No dia 11 de agosto de 2013, com apenas onze horas de diferença, morreram, nos Estados Unidos, Harold e Ruth Knapke, de 91 e 89 anos de idade, respectivamente. Os dois eram casados há 65 anos e, como católicos devotos, sempre cultivavam sua fé e iam à Missa juntos, razão pela qual seus familiares consideram um “presente de Deus" sua separação não se haver prolongado. Os dois viviam em uma residência em Versailles, no oeste do estado de Ohio.
Eles se conheceram no terceiro ano e mantiveram uma ardente história de amor até o último mês, quando partiram juntos para a morada eterna. “Foi muito duro ver os dois partir de uma vez, mas foi uma coisa boa, no final das contas, ver os milagres que Deus pode fazer", conta um dos seus quatorze netos, Jeff Simon. “Eles foram muito bons modelos para nós."
Ruth Knapke foi acometida por uma séria infecção dias antes de sua morte. “Quando ficou claro que mamãe estava morrendo – e o papai entendeu isso – ele passou a maior parte da noite sem dormir", conta uma das seis filhas do casal, Margaret Knapke. “No outro dia, havia certa tranquilidade nele, e ele começou a enfraquecer rapidamente. Como vocês devem saber, papai morreu 11 horas antes de mamãe e nós achamos que ele fez isso como o último ato de amor por ela. Nós acreditamos que ele queria acompanhá-la fora desta vida e na outra, e ele o fez."
Em uma sociedade que tem acolhido indiferentemente a ruptura de tantos vínculos conjugais – que, por sua vez, tantos transtornos têm causado, seja para a estabilidade social, a criação e educação dos filhos, seja para o próprio casal –, histórias como a de Harold e Ruth são um deleite para a alma. Indicam que é, sim, possível trilhar a estrada do amor duradouro e constante, por mais que esta às vezes seja cheia de curvas e dificuldades. O Papa Leão XIII destacava, em uma encíclica sobre o matrimônio cristão, que a “virtude da religião" faz com que esses múltiplos desafios e contrariedades do convívio em família “sejam suportados não somente com resignação mas com ânimo contente" [1].
Uma passagem do Cântico dos Cânticos diz: aquae multae non potuerunt extinguere caritatem – as muitas águas não poderão apagar o amor. A história de Harold e Ruth, que passaram 65 anos de suas vidas juntos, não esteve isenta de problemas, de águas fortes que muitas vezes ameaçaram o seu casamento. No fim de sua vida, Ruth teve que enfrentar uma grave enfermidade e, ainda assim, Harold permaneceu ao seu lado, fiel “na saúde e na doença", como havia prometido no dia de sua união.
Engana-se quem pensa que estas coisas diminuem a grandeza do sacramento do Matrimônio, ou que muitos sacrifícios conduzem à infelicidade. “Pobre conceito tem do matrimônio (...) quem pensa que a alegria acaba quando começam as penas e os contratempos que a vida sempre traz consigo", diz São Josemaría Escrivá. “Aí é que o amor se torna forte. As enxurradas das mágoas e das contrariedades não são capazes de afogar o verdadeiro amor: une mais o sacrifício generosamente partilhado" [2].
É por causa de um conceito equivocado de amor que esta época tem um número tão assombroso de divórcios. O amor que muitos querem experimentar não é o amor “forte como a morte" (Ct 8, 6) do qual fala as Escrituras, não é o amor que Cristo pede a seus discípulos que tenham, olhando para a Cruz como exemplo; é uma caricatura inventada como mero instrumento de prazer. A consequência é que, assim como é efêmero o prazer, também são passageiros os relacionamentos. Não possuindo fundamentos fiáveis, sendo construídos na areia, eles são facilmente abalados e levados à ruína.
Harold e Ruth são modelos não só para os seus filhos e netos, mas para todos os homens desta geração. Eles ensinam aos homens a construir a sua casa sobre a rocha (cf. Mt 7, 24) e a tomarem consciência de que o que Deus uniu, o homem não pode separar (cf. Mt 19, 6).
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