No dia 18 de julho de 2017, sem apresentar nenhuma explicação, o Facebook simplesmente tirou do ar mais de 20 páginas católicas de sua comunidade. E, do mesmo modo como foram desativadas, assim também elas voltaram, sem mais nem menos. Um verdadeiro "apagão". Dentre as páginas atingidas por esse corte repentino, estão algumas de grande expressão, como "Papa Francisco Brasil", com 3,8 milhões, e "Nossa Senhora cuida de mim", com 3,1 milhões de seguidores.

O Brasil não foi o único país afetado pela medida. Algumas páginas católicas dos Estados Unidos também foram removidas, e o bloqueio chegou a ser noticiado inclusive pela agência Fox News.

O grupo ACI falou com o Facebook e, de acordo com um porta-voz da rede, "o incidente foi ocasionado acidentalmente por um mecanismo de detecção de spam na plataforma". O deputado Flavinho garante que entrou em contato com o diretor central da plataforma no Brasil, segundo o qual tudo não passou de um "erro técnico". A informação repassada pelo parlamentar, no início da tarde de ontem (19), é que "o que gerou todo este bloqueio foi a palavra Amém". O uso excessivo da expressão, especialmente nos comentários das páginas católicas, teria sido identificado como atividade suspeita, gerando o "apagão" de dois dias atrás.

Verdadeira ou não a explicação que corre até o momento sobre este caso, a censura no Facebook é um tema premente. Precisamos falar sobre este assunto para entender não só os padrões dessa comunidade virtual, mas também a situação política para a qual caminhamos e o lugar que nós, cristãos, temos neste "admirável mundo novo" que querem construir.

Os Padrões da Comunidade de Mark Zuckerberg

Antes de mais nada, o Facebook é uma comunidade que, como qualquer outra, é regida por algumas normas, políticas de conduta que devem ser aceitas por todos os que nela ingressam. São os chamados "Padrões da Comunidade", que ajudam "a entender os tipos de compartilhamentos permitidos no Facebook e os tipos de conteúdos que podem ser denunciados e removidos". Entre estes últimos, alguns são proibidos por razões muito evidentes: é o caso de postagens relacionadas a "atividades criminosas" ou "exploração e violência sexual", e também de materiais que exibam "nudez" ou "violência e conteúdo gráfico". (Ainda que, nós sabemos, muitos absurdos ainda passem pelo crivo dos censores, sem maiores problemas.)

Outro item importante, porém, e que está gerando bastante discussão ultimamente, é o chamado "discurso de ódio". Segundo o próprio Facebook:

O Facebook remove discursos de ódio, o que inclui conteúdos que ataquem diretamente as pessoas com base em: raça, etnia, nacionalidade, religião, orientação sexual, gênero ou identidade de gênero, ou deficiências graves ou doenças.

Organizações e pessoas dedicadas a promover o ódio contra grupos protegidos não têm a presença permitida no Facebook. Levando em conta nossos padrões, precisamos que a nossa comunidade denuncie esse tipo de conteúdo para nós.
Mark Zuckerberg, o fundador da comunidade Facebook.

Os que estão acostumados com nosso conteúdo começam a enxergar já aqui o problema que os cristãos poderão ter com essas diretrizes claramente ideológicas do Facebook: no mundo fictício de Mark Zuckerberg, as categorias "orientação sexual" e "identidade de gênero" são perfeitamente válidas para caracterizar um discurso de ódio. (Não há tempo para explicar em detalhes o perigo dessas expressões, mas em nosso site nós possuímos abundante material sobre o assunto. A aula Sexo ou gênero? pode ser uma ótima introdução a esse respeito.)

O que aconteceria, então, cabe perguntar, se alguém publicasse em sua linha do tempo, por exemplo, que "os libertinos, idólatras, adúlteros, efeminados, sodomitas, [...] ninguém desses terá parte no Reino de Deus" ( 1Cor 6, 10)? Ou que, de acordo com o Catecismo da Igreja Católica, "os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados" e "não podem, em caso algum, ser aprovados" (§ 2357)? Essa orientação moral, que critica abertamente certas "orientações sexuais", poderia ser qualificada como "discurso de ódio"?

Quanto à "identidade de gênero", como o Facebook lidaria com a figura de um Walt Heyer, por exemplo — dois de cujos textos já traduzimos aqui neste espaço —, que abandonou o transgenderismo para viver de acordo com o seu sexo biológico e, agora, escreve ajudando as pessoas justamente a saírem deste mundo? Atitudes assim também poderiam ser interpretadas como "discurso de ódio"?

Enfim, como serão tratados os compartilhamentos de vídeos e textos, que temos aos montes, afirmando categoricamente que "a teoria de gênero é uma farsa"? Com que régua serão medidas essas publicações que põem em xeque as próprias políticas da comunidade zuckerberguiana?

Quem decide o que é "discurso de ódio"?

