Nós, jovens cristãos, sabemos bem como são rigorosas, difíceis e muitas vezes claramente inconvenientes as exigências de uma vida de castidade. “Não passe a noite na casa dele sozinha”. “Discuta os limites desde o início”. “Procure fazer da oração uma parte ativa do relacionamento”.

Mas fazemos tudo isso porque cremos que o sexo possui uma realidade mais profunda do que a perspectiva reducionista e mundana que o enxerga como simples atividade recreativa. Sabemos que o sexo é uma união entre homem e mulher ordenada por Deus, singularmente unitiva e reprodutiva, projetada para ser praticada apenas no matrimônio.

Também sabemos que o sexo cria entre o casal um profundo elo que pode durar anos, senão a vida inteira. Sabemos também que, com frequência, o sexo fora do casamento é diretamente (embora não exclusivamente) responsável por muitos males que vemos na sociedade: aborto, lares órfãos de pai, disseminação de doenças, decepções profundas e feridas emocionais duradouras. 

Embora a doutrina da Igreja sobre a intimidade sexual fora do casamento seja clara, as regras para outras formas de intimidade não são tão claras assim, particularmente quando se trata do beijo.   

Conversei com muitos casais católicos, e está claro que quase ninguém tem plena certeza do que é ou não apropriado. Embora todos aceitemos, creio eu, que beijos menos íntimos (por exemplo, no rosto ou na testa) sejam um tanto inócuos, qual seria o limite em relação ao beijo na boca

Bem, e se você escolhesse não beijar seu namorado ou namorada na boca ao invés de tentar encontrar esse limite?

Provavelmente você pensaria: “Isso é ridículo! Absurdo!” Foi minha reação quando me deparei com essa ideia pela primeira vez, mas passei a pensar seriamente sobre o assunto quando soube de um casal que a punha em prática.

A experiência de João e Catarina

João e Catarina eram um casal católico como outro qualquer, mas, depois de um ano e meio de namoro, eles tomaram a decisão de não se beijar mais nos lábios. Mantiveram a promessa até o dia do casamento, que aconteceu mais de dois anos depois. 

Quando lhes perguntei se estavam felizes por terem parado de trocar beijos apaixonados, eles disseram que foi a melhor decisão que tomaram em todo o seu relacionamento

“Os dois primeiros meses foram difíceis, mas, depois, com os sentimentos ordenados, ficamos livres para desenvolver uma verdadeira afeição mútua, bem como para servir um ao outro e nos sacrificarmos um pelo outro”, disse João. “Como tenho consciência — por ser católico — do que é necessário para ficar livre do pecado mortal e lutar pela mais elevada perfeição, sei que é meu dever fazer o mesmo pela mulher com quem tenho a intenção de me casar”. 

Catarina disse: “Como demos um passo atrás na intimidade física, avançamos muito na intimidade emocional. O relacionamento passou a ter um novo foco, porque um já não pensava apenas em fazer com que o outro se sentisse bem”. 

A tentação de avançar mais

Muito bem, isso pode funcionar para o João e a Catarina, mas isso não serve para todo o mundo. E se seus beijos fossem reduzidos a simples “selinhos”?

Seria possível fazer isso. Conheço muitos católicos que, antes de se casar, trocavam beijos sem comprometer a castidade no relacionamento. O problema com isso é que sempre haverá a tentação de avançar mais.

Veja que deixar o sexo para depois do casamento não é algo tão difícil. O difícil é ficar longe das ocasiões de pecado.

Você pode perguntar: “O que são ocasiões de pecado?” Bem, o Catecismo de Baltimore as define como “todas as pessoas, lugares ou coisas que podem facilmente nos levar a pecar” (n. 771).

Basicamente, já é pecado grave colocar-se numa situação em que você sabe que terá a tentação de cometer um pecado grave. Por exemplo, quando um alcoólatra em recuperação de seu vício vai a uma festa onde haverá bebedeira, sabendo que poderá ser tentado a ir além do que pode suportar, ou quando um viciado em pornografia passa um tempo ilimitado na internet.

É, de fato, apenas senso comum. Se você prevê que será fortemente tentado a pecar, a ponto de pôr a sua alma em risco, e puder evitar essa situação, faça isso! 

No entanto, como acontece com a maioria dos católicos de berço, sempre achei que não havia problema algum em trocar beijos no namoro, contanto que esse limite não fosse ultrapassado. Na verdade, beijos apaixonados ou “amassos” entre pessoas não casadas não são nada menos que pecado mortal.

