O hino Schweizerpsalm ("Salmo Suíço") foi composto na metade do século XIX e o povo suíço sempre conviveu muito bem com a letra da música, chegando a adotá-la, em 1981, como canção oficial da nação.
Mesmo tendo sido objeto de deliberação parlamentar na década de 60 – e, portanto, legitimamente escolhido - o atual hino nacional está ameaçado. De fato, o termo "salmo" não é sem motivo: nas quatro versões já feitas da canção, há inúmeras referências ao Criador. Pede-se ao povo suíço que eleve orações a Deus, que O adore, O exalte e O contemple nas coisas criadas: "no surgir da manhã esplendorosa", "no vir da noite fulgurosa", "no pousar da névoa densa", "na neblina" e "no ocorrer da tempestade feroz", por exemplo.
Ainda que muitos não vejam problemas nisto – afinal, como ensina o Concílio Vaticano I, Deus "pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão humana, por meio das coisas criadas" –, há quem se incomode.
Lukas Niederberger, membro da Sociedade Suíça para Utilidade Pública (SGG, na sigla em alemão), quer que o Estado suíço adote um novo hino[1]. A entidade vai oferecer à melhor composição uma recompensa estimada em 25 mil reais. Para Niederberger, "o grande problema é acima de tudo a letra". "Oficialmente, o hino é um salmo, uma oração, mas claro que temos uma sociedade aberta, religiosamente neutra. Nós temos ateus, não temos um único Deus, então este hino é uma dificuldade", afirmou.
A fala de Niederberger é reveladora. A princípio, se parece com mais uma simples lição de tolerância, mas, olhando de perto, é uma confissão. "Nós temos ateus", diz ele, "não temos um único Deus". O gato se escondeu e deixou o rabo de fora: na tentativa de não assumir para si nenhuma convicção religiosa, Niederberger revela seu ateísmo. Ele crê que "não temos um único Deus". No entanto, ao contrário da fé no Deus único, "intolerável" para o hino nacional da Suíça, o seu ateísmo cabe muito bem no lugar.
Não se trata de defender que a religiosidade de um povo se mede pelo número de referências religiosas de uma canção popular. O hino nacional brasileiro não fala de Deus um momento sequer e, no entanto, nossa nação está fortemente ligada à fé em um Deus único, que cria o universo e o assiste providentemente. A grande questão é o que esta proposta representa: a abolição da religião, a intolerância com os valores cristãos que moldaram nossa Civilização, a tentativa de tirar Deus dos ambientes e elementos públicos. Para os laicistas intolerantes, Deus não só não cabe em um hino, como deve ser excluído das escolas, das repartições públicas, dos diplomas legais e, se fosse possível, da própria alma dos povos.
O Papa Bento XVI estava certo: "A tolerância que, por assim dizer, admite Deus como opinião particular, mas que lhe rejeita o domínio público, a realidade do mundo e da nossa vida, não é tolerância mas hipocrisia"[2]. Os homens precisam aprender a reconhecer o primado de Deus no mundo. Caso contrário, "em vão trabalharão seus construtores" (Sl 126, 1).
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