Recentemente, minha esposa explicou a um amigo que ter um filho recém-nascido era como ter um cachorro — só que dez vezes mais difícil. A explicação dela me fez pensar. Parques para cães, cafés que aceitam animais de estimação e “mães de pet” são coisas que não faltam hoje em dia. Quando morávamos em Nashville, parecia que havia mais serviços para animais de estimação do que creches. É quase como se as pessoas preferissem ter um gato a uma criança.

A crueldade com os animais é execrada [e com razão], mas ao mesmo tempo o aborto é celebrado. Os animais de estimação são vistos como preciosos, já as crianças no útero são outra história. Como é ter um animal de estimação? Uma tarefa rotineira, mas divertida. Animais de estimação são fáceis: eles comem, dormem, brincam e imitam o dono. E ter um filho? Inconveniente e perigoso. Afinal de contas, como criar uma família neste mundo? É algo que envolve muita responsabilidade, e incerteza também. Minha filha recém-nascida tem apenas três meses e posso dizer com certeza que cuidar de um bebê é inconveniente. Criar um filho é como criar um cachorro, só que o cachorro às vezes é mais divertido! Por exemplo, quando você adquire seu primeiro cachorro, é necessário dedicar-se a cuidados de higiene e limpeza, mas não se perde muito sono por causa disso. Já quando você tem seu primeiro filho, precisa ficar sempre de plantão durante a noite.

É um pouco cínico pensar em crianças como um inconveniente. A maioria das pessoas não pensa assim quando vai ao pet-shop. Mas, se fizéssemos uma enquete, quantas pessoas diriam que praticamente não há diferença qualitativa entre cuidar de uma criança e cuidar de um cachorro?

E, no entanto, há uma diferença, e ela é crucial: seu filho é uma pessoa. Não havia como fugir desse fato quando segurei minha filha nos braços pela primeira vez. Esta é uma nova pessoa. Quem ela será? Como vamos educá-la? O que eu fiz para merecê-la? Ao vê-la crescer e fazer descobertas, sei que nunca poderia ter gerado minha filha sozinho e por minhas próprias forças. Ela era um dom. Eu não decidi seu sexo, aniversário ou características físicas.

Eu a chamo de minha filha, mas nunca poderei reivindicar propriedade sobre ela da mesma maneira que faço com um animal de estimação. Nos próximos dois anos, sua vontade e intelecto aparecerão com mais destaque. Ela passará a aprender, pensar e tomar decisões. Ela se tornará cada vez mais interessante, expressando algo que sempre esteve lá: sua personalidade, sua “pessoa-lidade”. Desde a sua concepção, isso já estava por vir.

Os animais são nossos de uma maneira que as pessoas não são. Eles são dados às crianças como uma recompensa, algo que se ganha por um bom comportamento. Os animais selvagens são independentes, mas podemos domesticá-los sem escrúpulos. Os animais simplesmente não são pessoas. Segurar um filhote nunca será o mesmo que segurar um bebê. Nós nunca pensamos: “Como meu cachorro mudará o mundo? Ele vai se tornar um cão de guarda ou o presidente?” Para animais de estimação, virtude, vício e contemplação são impossíveis. Eles não agem, só reagem. Sempre estarão bem, desde que sejam atendidas suas necessidades físicas básicas.

Criar um animal de estimação é simples. Nunca precisaremos nos preocupar com animais dominando o mundo. Não precisamos ensinar história ou regras de etiqueta aos nossos animais de estimação. Solte um gato de três anos em um campo e ele conseguirá sobreviver. Faça o mesmo com uma criança, ela não durará uma semana. Quando você considera a moralidade, as coisas ficam ainda mais complicadas. As crianças precisam aprender a distinguir o bem do mal, e a controlar suas emoções. Isso requer muito mais esforço do que ensinar novos truques a um cachorro.

Porém, quanto maior o esforço, maior é a recompensa. Receber o dom de outra pessoa é algo extraordinário, e não há nada que se iguale a poder criar e formar um santo. Ser pai exige noites sem dormir, compromissos desfeitos e decisões angustiantes. Os pais não podem se eximir de atender às necessidades físicas básicas de seus filhos e ir embora. Os bons pais devem ser altruístas e dedicados; caso contrário, estarão lidando com uma criança desnutrida, infeliz e subdesenvolvida. O sacrifício é um requisito fundamental, não uma opção. Ser pai exige amor.

Por ser pai há pouco tempo, entendo a gravidade dessa afirmação. Quando descobri que minha esposa estava grávida, sabia que tinha uma escolha a fazer: sacrificar minhas próprias preferências e ser um bom pai e esposo, ou viver a vida como sempre vivi, negligenciando, assim, as necessidades da minha família. Querendo ou não, tive de tomar uma decisão. Dela dependia meu crescimento ou estagnação. Como novo pai, fui confrontado com uma escolha a ser feita: tornar-me o tipo de pessoa que pode criar um recém-nascido para ser um santo, ou não. Aqui, o que está em jogo é a eternidade.

Este é o ponto crítico: criar bem um filho exige santidade, e é por isso que se trata de algo tão inconveniente, apesar de recompensador. A santidade é árdua. Exige colocar-se por último. É essa árdua jornada que conduz à maior das alegrias. Esse caminho leva à felicidade, e chegar-lhe ao termo é alcançar o Céu. Sacrificar-se por sua família significa tornar-se mais virtuoso. Uma vez que abraçamos uma vida de amor sacrificial, começamos a agir como Deus age e a ver como Ele vê. Na paternidade bem vivida, amadurecemos e aprendemos mais sobre o que significa ser e o que significa amar uma pessoa.

Ter um animal de estimação é simples. Verifique se suas necessidades básicas foram atendidas, e tudo estará bem. Nada heroico é necessário. Você ainda poderá experimentar as “coisas boas” da vida: uma noite tranquila sozinho, uma noite na cidade ou umas férias extravagantes. Mas, quando você cria um filho, as coisas são diferentes. Você é obrigado a negar a si mesmo e a oferecer tudo pelo bem do seu filho. É uma tarefa cansativa, de fato; se bem feita, porém, permite a você formar um santo e, ao mesmo tempo, tornar-se um. E faz você se dar conta, ainda, de algo importante: as melhores “coisas” da vida não são coisas, e sim pessoas.

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