado. Ele está nos esmagando com uma exigência impossível. Afinal, Jesus nos amou morrendo por nós na Cruz; então, também nós devemos morrer na Cruz?” 

Esse “como”, presente na afirmação de Nosso Senhor, pode estabelecer uma comparação: “Devo amar como”, isto é, “do mesmo modo que Jesus me amou”; mas esse “como” pode também indicar a causa: “Como eu vos amei”, isto é, “já que eu vos amei, amai-vos uns aos outros”. Porque fomos amados com amor infinito, por isso temos um “reservatório” de amor. É a graça que nos torna capazes de amar. Não se trata, portanto, de pelagianismo nem de exigências moralistas, como quem diz: “Jesus morreu na Cruz por você. Agora você tem uma dívida. Você terá de amá-lo, mesmo que não tenha amor para dar. Dê um jeito!” Não é assim. Do peito aberto de Cristo crucificado, jorra uma fonte de graças.

Aliás, São João Evangelista é quem enfatiza a chaga do peito aberto de Cristo, exatamente porque foi nesse peito que ele reclinara a cabeça. É do peito de Cristo — do Batismo, da Eucaristia, da graça divina recebida pelos sacramentos — que brota nossa capacidade de amar. Recordemos a videira, mencionada no Evangelho do domingo passado. Jesus acabara de falar da videira: “Sem mim, nada podeis fazer”; e mais adiante, diz: “Permanecei no meu amor”, quer dizer, é do amor dele que depende o nosso, assim como é pela vida dele que nós vivemos.

É, portanto, um milagre extraordinário, não uma cobrança. É um privilégio termos sido amados por Ele da forma como fomos amados. É isso que faz, do nosso coração de pedra, jorrar uma fonte de amor. “Eu vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto, e o vosso fruto permaneça”, o que só é possível se, de fato, recebemos essa graça de Cristo. 

Na Quinta-feira Santa, na Missa in Cœna Domini, ou de lava-pés, a Igreja canta um hino belíssimo chamado Ubi Caritas: “Ubi Caritas et amor, Deus ibi est”; segundo outra versão: “Ubi caritas est vera, Deus ibi est”, quer dizer: “Onde há amor e caridade, Deus aí está”; “Onde o amor é verdadeiro, Deus aí está”. 

Como se costuma interpretá-lo? O que as pessoas pensam é mais ou menos o seguinte: “Eu amo por iniciativa própria e, em virtude desse amor, Deus se faz presente no meio de nós”. Mas é justamente o contrário: se virmos o amor e a caridade brotando de um coração humano, podemos saber que Deus ali está, pois onde está o efeito tem de estar a causa. O homem, por si só, não é capaz de amar. 

Se a lâmpada, por exemplo, está acesa, então há eletricidade, porque lâmpada alguma acende sem energia elétrica. Vemos o efeito, que é a lâmpada acesa, mas não a causa, que é a energia. Do mesmo modo, se virmos um santo amando, saibamos que não é ele, mas Deus nele: “Deus ibi est”, Deus ali está. Se você vir o mínimo ato de amor brotar do seu coração, não se envaideça nem pense que é você quem está amando; é Cristo amando em você. Ele, como diz São Paulo na Carta aos Filipenses, “opera em nós o querer e o fazer” (Fl 2, 13).

Ao contrário do que pensam os espíritas, nós, cristãos católicos, sabemos que, se fizermos atos de fé, se crermos no amor que Deus manifestou por nós, dessa fé jorrarão muitas graças que irão frutificar e tornar-nos capazes de amar. O mandamento do amor não é uma exigência, mas uma consequência. Sim, Jesus está ordenando que amemos, mas porque Ele nos dá o amor que espera de nós. 

O mesmo Agostinho recorda: “Da quod iubes et iube quod vis”, — “Dá o que mandas, e manda o que quiseres” (Conf., 10.29.40). Jesus é a fonte do amor e da caridade. Por isso, nós podemos amar a Deus de volta. Que grande milagre é o fato de nós, pecadores miseráveis e egoístas, sermos escolhidos: “Eu vos chamo amigos”, para dar a Cristo o amor que Ele mesmo nos deu com muito mais abundância.

Que, na Santa Missa deste domingo, você recline a cabeça no peito de Cristo, permaneça no seu amor e possa, ao longo da vida, dar frutos de caridade.

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