Depois do reconhecimento das virtudes heroicas do Papa Pio XII, em 2009, por iniciativa de Bento XVI, foi a vez do Papa Francisco demonstrar seu apreço pelo grande Pastor Angelicus, que conduziu a Igreja durante os terríveis anos da Segunda Guerra Mundial. No último mês, em carta enviada ao vigário-geral da diocese de Roma, o cardeal Agostino Vallini, o Santo Padre expressou sua gratidão "a quem foi pai solícito e providente"[1].

No dia 19 de julho de 1943, isto é, há 70 anos, a cidade de Roma foi bombardeada pelos Aliados, apesar dos insistentes pedidos de Pio XII para que a cidade eterna fosse poupada dos horrores da guerra. O conhecido bairro São Lourenço foi devastado: uma igreja tradicional dedicada ao mártir foi destruída e inúmeras vidas foram ceifadas. Sensível ao sofrimento dos moradores de Roma e incansável em seu esforço pela conciliação em tempos de conflito, o Papa Pacelli visitou o mesmo bairro, pouco tempo depois, para confortar o povo romano e clamar por paz.

O Papa Francisco recordou o incidente e louvou o "venerável Pio XII, que, naquelas horas terríveis, ficou próximo de seus concidadãos tão duramente golpeados". "O Papa Pacelli – escreveu – não hesitou em correr, imediatamente e sem escolta, às ruínas ainda fumegantes do bairro de São Lourenço, a fim de socorrer e consolar a população consternada. Também naquela ocasião se mostrou Pastor com premência, que está no meio de seu próprio rebanho, especialmente na hora da prova, pronto a compartilhar os sofrimentos de sua gente."

Francisco também lembrou a grande obra de caridade realizada pela Igreja durante a denominada "grande guerra", salvando inúmeras vidas e aliviando as almas. "O gesto do Papa Pacelli é o sinal da obra incessante da Santa Sé e da Igreja em suas diversas articulações, paróquias, institutos religiosos, residências, para dar alívio à população. Muitos bispos, sacerdotes religiosos e religiosas em Roma e em toda a Itália foram como o Bom Samaritano da parábola evangélica, inclinado ao irmão na dor, para ajudar-lhe e dar-lhe conforto e esperança."

De fato, é conhecida a ajuda que a Igreja, por meio do venerável Pio XII, concedeu às vítimas da guerra, especialmente aos judeus. São inúmeros os testemunhos de personalidades judias que abonam a ação do Pastor Angelicus. O diplomata israelense Pinchas Lapide esclarece que, "durante o pontificado de Pio XII, a Igreja católica foi o instrumento de salvação de, pelo menos, 700 000, mas talvez também de 860 000 judeus que deviam morrer às mãos dos nazis". Um judeu, que ficou quatro meses escondido nas catacumbas de São Calisto, em Roma, assegurou que "a Igreja católica foi para todos nós um seguro lugar de refúgio". "Quando um judeu encontrava um padre no caminho sabia que podia tranquilamente pedir-lhe refúgio e assistência".

Também é sabido, por exemplo, que foram muitos os conventos e mosteiros em Roma a abrirem suas portas para o abrigo de refugiados. Nada disto seria possível sem "instruções precisas, orais ou escritas, provenientes de Roma", garante o jornalista Andrea Tornielli, autor do livro "Pio XII, o Papa dos judeus". Tornielli escreve ainda que "só a necessidade de criar um bode expiatório, para cima de cujas costas se atirem as muitas culpas de quem não mexeu um dedo para ajudar os judeus, pode justificar que esta extraordinária ajuda humanitária seja esquecida"[2].

Pio XII foi Pontífice da Santa Igreja de 1939 até o ano de 1958, quando morreu. Escreveu inúmeros discursos, encíclicas e radiomensagens, tendo abordado neles uma infinidade de questões, como o evolucionismo, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus e a Liturgia católica. Grande parte deste tesouro pode ser consultada no site da Santa Sé[3].

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