Um dia, a história mostrará que uma das maiores injustiças contra as mulheres de nossa época é o controle de natalidade. Há inúmeras razões que demonstram isso, mas existe uma dimensão que muitas vezes é negligenciada. O controle de natalidade deu origem, na área médica, a um foco absolutamente inadequado na saúde das mulheres. Se você conversar com qualquer mulher que tenha de lidar com problemas hormonais debilitantes que exacerbam outros problemas de saúde, descobrirá inúmeras histórias de mulheres que foram informadas de que a pílula era a única resposta.
Eu sou uma delas.
Já escrevi noutra ocasião sobre os meus quatro abortos espontâneos e as baixas taxas hormonais que têm sido um problema crônico em minha vida. As Tecnologias Procriadoras Naturais (NaPro, na sigla em inglês) me ajudaram durante um tempo, mas, no final das contas, desenvolvi graves efeitos colaterais por causa de meus tratamentos hormonais. Por causa disso, tive de interromper as doses que estavam me ajudando a tratar a baixa taxa de estrogênio e progesterona. A última solução apresentada por meu médico foi iniciar o uso da pílula.
Por razões médicas permitidas pela Igreja, cogitei rapidamente em aceitá-la, mas, depois de pesquisar, descobri que tenho uma mutação genética que me torna muito mais suscetível a ter coágulos na corrente sanguínea, potencialmente fatais, caso tomasse anticoncepcionais. Decidi suportar os difíceis sintomas e uni-los à Cruz de Cristo, para a sua maior glória e em favor das pessoas pelas quais Ele pediu que eu sofresse de modo especial. Isso não significa que esse caminho seja fácil, pois a cruz nunca é fácil, mas é o caminho para o amor e a alegria.
À medida que fui envelhecendo, meus problemas hormonais pioraram e agravaram outros problemas de saúde crônicos que surgiram depois que tirei minha vesícula biliar. Atualmente, não posso ingerir a maior parte dos alimentos, particularmente quando minha taxa hormonal cai e a inflamação aumenta subitamente, fazendo-me ficar doente por uma ou duas semanas todo mês.
Não digo isso para murmurar do meu drama. O sofrimento é redentor, além de ser um meio de santificação que deve ser aceito, apesar dos momentos de aflição. Digo isso para mostrar que a comunidade médica desamparou pessoas como eu.
A indústria médica não tem interesse em entender como o corpo feminino realmente funciona. Só está interessada na indústria multibilionária que procura suprimir o funcionamento natural do corpo feminino. Infelizmente, muitos católicos aceitam isso, na medida em que continuam a impor barreiras artificiais ao ato conjugal por meio da contracepção, rejeitando assim o chamado de Deus à doação plena ao cônjuge num ato de amor desprendido.
Parte disso é resultado da ignorância. Muitos sacerdotes, no caos que surgiu após o Concílio Vaticano II, fizeram-se de cegos ao uso da contracepção ou o apoiaram, apesar de a Igreja ensinar claramente que o uso da contracepção é um pecado grave — a menos que ela seja usada por razões médicas que não tenham nenhuma relação com o impedimento intencional de uma gestação. A profética encíclica Humanae Vitae, de S. Paulo VI, é claríssima em relação à doutrina da Igreja. As gerações passadas foram enganadas com a mentira de que essa é uma área que deveria ser ignorada pelos católicos. Essa mentira chegou até a minha geração e agora está sendo passada à geração da minha filha por católicos que continuam a ignorar essa doutrina.
A maioria dos católicos deve ao menos ter ouvido falar que a Igreja proíbe o uso da contracepção, pois hoje já existe suficiente doutrina autêntica sobre o tema. Isso quer dizer que muitos católicos escolheram o mundo e desprezaram Cristo nessa área de suas vidas, algo que fica claro na cultura ocidental e nas tecnologias médicas completamente inadequadas disponíveis às mulheres. Isso quer dizer que muitos católicos não estão apenas se afastando de Deus, mas também estão apoiando deliberadamente uma grave injustiça contra as mulheres.
Enquanto os católicos continuarem usando métodos de controle de natalidade e ignorando a doutrina de Cristo, mulheres como eu ficarão à mercê de nossos problemas médicos, sem nenhuma perspectiva de solução. Enquanto continuarmos acreditando fielmente nas mentiras de nossa cultura, não conseguiremos realizar nenhuma mudança. Se acreditamos que oprimir o corpo feminino é a melhor maneira de cuidar dele, então não poderemos reclamar quando médicos não conseguirem tratar enfermidades ocultas. No final das contas, a culpa recairá sobre nós. Sofremos de feridas autoinfligidas, pois nos recusamos a exigir algo melhor.
