[Este texto não é de autoria do Pe. Paulo Ricardo; foi escrito pelo professor Paul Kengor e traduzido para a língua portuguesa por nossa equipe. Trata-se de uma análise com observações bastante pessoais, que não necessariamente refletem o sentir e as expectativas do site. Ainda assim, vale a pena a leitura, especialmente para conhecer um pouco melhor o lugar que a Polônia, terra natal de João Paulo II e Santa Faustina, tem ocupado nos planos da divina Providência.]
Enquanto a atenção do mundo está agora toda sobre a Ucrânia, não perca de vista a Polônia.
A Polônia tem ocupado um lugar especial na história dos últimos cem anos, desde a fuga dos comunistas russos, no Milagre no Vístula, em 1920, até a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria. Por essa razão, eu a chamo de “fulcro”, uma vez que os eventos críticos do último século aconteceram ao seu redor.
De algum modo, isso significa que a nação polonesa, o país mais católico da Europa, sofreu terrivelmente como talvez nenhuma outra. E não foram apenas católicos os que sofreram, mas especialmente os judeus. Antes da insanidade de Hitler, a Polônia abrigava mais judeus do que qualquer outra nação, mesmo a Palestina.
Ronald Reagan, com razão, chamou-a de “a nação martirizada da Polônia”. O então presidente dos Estados Unidos disse isso ao polaco mais famoso do mundo, o Papa João Paulo II, durante o primeiro encontro entre eles, em junho de 1982. Reagan frisou como a pátria do Papa era, de fato, uma “área especial de preocupação mútua”, descrevendo-a como “um bravo bastião da fé e da liberdade”. Por sua vez, o Papa João Paulo II, que experimentou o pior de todos os martírios da Polônia, incluindo o de muitos de seus amigos judeus, não lhe apresentou qualquer objeção.
Sem dúvida, Reagan também não receberia objeção alguma da religiosa polonesa conhecida pelo nome de Helena Faustina Kowalska.
Faustina nasceu em agosto de 1905 numa vila de Glogowiec. Em 1924, a camponesa de 19 anos e sua irmã foram a um baile num parque da alegre cidade de Lodz, a qual, em apenas duas décadas, seria devastada por exércitos invasores. Durante o baile, a adolescente Faustina teve uma visão de Jesus agonizante. Uma vez que o baile parou, Faustina mostrou-se desconcertada, dizendo que o próprio Cristo tinha aparecido e perguntado a ela: “Por quanto tempo vou aturar-te e por quanto tempo continuarás me evitando?”
Algo assim seria um chacoalhão para qualquer um, não acham? Após um tempo em pé e depois sentada, imóvel, muda, abalada, a jovem recuperou os sentidos e correu para a Catedral. Afinal, o que mais alguém faria? Lá, ela ouviu Jesus lhe dizer que partisse imediatamente a Varsóvia e ingressasse num convento. Foi o que Faustina fez.
A extraordinária vida religiosa da irmã Faustina foi, realmente, uma mistura de sofrimento, doença, dedicação, obediência e êxtase. Para meus amigos não católicos, é mesmo difícil de imaginar. Na verdade, é algo difícil para qualquer um. Porque se trata de um milagre.
Faustina era inteiramente mística, experimentando visões e profecias aterrorizantes, embora profundas, e alegando comunicar-se diretamente com Cristo e sua Mãe Santíssima. Destas experiências, a visão mais duradoura da qual o mundo ficaria sabendo aconteceu em 22 de fevereiro de 1931, enquanto Faustina se encontrava em sua cela no convento.
Ela viu Nosso Senhor Jesus Cristo vestido de branco, com a mão direita levantada, como se estivesse dando uma bênção ao mundo, e a mão esquerda sobre o peito. Da abertura em seu manto, como que exalando do Sagrado Coração de Jesus, irrompiam dois grandes raios, um vermelho e outro branco, representando sangue e água para curar o mundo dos seus pecados. “Em silêncio olhei fixamente para o Senhor”, disse Faustina. “Minha alma estava cheia de medo, mas também de grande alegria”.
A figura de Cristo instruiu a irmã: “A humanidade não desfrutará da paz até que se volte com confiança para a minha misericórdia”.
Essa era a mensagem — para então, para agora e para os dias futuros.
Nosso Senhor pediu-lhe que mandasse pintar aquela imagem e subscrevê-la com as palavras: “Jesus, eu confio em vós”. Ele convocou toda a Igreja Católica para celebrar uma festa anual à Divina Misericórdia, no primeiro domingo após a Páscoa. Mas esse dia de festa acabaria por ser estabelecido só depois de uma longa espera. Exigiria a intervenção da única fonte que poderia fazer isso acontecer — um Papa polonês.
Muito, é claro, pode ser dito sobre as inúmeras visões registradas por Santa Faustina, publicadas depois em seu famoso Diário. Mas, entre as visões proféticas mais sombrias da religiosa, cada vez mais presentes nas mentes dos católicos desde o início deste novo milênio, estavam as do inferno, da guerra e do fim dos tempos.
“Eu, Irmã Faustina Kowalska, por ordem de Deus, visitei os abismos do inferno para poder contar às almas sobre ele e testemunhar sua existência”, escreveu em seu Diário. O mundo havia caído tão longe, tão fundo, que exigia um “oceano de misericórdia”, que somente Jesus poderia oferecer. Ela afirmou isso às vésperas da guerra — a Segunda Guerra Mundial —, quando um vasto mar de horror se aproximou da costa da Europa.
