Os pais de Santo Engelberto eram da alta nobreza. O pai era conde de Bergen; a mãe, condessa de Gelders. Ambos se esforçaram ao máximo para que o filho fosse bem instruído, tanto na virtude e na piedade, como nas artes e ciências liberais. Porém, Engelberto manifestava uma grande inclinação por aproveitar a vida e um intenso desejo de obter honrarias e riquezas. Mas Deus o preservou dos vícios tão comuns à juventude. A natureza o dotara de uma inteligência fora do comum e de grandes talentos, que, aliados a uma elevada posição social, proporcionaram a ele, ainda na juventude, vários cargos importantes, até que, finalmente, em 1215, foi escolhido para ser arcebispo de Colônia.
A partir desse momento, tornou-se um homem diferente, procurando apenas promover a honra de Deus e o bem-estar dos que estavam sob a sua tutela, além de adornar prodigamente igrejas e conventos. Os direitos e as liberdades de seu arcebispado eram defendidos com energia, mesmo quando era necessário contrariar seus próprios amigos e parentes. Permitia que todos entrassem em contato com ele; ouvia-os pacientemente e esforçava-se por atendê-los, promovendo-lhes o bem por todos os meios ao seu alcance. Quando notava que alguém desejava apresentar um pedido ou falar com ele, estava pronto a ouvir e conceder tudo que não fosse contrário à justiça ou ao dever.
Um dia, enquanto estava no palácio para realizar julgamentos, apareceu uma pobre viúva que desejava um advogado para defender seus interesses. Engelberto disse: “Boa mulher, tu conheces melhor as tuas necessidades. Dize-me tu mesma em que consistem.” Alguns dos cavalheiros presentes desaprovaram tal atitude, por ser contrária ao costume prevalente, e quiseram nomear um advogado para ela. Diziam eles: “A mulher fará sua exposição de um modo um tanto disparatado”. O arcebispo respondeu: “Entenderemos muito bem as palavras simples dessa mulher. Não há necessidade de divagações ou delongas.”
Noutra ocasião, estava prestes a iniciar uma viagem, quando um pobre indivíduo se aproximou para se queixar de um homem poderoso que o despojara injustamente de seus bens. Engelberto ouviu-o com paciência e, embora seus assistentes lhe lembrassem do longo caminho a ser percorrido, e que não devia se atrasar, pois o homem poderia voltar noutro dia, o justo e consciencioso bispo não quis iniciar sua viagem enquanto não entregasse ao pobre uma carta, endereçada ao rico opressor, ordenando-lhe que restituísse o que havia sido tirado dele.
Exigia com toda a veemência, dos seus oficiais e conselheiros, o cumprimento da justiça, e castigava severamente os infratores das leis. Era extremamente bom e misericordioso para com os pobres, dando-lhes roupa, comida e moradia. Ninguém saía de sua presença sem ser confortado de alguma forma. Acolhia os padres indigentes à sua mesa e dava-lhes suas próprias vestes. Tinha um grande respeito por todos os religiosos e não deixava impune nenhuma falta cometida contra eles. Jejuava uma vez por semana em honra da Santíssima Virgem e rezava diariamente para viver e morrer sob sua proteção. Para a reforma da Igreja de São Pedro, a mais grandiosa e venerável da terra, doou grandes somas de dinheiro e mandou fazer um cálice de ouro, cravejado de joias preciosas, que lhe tinha sido oferecido por vários príncipes e reis.
Todos estimavam Engelberto por essas e outras grandes virtudes. Era tão respeitado pelo Imperador Frederico que, quando este partiu à Itália, deixou-lhe a administração do império na Alemanha e também a tutela de seu filho Henrique. Os dois cargos foram exercidos de forma muito satisfatória para o imperador e todo o país.
Grande teria sido a vantagem se Engelberto tivesse recebido permissão para continuar por muitos anos uma carreira tão santa, mas no 9.º, ou como dizem outros, no 10.º ano de seu episcopado, uma morte violenta pôs fim a sua vida e seus trabalhos.
Frederico, conde de Isemburgo, primo do santo bispo e protetor da famosa abadia principesca de Essen, oprimiu durante muito tempo essa casa religiosa e privou-a de muitos rendimentos. O Papa Honório e o Imperador Frederico, a quem os religiosos de tal abadia haviam recorrido para manifestar suas queixas, ordenaram a Engelberto que ajudasse os oprimidos. Engelberto admoestou o conde, tanto por escrito como por palavras, para que se abstivesse de suas transações injustas, e até lhe prometeu uma pensão anual considerável, proveniente de seus próprios rendimentos, para incentivá-lo a retomar o caminho da justiça. Tudo foi em vão, no entanto, e o conde, temendo enfim que o bispo fosse recorrer à força, tomou a decisão de matá-lo.
O santo fora convidado a consagrar uma igreja fora da cidade, e estava marcado o dia de sua partida. Tão logo o conde perverso soube disso, decidiu aproveitar a ocasião para pôr em prática seu plano assassino. Na véspera de sua partida, Santo Engelberto recebeu uma carta anônima advertindo-o das ciladas que o conde de Isemburgo lhe preparava. Ele leu a carta na presença do bispo de Minden e depois atirou-a ao fogo, alegando que seu primo não podia ter pensamentos tão criminosos.
