Imagine o seguinte: pesquisadores descobrem que um conservante alimentício popular diminui em 50% a libido e o desempenho sexual masculino. Rapazes o evitariam como se fosse uma praga. Imagine esta outra possibilidade: um suplemento que faz os homens acreditarem que estão ficando mais fortes, quando, na verdade, ele os está deixando mais fracos depois que o ingerem.
Se os fabricantes estivessem ganhando muito dinheiro com o produto por meio de promessas mentirosas, desde “ganho de massa muscular” a “melhoria de performance”, provavelmente haveria inúmeros pedidos para proibi-lo ou regulá-lo a fim de “proteger os jovens de capitalistas inescrupulosos que ganham dinheiro com a exploração e perversão dos desejos deles por algo nobre e bom”.
Posto isto, é difícil compreender a atual despreocupação generalizada em relação à pornografia. Vários estudos mostram que, quando consomem pornografia na internet, os homens perdem interesse em relações sexuais de verdade com mulheres de verdade — um enorme problema, como pode confirmar qualquer sacerdote que ouve confissões.
O sexo de verdade não pode ser controlado da mesma forma que o sexo virtual; não permite a rápida alternância entre imagens com o objetivo de aumentar os níveis de estímulo; assim, dificilmente ele produz os mesmos níveis de estimulantes químicos no cérebro. É por isso que constatamos o aumento perturbador no número de casamentos sem sexo, o qual parece corresponder ao aumento do consumo de pornografia.
Bons pais não tentam preparar os filhos exatamente para aquele relacionamento conjugal e amoroso que desejam para eles no futuro? Assim como dão a eles legumes saudáveis, em vez de deixar que comam bombas de açúcar cobertas com chocolate, e fazem eles compartilharem os brinquedos com os amigos, a fim de que se tornem adultos emocionalmente estáveis, gentis e atenciosos, da mesma forma os pais fazem tudo o que está ao seu alcance para fomentar o desenvolvimento sexual saudável de seus filhos, em vez de permitir que tenham uma dieta baseada numa nutrição atraente, mas falsa, que os enfraquecerá.
Os pais não mantêm os filhos longe da pornografia porque pensam que o sexo é maligno; eles o fazem porque querem que os filhos tenham uma vida sexual saudável e alegre com alguém que amarão profundamente e com quem estarão comprometidos por toda a vida, em lugar da coisa trágica, sem sentido e sem alegria a que hoje as pessoas chamam sexo.
Portanto, quem são os verdadeiros “odiadores do sexo”? As pessoas que querem preparar os jovens para uma vida sexual duradoura e profunda com um cônjuge real, ou aqueles que querem confiná-los a uma vida pagando por um fluxo interminável de sessões de sexo virtual e sem sentido?
E há um problema raramente associado ao primeiro ponto, mas que dá origem a atitudes semelhantes e problemáticas em relação às mulheres e ao sexo.
Permitam-me dar um passo atrás. Grosso modo, a realidade biológica é a seguinte: jovens tornam-se capazes de reproduzir a espécie aproximadamente aos 13 ou 14 anos de idade (no caso das moças) e alguns anos mais tarde (no caso dos moços). Muitas vezes são equipados com todos os hormônios que os levam a desejar apenas isto. Portanto, culturas sábias preservam a infantilidade e a inocência até por volta dos 12 ou 13 anos, e nesta altura submetem os jovens a algum rito de passagem para a vida adulta (como é, por exemplo, o caso do bar mitzvah, no qual se concede a maioridade religiosa aos jovens judeus), depois do qual eles passam todo o tempo com adultos, preparando-se para a vida adulta. Porque nas culturas sábias há o entendimento de que, tão logo os jovens se tornam biologicamente adultos, eles devem estar socialmente preparados para a vida adulta em pouco tempo; do contrário, sofrerão as consequências.
Nos países modernos desenvolvidos, nós estamos sofrendo as consequências. Como ingressamos numa classe social com a mesma seriedade dos vitorianos, e como o acesso às classes superiores é feito por meio da educação (ou ao menos por meio do tempo gasto numa instituição de ensino respeitada), fazemos com que os jovens tenham de esperar. Por volta da década de 1950, já era bem difícil fazer com que esperassem até o fim do ensino médio. Mas hoje insistimos que eles esperem até o fim do ensino superior (algo que simplesmente amplia a adolescência), para então iniciarem a residência ou conseguirem o primeiro emprego. Estabeleça sua carreira primeiro, depois uma família… talvez.
O problema é o seguinte: ninguém supõe realmente que os jovens vão esperar — ao menos não para ter relações sexuais. Esperar até o casamento… de jeito nenhum. Uma pessoa deve encontrar o cônjuge “certo”, a “alma gêmea” que a ajudará a fomentar seu potencial desenvolvimento pessoal. Mas… esperar vários anos (até os trinta) para ter relações sexuais? Isto é inimaginável para algumas pessoas, talvez para a maioria. A questão é a seguinte: talvez os jovens tenham percebido algo importante; talvez apenas uma cultura insensata espere que os jovens tenham todo o potencial e toda a energia hormonal, sem os pôr em ato.
Daí temos de lidar com a perturbadora existência da “cultura do sexo casual”. Igualmente perturbador é o ressurgimento, entre alguns rapazes cristãos conservadores, daquela antiga distinção vitoriana entre garotas com que ter sexo e garotas para casar. Há rapazes católicos que terminam o relacionamento com mulheres que consideram muito atraentes sexualmente. Aqui e ali eles praticam um pouco de sexo a fim de se tornarem mais “experientes”, mas, como sabem que a fornicação é errada, concluem que deveriam parar de praticá-la (no que estão certos) e então concluem que jamais poderiam se casar com uma mulher “como aquela” porque um bom rapaz cristão não cobiçaria uma boa moça cristã.
Por que eles acham que isso seja culpa da mulher, é algo que escapa à minha compreensão, mas, seja como for, muitas vezes eles interrompem o relacionamento em questão, permanecendo ainda mais sozinhos e não menos confusos.
O que é necessário? Permitam-me sugerir um ajuste cultural, que enfatize a importância da vida doméstica familiar para o desenvolvimento humano tanto quanto enfatizamos hoje a carreira pessoal; um ajuste que volte a compreender “namoro” como sinônimo de “cortejo” e preparação para o matrimônio, e não como um test drive de diferentes modelos para encontrar o mais satisfatório; um ajuste que entenda que a “adolescência”, essa criação moderna — de um período no qual os jovens têm todas as liberdades da vida adulta e nenhuma responsabilidade —, tem sido um desastre.
Quando os jovens se tornam biologicamente capazes de reproduzir a espécie, ou fazemos com que eles se tornem socialmente adultos e capazes de pôr em ato seu potencial, ou então sofreremos consequências catastróficas.
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