O mundo nunca se esforçou muito para escutar profetas.
Os profetas do Antigo Testamento não foram muito bem-sucedidos ao longo da história de Israel. Eles apareciam com regularidade e alertavam as pessoas para que se arrependessem. Muitos deles foram mortos por apedrejamento por causa dos problemas que causavam, e muitos foram tratados com rispidez. Mas o povo de Israel só se lembrou daquilo que os profetas tentaram lhe contar quando viu seu reino ser destruído e teve de fugir nu, escravizado e completamente humilhado. Os poderosos foram derrubados. Foi um contraste absoluto com a vida que tinham conhecido quando se acomodaram pelo luxo, negligenciaram os pobres e se envolveram em divisões políticas. Eles ficaram orgulhosos e se deixaram consumir por distrações e mentiras. Perderam tudo quando deixaram de dar ouvidos a Deus, fizeram pouco caso das coisas divinas e ignoraram suas palavras enviadas por seus mensageiros, os profetas.
O único caso famoso de um povo que prestou atenção às palavras de um profeta e se arrependeu é o da história de Jonas e da cidade de Nínive. Mas essa história é mais conhecida por causa do profeta relutante do que pelo povo arrependido. É ainda mais interessante o fato de a história não ter um final feliz. Não estou falando de Jonas, que reclama com Deus. Falo de Nínive. Se você conhecesse o Antigo Testamento (mas não o conhece), e se conhecesse a história do profeta Naum (mas não a conhece), saberia que alguns anos depois de Jonas ter conseguido levar Nínive ao arrependimento e voltar ao caminho correto, a cidade retomou a vida pecaminosa e sem Deus; saberia que o profeta Naum foi enviado para alertar a cidade sobre sua iminente destruição e que ela não lhe deu ouvidos. A cidade de mercadores foi destruída: “Cadáveres sem-número, nos quais se tropeça” (Na 3, 3).
Acontece que o arrependimento é algo que você talvez tenha de fazer mais de uma vez. Eu sei: é difícil imaginar.
A razão que as pessoas mais apresentam para não ler os profetas é que não os compreendem. É claro que a verdadeira razão é justamente o contrário disso. Não os lemos porque sabemos exatamente do que eles estão falando. As descrições são terrivelmente claras e familiares, e percebemos que somos nós os destinatários da mensagem que pede arrependimento. Nossa resposta é uma “análise crítica” do texto antigo, à luz de questões que tratam da integridade da transmissão dos manuscritos originais e sua “evidente corrupção” por meio de “constructos patriarcais opressores” e “interpolações de monges”.
Mas sobre os profetas antigos já falamos o bastante. Haveria algum mais recente, que nos preceda não por vinte ou trinta séculos, mas apenas por um? Alguém que tenha previsto com exatidão nosso atual estado de anarquia e seu caos moral, sexual, racial e social?
Bem, houve G. K. Chesterton.
Em sua novela O homem que era Quinta-feira, publicada em 1908, um grupo de anarquistas, inspirado por uma filosofia que odeia a propriedade, o matrimônio e a própria vida, tenta solapar energicamente tudo o que é normal na civilização.
Ele previu que a “marcha do progresso humano” seria a contracepção seguida do aborto e do infanticídio.
Ele disse que o resultado do divórcio leviano seria o matrimônio leviano.
Ele disse que o sexo exagerado levaria à assexualidade, e que um dos problemas do mundo moderno é que cada sexo está tentando ser os dois sexos ao mesmo tempo.
Ele disse que o controle de natalidade, que foi promulgado pela primeira vez sob o manto da eugenia, era racista: uma tentativa de impedir os “indesejáveis” de ter filhos.
Ele disse que a América sempre pagaria um alto preço pela importação e escravização de africanos, e que a escravidão sempre seria o “crime e a catástrofe da história americana”. Ele ainda alertou: “As pessoas estão sempre prontas para falar bobagens sobre raça”.
Ele alertou sobre um culto à natureza que nos tornaria artificiais, um culto à saúde que nos tornaria doentios e um culto ao homem que nos tornaria desumanos.
Ele alertou que o mundo moderno corria o risco de viver sob uma tirania do Estado forte e dos grandes negócios, e que o homem comum perderia cada uma de suas liberdades. Alertou que seríamos escravos de nossas máquinas, do prazer, da agitação e da ciência. Alertou que a educação pública ampliaria o poder do Estado e reduziria a autoridade dos pais e da Igreja. Disse ele: “Elimine Deus, e o governo se tornará deus”.
Ele disse que nós perdemos nossa ideia de arrependimento.
Embora os profetas não sejam muito populares (especialmente em nível local e porque só se comprova que eles estão certos mais tarde), ainda há quem os siga enquanto estão vivos, que obedeça à Palavra de Deus, que mantenha os santos sacrifícios de Deus e se importe com os párias porque eles mesmos são uns párias. Elias pensou que estivesse sozinho, mas não estava. Chesterton é ignorado pelo mundo, mas há uns poucos que se lembram do que ele disse e sabem que ele estava — e ainda está — certo. Os poucos fiéis podem crescer em número, inclusive de forma rápida e discreta. O mundo não é feito apenas de ervas daninhas; o trigo cresce em meio ao joio.
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