Mas, a fim de não negligenciar nada, visando a maior segurança de sua alma, fez no mesmo dia uma confissão geral, durante a qual verteu muitas lágrimas e se preparou para a morte. Depois disse, bastante consolado e animado: “A vontade de Deus pode ser feita agora.” Seus amigos tentaram mantê-lo em casa, mas ele não desistiu de sua jornada, dizendo: “Entrego à divina Providência o meu corpo e a minha alma.” Com tudo preparado, partiu na companhia de vários oficiais da sua corte.
Os homens do conde de Isemburgo, encarregados de assassinar o bispo mediante um sinal prévio, ficaram posicionados num bosque por onde ele precisava passar, e ali o esperaram. Quando Engelberto chegou aí e se encontrava a alguma distância de seus assistentes, foi subitamente atacado pelos assassinos, liderados pessoalmente pelo conde, e foi golpeado por eles com tanta fúria, a ponto de se contarem 47 feridas mortais em seu corpo. Durante esse martírio, Santo Engelberto disse apenas as palavras de seu divino Mestre: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem.”
Assim terminou a vida do santo arcebispo: tornou-se mártir da causa da justiça. Seu santo corpo foi levado para Colônia. Os numerosos milagres operados por intercessão desse santo em favor dos coxos, paralíticos e outros enfermos, demonstraram que Deus, tendo coroado o seu fiel servo no Céu, desejava glorificá-lo também na terra. Um dos maiores milagres foi o arrependimento daquele que havia planejado e cometido o cruel homicídio. Foi condenado a um castigo duro, mas bem merecido. Cortaram-lhe as mãos e os pés e, depois disso, foi torturado numa roda, tendo permanecido durante uma noite inteira em terrível sofrimento. Mas ele suportou o tormento com resignação, confessando que merecera o castigo, e assim terminou sua vida como um verdadeiro penitente. Todos que assistiram à sua morte atribuíram sua conversão à intercessão de Santo Engelberto.
Considerações e práticas
I. Santo Engelberto mostrava-se sempre disposto a ouvir as queixas de seus súditos, todas as vezes que o procuravam. Graves serão as contas que prestarão ao Juiz divino aqueles que, mesmo obrigados por sua posição a dar ouvidos às queixas, orações e pedidos dos que lhes estão subordinados, se recusam a atendê-los, particularmente se forem das classes mais pobres ou inferiores, viúvas ou órfãos; que os tratam com aspereza, mandam-nos embora recorrentemente, e não lhes dão assistência ou reparação.
Deus ameaçou tais pessoas com um terrível flagelo. Isso será experimentado, no devido tempo, não apenas por todos os poderosos monarcas desta terra, mas também por todos os juízes, conselheiros e oficiais que têm de administrar a justiça; e também por outros de menor importância, que são duros e implacáveis para com seus servos e subordinados; que não permitem que eles se justifiquem e, sem ouvir-lhes a defesa, expulsam-nos de casa, retêm os seus salários ou os punem de outras maneiras.
A razão e a consciência exigem que não julguemos nem castiguemos alguém antes de ouvir a sua defesa. Quantos foram enganados, com grande prejuízo para o próximo, por falsos acusadores!
O piedoso e sábio Rei Davi passou por isso, quando acreditou numa acusação feita contra Mefibosete e privou-o de todos os seus bens, embora depois o tenha considerado inocente (cf. 2Rs 14). Daí o provérbio segundo o qual é preciso ouvir os dois lados. O próprio Deus, embora conhecesse o crime dos nossos primeiros pais e do infeliz Caim, ainda assim, antes de anunciar-lhes o castigo, pediu contas a eles, a fim de dar um exemplo, a todos os que têm poder, para que não julguem nem castiguem sem investigar antes o assunto e ouvir o acusado.
Uma vez apurado o crime, deve-se aplicar o castigo ou a repreensão de acordo com a falta cometida, mas não se devem esquecer a brandura e a misericórdia cristãs. Como diz São João Crisóstomo: “Mesmo no exercício da justiça, a misericórdia deve ter o seu lugar.” Escreve São Gregório: “Quando repreendemos alguém, unamos sempre a suavidade à severidade.”
II. Santo Engelberto rezou por seus assassinos, a exemplo de Cristo na Cruz, como sinal de que os perdoava do fundo de seu coração.
Como você age em relação àqueles que o ofenderam muito menos? Já rezou por eles? Talvez você diga que isso é muito difícil. Mas Santo Agostinho responde: “Se isso é uma provação, muito maior será a recompensa no outro mundo.” Seu Deus, Senhor e Juiz, ordena-lhe que perdoe seus inimigos e os ame de todo o coração. E você, obedecerá ou não a Ele? Caso não observe as suas palavras, Ele o ameaça com o Inferno. O que é mais fácil: ser condenado ou perdoar? Ele lhe promete o perdão dos pecados e a salvação eterna, se fizer o que Ele ordena. Essa recompensa não é suficiente?
Além disso, Cristo nos deixou o exemplo. Rezou por seus inimigos, que lhe causaram um sofrimento inexprimível, maior do que aquele que você causa aos seus. Que tipo de cristão você será caso não siga o exemplo de Cristo em relação a essa grande virtude? “Ofender-se é humano”, diz São Jerônimo, “mas cabe ao cristão moderar a sua ira e perdoar os inimigos.” Prove hoje que você é cristão. Reze por todos aqueles por quem já foi ofendido. “Pai! Perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem.”
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