A essas perguntas muito simples se somam ainda muitas outras interrogações, dentre as quais destacamos as seguintes, muito oportunas, feitas pelo ensaísta conservador Bernardo Pires Küster:

No meio da documentação que é apresentada por Bernardo neste vídeo, há um texto, publicado pelo próprio Facebook, no qual um diretor da rede tenta responder "quem deve decidir o que é discurso de ódio em uma comunidade global online".

Neste texto, fica bem claro que o Facebook tem ciência de que certas restrições podem parecer uma "censura". Justamente por isso, a rede de Zuckerberg está fazendo grandes investimentos na análise de conteúdo. "Ao longo do próximo ano", eles garantem, "acrescentaremos 3 mil pessoas ao time de operações de nossa comunidade ao redor do mundo, além das 4,5 mil que possuímos atualmente."

A grande preocupação com relação a essas medidas, porém, tem a ver não tanto com a quantidade de pessoas trabalhando na área, mas com a qualidade do serviço a ser prestado. Ao mesmo tempo em que o Facebook se compromete, por exemplo, "a confrontar o preconceito (bias, em inglês) onde quer que ele exista", os funcionários da rede sem nenhum pudor recomendam, para este debate sobre liberdade de expressão, dois sites financiados por ninguém menos que o metacapitalista George Soros e a fundação internacional MacArthur — esta última notória defensora da causa do aborto na América Latina. Os sites se chamam Free Speech Debate e Dangerous Speech Project, e essa informação é pública (basta acessar aqui e aqui).

Trocando em miúdos, é com grupos alinhados à esquerda mundial que o Facebook pretende definir os contornos do chamado "discurso de ódio". Odioso será o que os movimentos feministas, LGBTs e ambientalistas considerarem como tal. Por esse motivo, cristãos e conservadores de um modo geral estão com os dias contados no Facebook. Escrever "Amém" nos comentários de publicações católicas será, em questão de pouco tempo, o menor de nossos problemas.

Uma estratégia para silenciar cristãos

Entender isso é importante, como já dito, não só para sobrevivermos no Facebook. Desde agora, na verdade, antes mesmo que alguma medida mais drástica seja tomada em relação a nós, precisamos articular novos meios de manter contato com as pessoas, de fornecer informações a elas e de promover nossos apostolados virtuais.

Por isso, a todos que estamos excessivamente dependentes, de um modo ou de outro, desta ferramenta, está na hora de começar a pensar em outras alternativas: um bom começo pode ser fortalecer nossas listas de e-mails, investir na criação de redes independentes e forçar os usuários a visitarem as nossas próprias plataformas. O conhecido site católico norte-americano Church Militant começou a fazer isso há um tempo, e está tendo sucesso.

Ninguém se iluda pensando, no entanto, que só na Internet tentarão calar-nos a boca. A comunidade global do Facebook é apenas um instrumento do movimento globalista, a serviço da implantação sistemática de uma Nova Ordem Mundial, com novas leis, novos valores e novos comportamentos a serem estabelecidos, à revelia dos verdadeiros interesses das pessoas comuns. Neste mundo que eles planejam fundar — do qual, novamente, o Facebook não passa de "miniatura" —, o lugar de os cristãos expressarem livremente as suas opiniões é tão-somente a sacristia de suas igrejas. No espaço público, ao contrário, suas posições morais poderão facilmente ser qualificadas como "discurso de ódio".

Em um mundo cada vez mais avesso não só aos verdadeiros ensinamentos de Jesus Cristo, mas até mesmo aos princípios mais básicos da lei natural, não poderia ser diferente. A própria existência dos cristãos é um incômodo tremendo, praticamente intolerável, pois a verdade é que somos os únicos a resistir, com a fé e com nossos velhos hábitos, à ditadura do discurso único que destroça tanto as soberanias nacionais quanto — o que é ainda pior — as consciências dos que vivem à nossa volta.

Não é que todos estejam de acordo com o que querem impor um Mark Zuckerberg, um George Soros ou uma Organização das Nações Unidas. No Brasil, por exemplo, a maior parte da população é relativamente conservadora em temas morais. No fundo, o brasileiro médio ainda é religioso e, se tiver a oportunidade de dizer o que pensa, sem coação, sobre o aborto e o "casamento" gay, por exemplo, são poucos os que se manifestarão favoráveis a essas pautas progressistas. O problema é acharmos que simplesmente não temos opção; que todas essas revoluções morais são "inevitáveis". As pessoas olham para a grande mídia, para os seus professores universitários, e pensam consigo: ou eu aceito e fico bem com todos, ou então serei perseguido e ostracizado. E é assim que bilionários sem moral, do conforto burguês de seus escritórios, têm o mundo inteiro em suas mãos e dizem a todos tranquilamente o que pensar, o que querer e como agir.

A história recente da humanidade, com tantas revoluções promovidas por pequenos grupos — insignificantes numericamente, mas poderosos econômica e culturalmente —, só confirma o que disse certa vez o grande jurista brasileiro José Pedro Galvão de Sousa: o que estamos presenciando não é a "rebelião das massas"; é a rebelião, isso sim, das minorias.

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