Uma falsa panaceia
Isto pode soar agressivo (apesar de não ser minha intenção), mas é a verdade. Ao longo dos últimos dez anos, todos os médicos com que me consultei quiseram me empurrar a pílula anticoncepcional como se fosse uma pílula mágica que solucionaria todos os meus problemas (da enxaqueca à gastrite, da dor crônica à fadiga). Isso é muito angustiante, porque esses médicos não estão muito preocupados com os riscos que a pílula oferece às mulheres, nem com as implicações morais do que a contracepção fez para dizimar nossa cultura nos últimos cinquenta anos.
Também não estão interessados em compreender o funcionamento do corpo feminino. Há uma razão pela qual minha baixa taxa hormonal provoca muitas inflamações em meu corpo em momentos específicos do mês, mas ninguém se preocupa em descobrir o porquê. A pílula pode simplesmente interromper ou limitar meu ciclo e voilà! problema “resolvido”. Porém, isso não é solução nem tratamento; é como cobrir um corte profundo com band-aid.
Os hormônios progesterona e estrogênio causam problemas generalizados no corpo feminino. Os médicos sabem que tais hormônios aumentam a inflamação quando há deficiência deles, mas há poucas pesquisas sobre o problema, que ainda está presente e cuja causa é completamente ignorada. Enquanto isso, eles põem em risco alguém que passa por uma situação como a minha.
As mulheres que também já estiveram no abismo obscuro da depressão pós-parto sabem o que significa o abandono completo da comunidade médica. A depressão pós-parto está relacionada aos hormônios, mas os médicos só receitam drogas psicotrópicas com vários efeitos colaterais.
Há nove anos, quando a depressão pós-parto e a ansiedade me atingiram com intensidade dez semanas após o nascimento de minha filha, a enfermeira clínica com quem me consultei me disse: “Eu lamento muito. Sei que ninguém fará nada por você.” Fiquei satisfeita com a honestidade dela, mas, numa época em que Deus nos deu acesso a tratamentos para tantas doenças, isso é algo completamente inaceitável.
Felizmente, os tratamentos hormonais que utilizam Tecnologias Procriadoras Naturais me ajudaram na depressão pós-parto, mas essa área não possui financiamento suficiente para que tenha amplo impacto em nossa cultura. Portanto, os próprios tratamentos são intrinsecamente limitados. Descobri essa realidade há três anos, quando tive de interromper os tratamentos. Ainda há muito a ser feito na área da saúde da mulher, inclusive nas áreas em que há progressos em sintonia com a doutrina da Igreja.
As mulheres merecem mais
Sei que somos chamadas a recorrer ao Cristo crucificado e a buscar a santificação por meio do sofrimento redentor. Também chegou o momento de os católicos começarem a exigir mais da comunidade médica. É uma grande injustiça o fato de que nós, mulheres, fomos enganadas pela mentira de que devemos oprimir nosso corpo para sermos verdadeiras mulheres ou tratarmos doenças ocultas. Por que não exigimos mais da comunidade médica?
Numa época de fabricantes multimilionários de medicamentos que mudam e salvam vidas, por que a saúde das mulheres fica tão aquém disso? A resposta é: controle de natalidade. Por que buscar respostas, quando médicos podem dar às mulheres uma pílula que age como uma panaceia, e não como um tratamento real?
Há milhões de mulheres católicas neste país. Temos de parar de acreditar nessas mentiras e recorrer plenamente a Cristo, em primeiro lugar, pois Ele é o único que pode dar as graças necessárias que levarão as mulheres a abandonar o controle de natalidade e a viver verdadeiramente para Ele, e não para o mundo.
O próximo passo é recordar que podemos mudar as coisas se trabalharmos juntos. Muitas vezes, esquecemo-nos de que o número nos dá força, mas não poderemos realizar nenhuma mudança duradoura enquanto aceitarmos a mentira. Da próxima vez que seu médico tentar “tratar” sua doença dizendo simplesmente que a pílula ajudará, não aceite a recomendação. Isso não é tratar o problema, mas ignorá-lo. Exija mais dos médicos, por suas irmãs em Cristo, por suas filhas e por você mesma. As mulheres merecem mais.
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