A palavra “incenso” vem do termo latino incendere, que significa “queimar”. Ela costuma ser utilizada como substantivo para designar tanto um substância aromática que, se queimada, libera uma fumaça perfumada quanto a fumaça em si. Também é usada como verbo para descrever o processo de incensação, ou seja, de espalhar a fumaça.

Na Antiguidade, o incenso era uma mercadoria muito valiosa. Presentear alguém com incenso era algo significativo. A comercialização de especiarias constituía a base econômica da famosa rota comercial do incenso no Oriente Médio, com 2414 km de extensão, que prosperou entre os sécs. III a.C.–II d.C. Percorriam essa rota caravanas de camelos que saíam do Iêmen, cruzavam a Arábia Saudita e a Jordânia e paravam no que hoje é o porto de Gaza israelense. Nesse porto eram despachados para a Europa incenso, especiarias e outros bens valiosos. A rota deu aos cidadãos do Império Romano a possibilidade de desfrutarem do perfume de incensos como olíbano e mirra, dos sabores de diferentes especiarias orientais exóticas e de sais fundamentais para o cozimento e a preservação de comida.  

O turíbulo, ou incensório.

O uso de incenso no culto religioso antecede o cristianismo em milhares de anos. Primeiro, no Oriente (por volta do ano 2000 a.C,. na China, com a queima de cássia, sândalo etc.) e depois, no Ocidente, o uso do incenso tem sido há tempos um elemento integral de muitas celebrações religiosas. Ele aparece no Talmud, e a Bíblia o menciona 170 vezes. O uso do incenso no culto judaico, no Templo, continuou por muito tempo, mesmo depois do surgimento do cristianismo, e certamente influenciou a Igreja Católica no uso do incenso nas celebrações litúrgicas.

A documentação mais antiga sobre o uso de incenso durante a liturgia sacrificial católica vem da Igreja oriental. Os rituais da Liturgia Divina de São Tiago e São Marcos, datados do séc. V, incluem o uso de incenso. Na Igreja ocidental, o Ordo Romanus VIII de S. Amândio, datado do séc. VII, menciona o uso de incenso durante a procissão do bispo em direção ao altar na Sexta-feira da Paixão. A história documentada do incensamento do Evangeliário (Livro dos Evangelhos) durante a Missa data do séc. XI. O uso de incenso na liturgia continuou a ser desenvolvido ao longo de muitos anos até chegar no que conhecemos hoje.  

Por que usamos o incenso?

No Antigo Testamento, Deus mandou seu povo queimar incenso (cf. Ex 30, 7; 40, 27, entre outras passagens). O incenso é um sacramental usado para a veneração, a bênção e a santificação. Sua fumaça expressa um senso de mistério e reverência. É um lembrete da presença odorífera de Nosso Senhor. Seu uso acrescenta à Missa uma aura de solenidade. A imagem e o odor da fumaça reforçam a transcendência da Missa, que liga o Céu à terra e permite que entremos na presença de Deus. A fumaça simboliza o zelo ardente da fé que deveria consumir todos os cristãos, ao passo que a fragrância simboliza a virtude cristã. 

O incensamento também pode ser entendido no contexto de um “holocausto” oferecido a Deus. No Antigo Testamento, as oferendas de animais eram parcial ou completamente consumidas pelo fogo. Em última análise, queimar uma coisa significava entregá-la a Deus.

Em sua monografia Os Sinais Sagrados, Monsenhor Romano Guardini (1885-1968), uma grande influência nos escritos do Papa Bento XVI, usou estas belas palavras para falar do uso do incenso: 

A queima de incenso é um rito generoso e belo. Os grãos luminosos de incenso são depositados sobre o carvão incandescente, o incensário é balançado e a fumaça perfumada sobe em nuvens. Há qualidade musical no ritmo e na doçura; e como no caso da música, há também a completa ausência de utilidade prática: trata-se de um desperdício pródigo de matéria preciosa. É uma torrente que brota do amor dado livremente.  

O incenso e a fumaça do incenso em chamas têm sido oferecidos como dons a Deus e a outros desde a Antiguidade. Num sentido visual e mais prático, a fumaça perfumada que sobe também simboliza nossas orações subindo ao Céu

A Instrução Geral do Missal Romano (IGMR) diz o seguinte sobre o uso do incenso:

§75. O pão e o vinho são depostos sobre o altar pelo sacerdote, acompanhados das fórmulas prescritas. O sacerdote pode incensar os dons colocados sobre o altar, depois a cruz e o próprio altar. Deste modo se pretende significar que a oblação e oração da Igreja se elevam, como fumo de incenso, à presença de Deus. Depois o sacerdote, por causa do sagrado ministério, e o povo, em razão da dignidade batismal, podem ser incensados pelo diácono ou por outro ministro.

Mons. Guardini fez também essa bela reflexão sobre o uso de incenso na Missa:

O uso de incenso é semelhante à unção de Jesus por Maria em Betânia. É tão livre e sem finalidade quanto a beleza. É queimado e consumido como o amor que dura depois da morte. E a alma árida ainda se manifesta e faz a mesma pergunta: Que há de bom nisso? É o oferecimento de um doce sabor, que, segundo as Escrituras, equivale às orações dos santos. O incenso é o símbolo da oração. Como a oração em estado puro, não tem em vista nenhum objeto próprio; não pede nada para si. Ergue-se como o Glória no fim de um salmo de adoração e ação de graças a Deus por sua imensa glória (Os Sinais Sagrados).

