Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 14, 7-14)
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “Se vós me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai. E desde agora o conheceis e o vistes”. Disse Filipe: “Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta!”
Jesus respondeu: “Há tanto tempo estou convosco, e não me conheces Filipe? Quem me viu, viu o Pai. Como é que tu dizes: ‘Mostra-nos o Pai”? Não acreditas que eu estou no Pai e o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo, mas é o Pai que, permanecendo em mim, realiza as suas obras.
Acreditai-me: eu estou no Pai e o Pai está em mim. Acreditai, ao menos, por causa destas mesmas obras. Em verdade, em verdade vos digo, quem acredita em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas. Pois eu vou para o Pai, e o que pedirdes em meu nome, eu o realizarei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes algo em meu nome, eu o realizarei.
Hoje, celebramos com alegria a memória de S. José Operário. Mas o que significa celebrar no dia 1.º de maio (que os revolucionários dedicam à “revolução”, à revolta da classe operária contra a “opressão” dos patrões capitalistas) a figura de S. José? Em primeiro lugar, significa que é preciso resgatar o trabalho das garras do diabo. Infelizmente, o que as pessoas não enxergam hoje em dia é que o mundo, enfeitiçado por uma coisa chamada dinheiro, vive sob o jugo de Satanás. Todos os conflitos que vivemos hoje são conflitos por bens materiais. Não adianta: o dinheiro é uma riqueza que causa muitas vezes a discórdia. Por quê? Porque ele não se multiplica com a partilha. É diferente dos bens espirituais. Os bens espirituais não se perdem quando se dão. Com uma homilia, por exemplo, o sacerdote pega algo do tesouro da Igreja e dá-o ao fiel. Mas o padre não fica mais pobre ao enriquecer o fiel. Quando se partilham bens espirituais, não há briga porque quem os dá, ao mesmo tempo que enriquece a outro, fica em si mesmo mais rico espiritualmente porque, sendo a pregação um ato de caridade, é o pregador o primeiro a sair beneficiado. No mundo material não é assim. Quem dá mil reais fica mil reais mais pobre, e isso é causa de conflito, isso faz com que as pessoas vivam como que hipnotizadas em discórdias tremendas. Vivemos num mundo em que as pessoas acham que só há duas alternativas: ou se é capitalista, ou marxista. São poucos os que veem que, na verdade, os dois lados estão errados, igualmente hipnotizados pelo mundo material: os capitalistas, por um lado, hipnotizados com o lucro que podem gerar com as suas empresas; os marxistas, por outro, hipnotizados com a pretensão de dividir entre si o dinheiro ganho pelos primeiros. Ambos os lados estão debaixo da mentira de Satanás. O diabo, mais uma vez — como sempre — apresenta o fruto proibido, que neste caso é o dinheiro: “Sereis como deuses”, isto é, “Buscai o dinheiro e sereis divinos”. Eis a miséria que toma conta do nosso mundo, escravo do trabalho. As pessoas querem trabalhar e trabalhar mais “para ter dinheiro a fim de encontrar a felicidade, pois a felicidade está no dinheiro”. É debaixo desse encantamento, desse feitiço diabólico, que vive hoje a humanidade, hipnotizada pelo dinheiro. Por isso já não pensa em mais nada. Para poder trabalhar e ganhar dinheiro, os pais estão dispostos a abandonar seus filhos em casa, entregues às babás dos tempos modernos, como a internet, com todo o tipo de diversão, filmes e desonestidades. Para quê? Para ganhar dinheiro, porque, tendo dinheiro, “está tudo resolvido”. Celebrar S. José Operário é entender que Deus não quer o ócio, mas que nós trabalhemos. A finalidade do trabalho, porém, não é o dinheiro, mas a transformação da realidade na obra querida por Deus. Deus nos pôs no mundo como pôs Adão e Eva no jardim, um jardim que eles deveriam cultivar. Deus criou o mundo para que o pudéssemos melhorar, fazer algo de bom, um serviço aos outros. Quando eu trabalho, e se trabalho com o coração em Deus, me torno mais rico espiritualmente porque estou prestando um serviço aos demais. Quanto mais, no meu trabalho, sirvo humildemente aos outros, mais rico me torno espiritualmente. É aqui que S. José é um grande modelo. Foi ele quem ensinou Jesus a trabalhar. Sim, Jesus, sendo Deus, não precisava de mestre; mas, por livre escolha, quis tê-lo por humildade. Deus escolheu estar na carpintaria, aprendendo um ofício de seu pai adotivo. Nos trabalhos da carpintaria, Cristo aprendeu a realizar os trabalhos de Adão e Eva no jardim primitivo. É como se Jesus estivesse reensinando a humanidade: ao aprender, era Ele quem ensinava, e ensinava como podemos servir aos outros. Mas Jesus foi realizar seu grande trabalho num outro jardim, no Getsêmani, o Horto das Oliveiras, o jardim do Calvário, onde levou a cabo a salvação da humanidade. Por isso olhamos para S. José, o trabalhador que nos inspira a lembrar que todo trabalho deve ser obra de salvação. Todo trabalho, por humilde que seja — numa carpintaria, como varredor de rua, frentista de posto, mecânico, engenheiro, advogado, médico, enfermeiro… —, todo trabalho deve ser obra de redenção. Todo trabalho tem o potencial de ser uma obra espiritual de grande caridade para com Deus. De grande amor. Jesus, nos seus trinta anos em Nazaré, trabalhando humildemente na carpintaria junto com seu pai adotivo, estava, sim, trabalhando para a glória de Deus e para a redenção da humanidade, não tanto pelas cadeiras, pelas mesas ou pelas portas que fazia, mas pela grande caridade com que as fazia. É dia de S. José Operário. Peçamos-lhe que nos ensine a trabalhar para o Reino de Deus: “Não trabalheis”, diz Jesus no evangelho de S. João, “pelo alimento que perece. Trabalhai antes pelo alimento da vida eterna, o pão da vida eterna”. Saibamos fazer dos nossos simples trabalhos, desde o catar as folhas do chão ao varrer a casa, obras de grande caridade, de grande amor a Deus. Assim, estaremos santificando-nos, salvando almas e, mesmo na mais humilde das ocupações, contribuindo para a grande obra da redenção. Que S. José nos ilumine e ajude a trabalhar bem nesta obra de salvação.
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