O Beato Nicolau Stensen [1] nasceu em Copenhague (Dinamarca), em 1636, e cresceu protestante. (Seu nome em dinamarquês era Niels Steinsen, latinizado para Nicolaus Stenonis.) Foi um grande cientista, e famoso já em sua época. Acima de tudo, era um anatomista. Muitos círculos europeus de alto nível procuravam o seu conhecimento médico.
Pois bem: este ilustre protestante, que hoje definiríamos como um “intelectual protestante”, decidiu converter-se à fé católica. Não só: estudou para ser ordenado sacerdote e chegou mesmo ao episcopado.
Até aqui, alguém poderia dizer: histórias como estas, embora edificantes, são muitas. É verdade. A Igreja Católica, graças a Deus, tem muitas delas. Mas é a circunstância que ocasionou a conversão do cientista dinamarquês o que interessa recordar nestes dias.
Nicolau encontrava-se em Livorno porque, junto com outros ilustres cientistas, frequentava naquela época a corte do grão-duque da Toscana, Fernando II de Médici. Corria o ano de 1666, o dia era 24 de junho. Viu-se ele a observar a procissão de Corpus Christi. Uma procissão como as de antigamente, onde o extremo fausto correspondia à grande fé que se tinha. A cena levou o ilustre cientista a perguntar-se o seguinte:
“Ou aquela Hóstia é um simples pedaço de pão, e são loucos os que lhe prestam tanta reverência; ou nela está o verdadeiro Corpo de Cristo, e, então, por que não a honro também eu?”
O cientista foi atingido, assim, por um paradoxo que lhe parecia loucura: como é possível que um mero pedaço de pão (água e farinha) seja tão solenizado? Ou estou num manicômio — pensou ele —, no meio de loucos, ou sou eu que estou no caminho errado e não consigo entender. Foi esse paradoxo, essa estranheza que se revelava como um absurdo, que o levou a confrontar-se com uma verdade em que acreditavam aqueles circunstantes. Foi aquela manifestação sagrada, não terrena, misteriosa e sublime, que lhe sugeriu uma dúvida — neste caso, uma “santa dúvida”.
Se Nicolau vivesse hoje e visse como o Santíssimo Sacramento é banalizado, o que diria? E, acima de tudo, que decisão tomaria? Tornar-se-ia católico? Ou continuaria convencido de seu protestantismo?
Hoje, recebe-se o Santíssimo como quem está numa fila nos correios, ou como quem bate o ponto no trabalho: nada de paradoxo, nada de mistério! E quem sabe quantos “Nicolaus” dos nossos tempos permanecem assim, sem mudar a sua vida.
Para acreditar, o homem também precisa ver, porque também é carne. E, portanto, também precisa ver quanta reverência, quanta sacralidade se oferece àquilo pelo qual vale a pena viver e morrer. Se nos esquecemos dessa reverência e dessa sacralidade, então nenhum homem de fato inteligente (sim, porque se trata de inteligência) pode realmente compreender.
Aquela procissão de Corpus Christi, no longínquo ano de 1666, com aquela reverência, com aquela sublime sacralidade, fez com que a Igreja e o mundo pudessem contar com mais um santo e menos um herege. Hoje, porém, com a banalização do sagrado em curso, infelizmente encontramos muitos santos a menos... e muitos hereges a mais.
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Eu desejo receber a Eucaristia com muito mais reverência e amor do que o faço hoje.
Que Deus me conceda essa grandiosa graça
Linda mensagem!