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A equipe de nosso site identifica-se como CNP, de Christo Nihil Praeponere, expressão latina retirada da Regra de S. Bento que significa: “Nada colocar antes de Cristo”. A frase também pode ser encontrada na obra de S. Cipriano de Cartago como um “lema de vida”, que deveria ser adotado por todos os homens. Uma vez que Nosso Senhor Jesus Cristo, “quando éramos ainda fracos” (Rm 5, 8), não poupou nada de si para nos salvar, aceitando a morte de cruz como prova de seu amor incondicional, nós agora somos instados a dar testemunho desse mesmo amor, colocando o “Deus unigênito, que está no seio do Pai” (Jo 1, 18), acima de todos os nossos interesses e gostos. Esse é o sentido da expressão de S. Bento que dá nome ao nosso apostolado.
Para cumprir tal propósito, nós já apresentamos a Pessoa Divina de Jesus em vários de nossos programas e cursos. Agora, no entanto, queremos dar um passo além, compondo “um relato coordenado dos fatos ocorridos”, por assim dizer, “como nos transmitiram os que foram testemunhas oculares desde o princípio e se tornaram ministros da Palavra” (Lc 1, 1-2). Ou seja, vamos lançar um curso inteiramente de Cristologia, com uma exposição clara e sistemática daquilo que nós professamos no Credo sobre Jesus, orientando-nos, em primeiro lugar, pela firme base dogmática do Depósito da Fé, custodiado pelo Magistério da Igreja.
Não se trata de um trabalho fácil, é verdade. Uma das perícopes do capítulo 16 do Evangelho de S. Mateus mostra como precisamente os contemporâneos de Cristo enganaram-se a respeito dele: “Alguns dizem que é João Batista; outros, que é Elias; outros, que é Jeremias ou um dos profetas” (v. 14). De modo semelhante, os homens de hoje também têm as opiniões mais esdrúxulas sobre Nosso Senhor, o que nos leva a concluir: vox populi non est vox Dei.
Acontece que o rosto de Jesus de Nazaré não é o de “um homem qualquer”, mas o do “Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16, 15), como afirmou S. Pedro, numa primeira definição dogmática ex cathedra de um Papa, se assim pudéssemos dizer. Em razão disso, um verdadeiro tratado de Cristologia não pode ser elaborado, senão por uma firme adesão de fé àquilo que a Igreja, no seu Magistério definitivo e solene, já nos apresentou. E é isso o que pretendemos fazer neste novo curso, prevenindo-nos outrossim contra tantas correntes teológicas modernas, que desfiguram a imagem de Jesus em milhares de fragmentos, um em contradição com o outro e com o Catecismo.
Por outro lado, a teologia obviamente não pode se confundir com a catequese. Sendo assim, neste nosso trabalho também teremos o dever científico de harmonizar os dados da Revelação com a inteligência, segundo a máxima de S. Anselmo de Cantuária: fides quaerens intellectum. Apesar das filosofias racionalistas e idealistas, a Igreja sustenta firmemente que “crer é um ato autenticamente humano”, não sendo, portanto, “contrário nem à liberdade nem à inteligência do homem depositar sua confiança em Deus e dar sua adesão às verdades por Ele reveladas” (Catecismo, n. 154).
A inteligência do homem, embora seja a mais débil dentre as dos seres racionais, tem ainda a capacidade de perceber, mesmo que de forma limitada, o nexo e a lógica de tudo quanto Deus criou e revelou. Por conseguinte, é nosso dever procurar compreender melhor as obras de Deus, a fim de estarmos sempre prontos a dar a razão de nossa fé (cf. 1Pe 3, 15).
Uma especulação teológica acurada é imprescindível para não criarmos juízos estapafúrdios sobre os dogmas. Por exemplo, a definição do Concílio de Éfeso acerca da união hipostática em Jesus afirma, basicamente, que Nosso Senhor é “verdadeiro Deus e verdadeiro homem”. A nossa tarefa, consequentemente, é a de explicar como essas duas realidades estão juntas de uma maneira inteiramente inédita e real. As naturezas de Jesus não estão unidas como as de um minotauro, nem é Ele um ser intermediário ou semideus, como Hércules. Trata-se, pois, de um mistério do qual devemos nos aproximar com toda prudência e reverência, sendo homens profundamente católicos.
É preciso ter claro que a teologia não tem o objetivo de dar uma explicação cartesiana sobre Deus e a Revelação — isto é, esgotar todo o mistério divino —, mas o de prestar um humilde serviço aos homens, explicando-lhes dentro do possível a natureza daquilo que Deus livremente dispôs-se a revelar. De fato, a Trindade Santíssima será sempre um mistério, diz-nos S. Tomás, porque “não nos é possível apreender de Deus o que Ele é, senão apenas o que Ele não é, e como se situam os outros seres em relação a Ele” (CG I 30).
Daí a necessidade de nos guiarmos por aquilo que o Magistério caridosamente estabeleceu, como balizas na nossa estrada para Jesus. A partir dessas orientações, poderemos verificar a razoabilidade da nossa fé, a saber: o que significa dizer que Jesus é o verdadeiro Filho de Deus? Como se deu a Encarnação do Verbo? E de que modo Maria é realmente a Mãe de Jesus?
Devemos, por isso, insistir uma vez mais: este itinerário, que nos levará a descobrir um corredor com tantas outras portas a serem abertas, exigirá de nós a mesma disposição de S. Paulo: “De fato, eu vos transmiti, antes de tudo, o que eu mesmo recebi” (1Cor 15, 3). Esse texto foi escrito 20 anos após a Ascensão e talvez seja o primeiro relato escrito das aparições de Jesus ressuscitado. Nele vemos a alma do verdadeiro teólogo, que não inventa seu próprio caminho, mas recebe da Tradição da Igreja a fé católica em Nosso Senhor Jesus. S. Paulo é um modelo de quem nada colocou antes de Cristo, por se ter dedicado a conhecer somente Cristo e Cristo crucificado (cf. 1Cor 2, 2).
Por fim, mas não menos importante, nosso estudo deverá servir para sedimentar em nós a certeza de que nada podemos colocar à frente de Jesus. Contemplando “a largura, o comprimento, a altura e a profundidade” (Ef 3, 17) do Verbo de Deus feito homem, abriremos nossas almas ao toque da graça e ao seu amor incondicional, movendo-nos a amá-lo de volta, porque só amamos o que conhecemos. E é apenas com esse espírito que poderemos vislumbrar, já aqui na terra, aquilo que os santos contemplam no Céu.
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