A religiosa polonesa não poderia ter sido mais profética no que o mundo precisaria. E ela não viveu para ver isso. Pela misericórdia de Deus, foi poupada do holocausto vindouro. Irmã Faustina foi chamada à sua morada eterna em 5 de outubro de 1938. Semelhante a Jesus por ela adorado, Faustina tinha apenas 33 anos quando teve uma morte dolorosa — sofrendo terrivelmente nas mãos da tuberculose. Foi levada um ano antes de Hitler e Stalin se revezarem devorando sua amada pátria e iniciando a Segunda Guerra Mundial.
O que havia desencadeado essas invasões mútuas da Polônia do oeste e do leste em setembro de 1939 foi o pacto de sangue conhecido como Pacto Hitler-Stálin, assinado em Moscou em 23 e 24 de agosto de 1939. Cristo dissera a Faustina que o mundo precisaria de um “oceano de misericórdia” no período à frente. O que Hitler e Stalin consumaram então o garantia.
Faustina tinha mensagens dolorosas sobre a Polônia, a Europa e a Rússia. A respeito da Rússia, ela disse que, em 16 de dezembro de 1936, Jesus havia revelado: “Não posso suportar por mais tempo esse país” (Diário, 818).
A Polônia sofreria muito mais com a Rússia. Os nazistas foram derrotados em maio de 1945, mas os soviéticos permaneceram lá até 1989. A nação martirizada da Polônia foi ocupada primeiro por fascistas e depois, por muito mais tempo, por comunistas.
As extraordinárias revelações feitas a Faustina levariam tempo para chegar ao mundo além de seu convento. Mas isso aconteceria precisamente quando ela fosse canonizada em abril de 2000, a primeira santa do novo milênio, por João Paulo II. O papa polonês e a religiosa polonesa estariam para sempre ligados por meio desta mensagem da Divina Misericórdia, até o fim dos tempos.
De fato, numa das várias ironias arrepiantes em seus minutos finais na terra, a morte do Papa, em 2 de abril de 2005, ocorreu na vigília e véspera do Domingo da Divina Misericórdia, que ele havia instituído em 2000 na Missa de canonização de Santa Faustina Kowalska. A Missa da Divina Misericórdia foi celebrada na sala do Papa na noite em que ele morreu.
Antes de tudo, devemos conhecer as profecias de Faustina sobre a Polônia e a vinda final de Cristo. Em uma de suas últimas mensagens de Jesus, foi-lhe dito: “Amo a Polônia de maneira especial e, se ela for obediente à minha vontade, eu a elevarei em poder e santidade. Dela sairá a centelha que preparará o mundo para minha vinda derradeira” (Diário, 1732).
Alguns acreditam que essa centelha foi o próprio Karol Wojtyla que, como Papa João Paulo II, prepararia o mundo através do que fez, no início do novo milênio, com Faustina e a mensagem da Divina Misericórdia de Jesus. Ele colocaria em curso o processo do pleno cumprimento da revelação.
Aqui estão as principais mensagens relacionadas [a isso]:
Fala ao mundo da minha misericórdia, que toda a humanidade conheça minha insondável misericórdia. Este é o sinal para os últimos tempos; depois dele virá o dia da justiça (Diário, 848; revelação de Jesus em dezembro de 1936).
Escreve: antes de vir como justo Juiz, abro de par em par as portas da minha misericórdia (Diário, 1146; em junho de 1937).
No Antigo Testamento, eu enviava profetas ao meu povo com ameaças. Hoje estou enviando-te a toda a humanidade com a minha misericórdia. Não quero castigar a sofrida humanidade, mas desejo curá-la estreitando-a ao meu misericordioso Coração… Antes do dia da justiça estou enviando o dia da misericórdia (Diário, Seção 1588; em fevereiro de 1938).
Em 2016, o Papa Francisco declarou o Ano da Misericórdia, com “portas da misericórdia” literais marcadas em paróquias em todo o mundo.
Aonde isso nos leva agora? Bem, só Deus o sabe de fato. Mas o mundo está uma bagunça e cada vez pior. E aqueles de nós que estudaram Faustina, o século XX, a Guerra Fria, o comunismo e a Rússia seriam muito negligentes em não oferecer algumas observações públicas. Estamos ainda na Quaresma, com o Domingo da Divina Misericórdia chegando.
No momento, os combates entre ucranianos e russos se limitam em grande parte a isso. Se, no entanto, a Polônia for atraída, especialmente fornecendo armas à Ucrânia — e não exclusivamente entre os membros da OTAN —, a Polônia poderá ser envolvida nesse conflito, e a OTAN e os Estados Unidos também.
Como o presidente Joe Biden lembrou à imprensa, o Artigo 5 da Carta da OTAN diz que um ataque contra um é um ataque contra todos. Se membros da OTAN como a Polônia, para não mencionar os Estados bálticos, são atacados pela Rússia, então os Estados Unidos, por tratado formal, entram em guerra com a Rússia. Ponto final. (Os relatórios são de que os estados membros da OTAN já estão enviando armas para a Ucrânia — Estados como Dinamarca e Holanda. Os principais Estados do perímetro também incluem Romênia, Eslovênia, Eslováquia, República Tcheca e muito mais.)
Se isso acontecer, todo o inferno pode se desencadear. Uma guerra mundial pode ser uma possibilidade muito real. Imagine: uma guerra quente (não fria) entre Estados Unidos e Rússia.
Veremos. Preste atenção na Polônia, assim como na Rússia. Santa Faustina as tinha continuamente diante dos olhos.
O que achou desse conteúdo?