55. Recapitulação. — Vimos na última aula que Nosso Senhor Jesus Cristo, sendo a um tempo compreensor e viandante, foi, mesmo durante a Paixão, plenamente bem-aventurado e, por esse motivo, não experimentou nunca a interrupção da visão beatífica, da qual gozou sempre, desde o primeiríssimo instante de sua concepção no seio da Virgem Maria; e que às suas dores e tristezas redentoras estavam intimamente unidas a mais perfeita alegria e uma paz imperturbável. Trata-se, segundo a sentença comum dos teólogos, que nisso seguem o Doutor Angélico, de um grandíssimo mistério, na medida em que, “à margem das leis naturais da vida da alma, ou seja, milagrosamente, Cristo viandante impedia voluntária e liberrimamente a redundância da glória da parte superior sobre a inferior, para entregar-se mais plenamente ao sofrimento, como vítima voluntária oferecida em holocausto. Era, portanto, um milagre e, ao mesmo tempo, um mistério essencialmente sobrenatural, já que os dois extremos unidos”, isto é, a visão beatífica e a dor sobrenatural pelos pecados, “eram ambos intrinsecamente sobrenaturais” [1].
E se consideramos, outrossim, que o justo tanto mais sofre pelo pecado quanto melhor...