A fumaça do incenso purifica de modo simbólico tudo o que toca. Isso é muito bem ilustrado pela prática, rica em símbolos, do rito caldeu da Igreja Católica. Aqueles que se preparam para receber a Sagrada Comunhão durante o santo Qurbono (o santo sacrifício no rito caldeu) primeiro purificam suas mãos, posicionando-as sobre a fumaça que sai do vaso com incenso incandescente. De modo semelhante, no rito maronita da Igreja Católica os vasos sagrados — cálice, patena e a pala — são invertidos e posicionados sobre o incenso incandescente durante sua purificação, a fim de que possam capturar a fumaça perfumada.   

Como o incenso é usado na Missa? 

A IGMR fornece as seguintes instruções para o uso de incenso durante a celebração da Missa:

§277. O sacerdote, ao pôr o incenso no turíbulo, benze-o com um sinal da cruz, sem dizer nada.

Antes e depois da incensação, faz-se uma inclinação profunda para a pessoa ou coisa incensada, exceto ao altar e às oblatas para o sacrifício da Missa.

Incensam-se com três ductos do turíbulo: o Santíssimo Sacramento, as relíquias da santa Cruz e as imagens do Senhor expostas à veneração pública, as oblatas para o sacrifício da Missa, a cruz do altar, o Evangeliário, o círio pascal, o sacerdote e o povo.

Com dois ductos incensam-se as relíquias e imagens dos Santos expostas à veneração pública, e só no início da celebração, quando se incensa o altar.

A incensação do altar faz-se com simples ictus do seguinte modo: a) se o altar está separado da parede, o sacerdote incensa-o em toda a volta; b) se o altar não está separado da parede, o sacerdote incensa-o primeiro do lado direito e depois do lado esquerdo.

Se a cruz está sobre o altar ou junto dele, é incensada antes da incensação do altar; aliás, é incensada quando o sacerdote passa diante dela.

O sacerdote incensa as oblatas com três ductos do turíbulo, antes de incensar a cruz e o altar, ou fazendo, com o turíbulo, o sinal da cruz sobre as oblatas.

Onde o incenso é usado na Missa?

De modo semelhante, o parágrafo 276 da IGMR permite o uso do incenso nos seguintes momentos durante a celebração da Missa:

O queimar incenso ou a incensação exprime reverência e oração, como vem significado na Sagrada Escritura (cf. Sl 140, 2; Ap 8, 3).

Pode usar-se o incenso em qualquer forma de celebração da Missa: a) durante a procissão de entrada; b) no princípio da Missa, para incensar a cruz e o altar; c) na procissão e proclamação do Evangelho; d) depois de colocados o pão e o cálice sobre o altar, para incensar as oblatas, a cruz, o altar, o sacerdote e o povo; e) à ostensão da hóstia e do cálice, depois da consagração.

O incenso também é usado na Quinta-feira Santa, durante a procissão com o Santíssimo Sacramento até o altar da reposição.

Na Vigília Pascal, cinco unidades de incenso encapsulado (muitas vezes feito para que se pareça com um prego vermelho) são afixadas no círio pascal. Essas cinco unidades representam as cinco chagas de Cristo — uma em cada mão, uma em cada pé e o lado perfurado pela lança.

Em Missas de defuntos, os restos mortais do falecido e o caixão podem ser incensados, bem como o local do sepultamento.

Uso do incenso fora da Missa

O incenso é usado pela Igreja em muitas situações fora da Missa. Por volta do final do séc. IV, a peregrina Etéria (Silvia) testemunhou o uso do incenso na vigília do Ofício de Domingo em Jerusalém. Hoje, muitos indivíduos, clérigos e leigos, incluem a queima de incenso como parte da récita da Liturgia das Horas ou durante orações privadas por eles formuladas. Os livros rituais dos sécs. VII–XIV documentam o uso de incenso na leitura do Evangelho, no Ofertório e na bênção do Santíssimo Sacramento.

O incenso é usado em várias procissões solenes, funerais, dedicação de novas igrejas, cemitérios e elementos como novos altares, sinos, vasos sagrados e novas cópias dos Evangelhos. O incenso também é usado no rito de consagração do crisma e na bênção dos óleos sagrados, durante o canto do Evangelho, nas orações solenes da manhã e da noite do Ofício Divino.

Grãos de incenso são colocados no sepulcro de novos altares consagrados junto com relíquias de santos, para representar o funeral dos antigos mártires e simbolizar as orações do santo a quem pertencem as relíquias.

Ele é queimado sobre novos altares durante seu processo de consagração antes do primeiro uso.

Finalmente, o olíbano e a mirra muitas vezes são abençoados na Missa da Epifania para comemorar a visita dos Reis Magos ao Menino Jesus. O incenso é distribuído aos participantes, que poderão usá-lo em seus próprios altares familiares e também na Páscoa, em preparação de suas velas pascais caseiras.

A fé católica é litúrgica. Utiliza todos os cinco sentidos: visão, audição, olfato, paladar e tato. Sem dúvida, trata-se de algo intencional, pois cada sentido é um instrumento que permite nos beneficiarmos da graça salvífica que flui do santo sacrifício da Missa. É justamente por isso que deveríamos nos esforçar ao máximo para empregar, sempre que possível, todos os nossos sentidos durante a celebração da sagrada liturgia. Em resumo, “os odores e os sinos” certamente importam.

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