Talvez isso pareça um exagero. Foi a minha impressão inicial, mas depois entendi o motivo: o beijo apaixonado é em si uma ocasião de pecado; ainda por cima, uma ocasião grave. Todos sabemos que esse tipo de intimidade excita as paixões. É algo previsível, pois trata-se da ação preliminar para o ato sexual e sua finalidade é deixar-nos preparados para isso.

Aprendendo o que a Igreja ensina

E, se você não acredita em mim, consulte o célebre Doutor da Igreja, Santo Tomás de Aquino: 

Beijos, abraços e toques não implicam, por sua razão, pecado mortal, pois podem ser praticados sem lascívia [...]. [Mas,] sendo os beijos, os abraços e outros atos parecidos praticados em vista do prazer sexual, constituem pecados mortais. E somente nesse sentido são libidinosos e, como tais, pecados graves (STh II-II 154 4c.).

“Mas, mas…”, você balbucia, “todo o mundo faz isso! Está nos filmes antigos e nos desenhos da Disney. Poxa vida, está na série When Calls the Heart!” 

Confie em mim, eu entendo você. Creio que esse tipo de debate muitas vezes gera resistência nos católicos porque temos a sensação de que o beijo é a única coisa que nos resta! Não realizamos atos pré-conjugais, e masturbação e pornografia estão fora de questão.

Quando ouvi pela primeira vez um sacerdote dizer que namorados ou noivos só podiam compartilhar carícias próprias de irmãos, como um beijo no rosto, achei aquilo ridículo e pensei: “Isso é um completo absurdo! Em que planeta esse sacerdote vive?” 

Porém, com o passar do tempo, comecei a mudar de opinião. Sempre senti certo desconforto com minha determinação particular de manter meu direito a um beijo (casto). Na prática, você descobrirá — como aconteceu com João e Catarina — que essa abordagem simplesmente não funciona.

Na verdade, foi mais fácil não beijar de forma alguma”, disse João. “Pode parecer algo de menor importância, mas o beijo pode se tornar uma porta de entrada para outros pequenos atos de impureza, como abraços muito longos ou toques muito íntimos. O beijo também faz com que você adquira uma propensão habitual a fazer concessões a respeito de Deus e suas leis, bem como a fazer o possível para eximir-se das consequências dos próprios atos”.

Pense bem a esse respeito

Tenho plena consciência de que este artigo não me tornará popular. Sei que aqueles que não querem abrir mão do beijo me chamarão de puritana e, provavelmente, de outras coisas pitorescas. Não vejo problema nisso, pois estou acostumada às críticas. Mas permita-me ser absolutamente clara: eu não estou dizendo que você não deve beijar a pessoa amada antes do casamento. Só estou dizendo que vocês deveriam pensar seriamente a respeito disso

Permita-me deixar outro ponto bastante claro: a comunicação é fundamental. João, que não conversou com Catarina antes de tomar a decisão de não beijá-la antes do casamento, me disse o seguinte: é importante que os rapazes compreendam que sua namorada ou noiva “não é inimiga deles”.  

“Percebi que tinha o dever de nos proteger daquilo que estava dentro de nós, e quando conversamos sobre isso, descobri que ela queria meu bem tanto quanto eu queria o dela; só precisei ser claro com ela”, disse.

Não posso mentir e dizer que é uma escolha fácil, particularmente se o beijo for um elemento habitual de seu relacionamento. Será difícil, mas todos os sinais mostram que essa decisão enriquece bastante o relacionamento. Ela também tornará o dia do seu casamento muito mais especial em razão do sacrifício feito. 

João disse que beijar sua esposa fora da igreja após o casamento foi um dos momentos mais felizes de sua vida.

“Ficamos cheios de alegria e paz por saber que havíamos lutado e nos sacrificado por mais de dois anos, e que aquele sacrifício estava dando frutos num gesto completamente puro e casto que glorificava a Deus”, disse ele.

Num mundo tão dominado pelo pecado, pode ser tentador fazer o mínimo absoluto, contanto que não cometamos algum pecado. Ainda assim, isso já seria melhor do que a média, não? Eu diria, porém, que esse tipo de decisão exige de nós ainda mais virtude. O pecado desmedido deve ser correspondido com a virtude num grau ainda maior, especialmente quando somos chamados a ter um padrão elevado de moralidade.    

Temos de ser faróis luminosos que levam a luz e a alegria de Cristo para o mundo, e não podemos fazer isso sendo simplesmente melhores do que a média. Só podemos fazer isso quando nos tornamos excepcionais.

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