A família franciscana celebra todo dia 17 de setembro o aparecimento das chagas de Nosso Senhor Jesus nas mãos do poverello de Assis, o grande São Francisco. Séculos mais tarde, essas mesmas marcas do Salvador recairiam sobre as mãos santas de um verdadeiro filho de São Francisco, o padre Pio de Pietrelcina. Foi no dia 20 de setembro de 1918, há exatos cem anos, que o piedoso sacerdote teve as mãos marcadas pelos pregos da cruz de Cristo, tornando-se o primeiro padre da história a receber os estigmas, que o acompanharam até o dia de sua morte, em 23 de setembro de 1968.
A figura eminente de São Pio de Pietrelcina ajuda-nos a compreender a grandeza do sacerdócio, uma instituição tão importante para a salvação das almas e, por isso mesmo, tão atacada pelo diabo. Satanás quer destruir os sacerdotes para destruir a Igreja, que se alimenta diuturnamente do sacrifício da Eucaristia, cuja celebração depende diretamente dos padres. Se os padres desaparecerem, a Igreja também desaparecerá, porque não haverá mais ninguém para celebrar o sacrifício pela salvação das almas. Isso seria a vitória do Inferno.
É verdade, porém, que Nosso Senhor garantiu a sobrevivência da Igreja quando prometeu que “as portas do inferno jamais prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18), e entregou cada sacerdote aos cuidados de Maria Santíssima, na pessoa do apóstolo São João. Desde então, a estirpe da Virgem trava uma batalha sem trégua contra as hostes infernais. E os sacerdotes, filhos prediletos da Mãe de Deus, são o alvo mais procurado pelo inimigo do Senhor.
O primeiro grande ataque do diabo contra o sacerdócio foi o luteranismo. A heresia de Lutero nivela o cristianismo ao laicato, excluindo qualquer realidade eminentemente sacerdotal. Os protestantes não têm sacerdotes, nem verdadeiros sacramentos como a Confissão e a Eucaristia. Essa nova forma de cristianismo espalhou-se rapidamente por toda a Europa, embora grandes santos como João da Cruz, Inácio de Loyola e Felipe Néri tenham resistido com bravura às novidades luteranas. Por conseguinte, as sequelas do protestantismo podem ser sentidas ainda hoje na Igreja.
A nova arma do diabo é a apostasia. Ele tem trabalhado a consciência dos padres para que eles percam a identidade sacerdotal e se tornem homens incrédulos no próprio ministério. Por isso precisamos tanto rezar pelos sacerdotes, sobretudo para que se mantenham bem firmes na doutrina que receberam da Santa Igreja. Afinal, o sacerdote não é mais que “o amor do Coração de Jesus”, dizia São João Maria Vianney, e grande deve ter sido a comoção de São João quando se reclinou sobre o peito de Nosso Senhor.
Há alguns anos, um monge irlandês publicou um diário espiritual sobre a sua relação com o Coração de Jesus, com o título “In sinu Jesu”. Esse diário tornou-se conhecido justamente no período dos maiores escândalos de pedofilia da Irlanda, algo terrível que obrigou o Papa Bento XVI a escrever uma carta a todos os católicos da ilha. No seu diário, o monge mostra que as traições de Judas, um legítimo sacerdote de Cristo, foram mais dolorosas do que os açoites dos soldados. De fato, Santa Margarida Alacoque escreveu linhas bem semelhantes sobre a agonia de Jesus pela infidelidade das almas consagradas.
Esse quadro todo mostra como a ocasião da memória de São Pio de Pietrelcina é muito oportuna para a oração pelos sacerdotes. O testemunho de Padre Pio é uma profecia para todos os padres e bispos da Igreja, pois este grande sacerdote soube passar pelos sofrimentos da calúnia e da perseguição sem dirigir o pensamento para o pecado. Padre Pio realmente configurou-se a Cristo, como todo sacerdote deve se configurar. Peçamos, pois, a sua intercessão para vencermos esse derradeiro combate contra os servos das trevas.
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