"Há mais mártires hoje do que nos primeiros tempos da Igreja", disse certa vez o Papa Francisco, em uma frase que sintetiza a condição dos cristãos no Oriente Médio. De fato, não há palavra para definir melhor o que são esses valentes seguidores de Cristo: o martírio, que eles aceitam corajosa e generosamente, eleva-os à perfeita imitação de Jesus, ao ponto mais alto da caridade, como está escrito: "Ninguém tem amor maior que aquele que dá a vida por seus amigos" (Jo 15, 13).

É o que mostra o testemunho do padre Douglas Al-Bazi, pároco da igreja de Mar Elia, em Erbil, no Iraque.

No dia 23 de agosto, o sacerdote aproveitou o conhecido Encontro de Rímini para falar sobre os "mártires de hoje", vítimas do regime de terror que se espalha em todo o Oriente Médio pelo Estado Islâmico.

"Quem acha que o ISIS não representa o Islã, está errado", disse o padre. " O ISIS representa cem por cento o Islã. Se alguém diz: 'Não, eu tenho amigos muçulmanos, eles são legais'. Sim, eles são legais aqui. Mas, lá, eles são assassinos". As palavras do sacerdote são uma resposta clara e inequívoca ao discurso recente de um chefe de Estado, para quem 99,9% dos muçulmanos seriam contrários ao islamismo radical.

Durante a sua fala, o pe. Al-Bazi ressaltou a sua pertença à "Igreja dos mártires", que ele também chamou de "Igreja de sangue". "Antes de 2003, éramos mais de 2 milhões de cristãos no Iraque. Agora, não passamos de 200 mil", ele conta. O clérigo mantém dois abrigos para refugiados na região onde trabalha e acolhe todos os dias milhares de famílias, vindas das mais diversas regiões do Médio Oriente. "Não chamem o que acontece em meu país de conflito. O nome disso é genocídio."

"Como sacerdotes no Iraque e no Oriente Médio, nós vivemos uma missão única", ele diz. "Não sabemos se saíremos da igreja ou voltaremos a ela vivos. Quando estava em Bagdá, eles implodiram uma igreja na minha frente. Eu mesmo sobrevivi duas vezes a bombas que estouraram bem próximas a mim, e já fui atingido na perna por uma AK-47, uma espécie de Kalashnikov. (...) Ainda acredito que, mais cedo ou mais tarde, eles irão me matar."

O padre também revela detalhes dos dias em que foi mantido refém por terroristas muçulmanos. O sequestro aconteceu depois da celebração de uma Missa dominical, quando a estrada que dava acesso à igreja foi bloqueada e o sacerdote foi levado para um lugar desconhecido. De imediato, um dos sequestradores quebrou o seu nariz, acertando-o com o joelho. Com as mãos atadas e os olhos vendados por 9 dias, o padre Douglas permaneceu quatro dias sem tomar sequer um copo d'água.

Quando começaram as negociações para libertá-lo, o sacerdote conta que já tinha a sua morte como certa. "Eu achava que eles iriam me matar, atirar em mim. Quando falei com outro padre por telefone, com o viva-voz ligado, disse a ele: 'É isso, eu não vou mais voltar'. Então, ele disse: 'Fiquem com o padre Douglas. Nós vamos inclui-lo como um de nossos mártires, podem ficar com ele'."

"Naquele dia – continua o padre –, eles ficaram irritados e me levaram para outro quarto. Quando falavam comigo, eles ligavam a TV em um canal muçulmano e aumentavam o volume. Assim, se eu gritasse, nenhum vizinho ouviria a minha voz. Eles também faziam isso para mostrar aos outros quão religiosos eles eram, ouvindo o Corão todos os dias."

"Um deles bateu em meu dente e eu senti que ele sangrava. Ele me disse: 'Não se preocupe. Você tem muitos dentes e nós temos a noite inteira.' Depois disso, eles bateram em minhas costas com o martelo e quebraram a minha coluna."

O pe. Al-Bazi conta que só foi libertado depois que a sua comunidade pagou o resgate aos sequestradores. "Eu, é claro, nunca me esqueço do que aconteceu durante aqueles 9 dias, que é exatamente o mesmo que está acontecendo agora a muito cristãos no Oriente Médio".

O sacerdote iraquiano também relata que, quando estava acorrentado, usava os anéis da corrente para rezar o Santo Terço. "Quando me acorrentaram, eles me prenderam com um cadeado grande. Com os 10 anéis suspensos, eu rezava o meu Rosário: os 10 anéis eram as Ave-Marias e o cadeado era o Pai Nosso."

Durante o dia, os sequestradores se reuniam e procuravam "direção espiritual" com ele. "Eles costumavam pedir a minha opinião como pai espiritual. Um deles perguntava: 'O que eu devo fazer com a minha mulher?' E eu, acorrentado e com venda nos olhos, dizia: 'Vamos lá, seja amável com ela, chame-a de meu bem, meu amor...' À noite, eram essas mesmas pessoas que me batiam."

Ele continuou o seu testemunho com um apelo e um alerta. "Minha Igreja – diz ele – ainda está na Sexta-Feira Santa. Ajude-nos a passar para o Domingo da Ressurreição. (...) Sejam a nossa voz. Falem! E acordem. O câncer está às suas portas! Eles vão destruir vocês! Os cristãos no Oriente Médio e no Iraque são o único grupo que viu o rosto do demônio: o Islã".

No fim, portando uma mensagem de esperança, o padre concluiu fazendo uma bela analogia da perseguição aos cristãos com a Cruz de Cristo. "Jesus disse: Tomem a sua cruz, e nós estamos fazendo isso. Porém, mais importante que carregar a cruz é segui-Lo, e isso significa aceitar, resistir e comprometer-se até o fim. Eu acredito que eles vão nos destruir no Oriente Médio, mas acredito também que a última palavra a sair de nossa boca será: Jesus nos salva. Nunca vamos desistir. (...) Nós pertencemos a Jesus, não à terra. Jesus é a nossa terra, a nossa Terra Prometida. Deixem meu povo chegar à Terra Prometida. Ajam!"

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