A Ordem dos Pregadores celebra vários de seus santos num período muito curto de tempo, entre o final de abril e o início de maio. 

No calendário tradicional, Santa Inês de Montepulciano é celebrada a 20 de abril, Pedro Mártir no dia 29, Catarina de Siena no dia 30, o Papa Pio V no dia 5 de maio e Santo Antonino de Florença no dia 10. 

No [calendário da Ordem no] rito ordinário, Pedro Mártir foi transferido para 4 de junho, dia da trasladação de suas relíquias; Santa Catarina está no antigo dia de São Pedro Mártir (ou de Verona), e São Pio V no antigo dia dela, deixando vago para São Vicente Ferrer o dia 5 [de maio, no calendário da Ordem]. Antonino, que foi canonizado em 1523, permanece em seu dia tradicional [também no calendário da Ordem]; ele foi adicionado ao calendário romano geral em 1683, mas removido em 1969. [N.T.: O Martirológio Romano registra o nome de Santo Antonino hoje, 2 de maio, data de seu falecimento.]

“O Retábulo de São Domingos”, por Girolamo Romanino. Na parte inferior da pintura estão São Paulo, Santo Tomás, São Pedro de Verona, São Domingos, Santo Antonino, São Vicente Ferrer e São Pedro. Ajoelhados, estão os santos Faustino e Jovita, padroeiros de Bréscia, onde a pintura fôra originalmente encomendada.

Antonino nasceu em Florença em 1389 e foi batizado “Antônio”. Mas, por sua baixa estatura, sempre foi conhecido pelo diminutivo “Antonino”, mesmo nos livros litúrgicos. Conta-se uma história famosa sobre como ele foi admitido à Ordem. O prior de Santa Maria Novella, a casa dominicana em Florença, era o Beato João Dominici, um dos principais clérigos de sua época, particularmente ativo no reavivamento do espírito original de austeridade nas casas italianas da Ordem, que haviam caído muito no laxismo. Pensando em dissuadir Antonino, de quinze anos, a quem considerava muito frágil para os rigores da vida religiosa, mandou-lhe esperar e só voltar quando tivesse memorizado os Decretais de Graciano, o manual de direito canônico da Idade Média. Um ano depois, o menino voltou com o volumoso tomo devidamente memorizado e, após responder a várias perguntas sobre a obra, foi acolhido sem maiores hesitações.

Nos planos do prior, estava reservada a Antonino a fundação futura de uma casa reformada em Fiésole. Quando o projeto fosse finalmente concluído, contaria também com o Beato Fra Angelico, grande amigo seu, como um de seus primeiros membros. Ele também conheceu pelo menos três outros beatos dominicanos: Lourenço de Ripafratta, Constâncio de Fabriano e Pedro Capucci.

O jovem frade era não só brilhante nos estudos, como demonstra esse episódio, mas também um líder nato e, pouco tempo depois de sua ordenação sacerdotal, passou a ocupar um cargo de governo após o outro. Serviu como prior de várias casas, inclusive três das maiores: Santa Maria Novella, Santa Maria sopra Minerva em Roma e San Domenico Maggiore em Nápoles, trazendo o espírito reformador para cada uma delas. Em 1436, ajudou a fundar San Marco, a segunda casa dominicana em sua cidade natal, juntamente com Fra Angelico, do qual muitas obras se encontram no lugar até o presente.

Escultura de Santo Antonino na fachada da Catedral de Florença.

Além de seu trabalho como pregador e reformador religioso, Antonino foi um grande estudioso do direito canônico, numa época em que este era muito apreciado dentro da Igreja. Em tal condição, o santo era consultado com frequência pelos Papas. Acredita-se que tenha servido no [Tribunal da] Rota Romana e, por ordem do Papa Eugênio IV, tenha comparecido às várias sessões do Concílio Ecumênico de Florença. Em 1446, quando morreu o arcebispo de sua terra natal, ele foi nomeado para o cargo, muito contra a sua vontade. Assim como tantos outros bispos santos (Gregório Magno, por exemplo), ele primeiro tentou se esconder, fugindo para a ilha da Sardenha. Tendo sido descoberto, ele apelou ao Papa, dizendo que estava muito fraco fisicamente para o trabalho. Eugênio, porém, não se deixou demover e, por fim, forçou-o a aceitar a sagração episcopal, ameaçando-o de excomunhão por desobediência se não o fizesse.

Provando a veracidade da máxima de que o poder é melhor dado a quem não o deseja, Antonino foi um bispo exemplar em todos os sentidos, um pai para os pobres, e tão respeitado por sua prudência e sabedoria que ficou conhecido entre o povo como “Antonino dos Conselhos”. No ano seguinte à sua nomeação, foi convocado em Roma para ministrar os últimos sacramentos ao Papa, que morreu nos seus braços. O sucessor de Eugênio, Nicolau V, proibiu que suas decisões fossem questionadas em Roma; Pio II o nomeou para uma comissão responsável pela reforma dos tribunais romanos, e a República Florentina fê-lo um de seus embaixadores em várias ocasiões.

“Santo Antonino dando esmolas”, de Lorenzo Lotto.

Apesar das intermináveis obrigações que recaem sobre um homem de sua dignidade, Antonino também era assíduo à vida de oração, pregando, celebrando a Missa com frequência e rezando o Ofício Divino completo (muitas vezes no coro da catedral) — isso numa época em que facilmente se concediam dispensas a prelados muito ocupados. Ele também encontrou tempo para escrever um importante tratado de teologia moral, um manual de ampla circulação entre os confessores, uma crônica da história do mundo e a biografia do Beato João Dominici. Era comum que os prelados de sés abastadas (e Florença era realmente muito rica) mantivessem um grande estábulo para as viagens de suas comitivas, mas Antonino tinha só uma mula, que ele vendeu diversas vezes a fim de arrecadar dinheiro para os pobres — com a mesma frequência, porém, seus benfeitores a compravam de volta e lha devolviam.

No período final de seu governo como arcebispo, Florença passou por uma série de desastres — um surto de peste com duração de um ano, seguido por uma fome e, enfim, entre 1453 e 1455, uma série de terremotos. Em meio a tudo isso, Antonino não poupou gastos com caridade nem esforços pessoais para cuidar das vítimas, levando pelo exemplo muitos outros a fazer o mesmo. Cosme de Médici, que contribuíra com bastante dinheiro para fundar [a casa] San Marco, disse a seu respeito: “Nossa cidade experimentou todos os tipos de infortúnios: incêndio, terremoto, seca, peste, sedições e conspirações. Acredito que, hoje, ela não seria mais que um amontoado de ruínas, não fossem as orações de nosso santo arcebispo”.

Antonino morreu a 2 de maio de 1455, e seu funeral foi assistido pessoalmente pelo Papa Pio II. Ele foi canonizado pelo Papa Adriano VI (1522–23) como modelo de reformador, numa época que precisava muito de reformas — um fato que Adriano foi o primeiro Papa a reconhecer de fato. (Ele poderia muito bem ter alcançado em maior escala, no seio da Igreja, um pouco do que Antonino conseguiu em sua Ordem e em sua cidade, não tivesse ele morrido com menos de dois anos de pontificado. Adriano foi o último Papa não italiano a reinar antes de João Paulo II.) Em 1559, o corpo de Antonino foi achado incorrupto e levado para a capela onde repousa ainda hoje na igreja de San Marco em Florença.

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