Atualmente, já não é possível comparar o presépio com a árvore de Natal. Nas escolas, nos escritórios, nos hospitais, nas lojas... a árvore ainda está presente, mas nem sempre o presépio. 

Obviamente, é fácil entender o motivo: o presépio é um sinal inequívoco de que o Natal é uma festa cristã (chegamos ao ponto em que é necessário esclarecer isso), enquanto a árvore é considerada menos religiosa e mais passível de interpretações diversas. Na verdade, muitos estão convencidos de que a árvore de Natal não tem nada a ver com o cristianismo.

Mas, ao contrário, a árvore de Natal não só é um símbolo profundamente cristão, mas, de certa forma, pode-se dizer que é ainda mais “cristão” que o presépio (se nos permitem usar essa comparação paradoxal), pois ela surgiu antes do presépio.

Quais são as razões que nos ajudam a entender que a árvore de Natal é um símbolo de origem cristã, e isto de modo inequívoco? 

As razões são três.

A primeira delas é o fato de a árvore de Natal estar presente nos evangelhos apócrifos. Refiro-me aqui aos não-heréticos, escritos na mesma época que os canônicos. Segundo esses evangelhos, quando Jesus nasceu, a natureza foi renovada e até as árvores, secas por causa do inverno, começaram a dar frutos. Daí surgiu o costume natalino, pouco tempo depois, de decorar árvores secas com todos os tipos de frutos pendurados nos galhos (verdadeiras bolas ante litteram). 

Esse costume era predominante no Médio Oriente. O então Cardeal Joseph Ratzinger afirma o seguinte num escrito de 1978: 

Quase todos os costumes pré-natalinos têm origem nas palavras da Sagrada Escritura. As pessoas de fé traduziram, por assim dizer, a Escritura em algo visível [...]. As árvores decoradas na época do Natal não são nada mais que a tentativa de traduzir em ato estas palavras: “O Senhor está presente.” Os nossos antepassados sabiam disso e acreditavam nisso. Portanto, as árvores devem ir ao seu encontro, curvar-se diante dele, tornar-se um louvor ao seu Senhor.
São Bonifácio cortando o carvalho de Thor. Gravura de Peter J. N. Geiger.

Segundo motivo: a árvore de Natal é cristã porque assim o atesta São Bonifácio. Ele nasceu na Inglaterra por volta de 680, e a ele se deve a evangelização dos povos germânicos. Conta-se que, na véspera de Natal do ano 723, dirigiu-se ele com alguns discípulos ao Carvalho Sagrado de Thor, perto de Geismar, na Baixa Saxônia. Próximo a esse carvalho, realizavam-se cultos pagãos que incluíam sacrifícios humanos. Os habitantes locais acreditavam que quem tentasse derrubar aquela árvore seria atingido pelo martelo de Thor. 

São Bonifácio e seus companheiros chegaram ao local justamente quando mais um sacrifício humano estava sendo realizado. O santo interveio e, com o báculo, conseguiu parar e partir milagrosamente o martelo com o qual um dos habitantes locais estava matando uma criança. Então, São Bonifácio gritou: “Este é o vosso Carvalho do Trovão e esta é a Cruz de Cristo, que partirá o martelo do falso deus Thor.” Então, pegou um machado e começou a golpear a árvore sagrada. De repente, um vento forte se levantou e a árvore caiu, rompendo-se em quatro partes e formando uma cruz. 

Obviamente, nada aconteceu com São Bonifácio e as pessoas ficaram impressionadas. O santo dirigiu-se aos pagãos com estas palavras: “Ouvi! O sangue dos vossos filhos não será derramado nesta noite, porque esta é a noite do nascimento de Cristo, o Salvador da humanidade.” Atrás da árvore partida, avistava-se um jovem abeto. São Bonifácio dirigiu-se mais uma vez aos pagãos: 

Esta pequena árvore, uma jovem filha da floresta, será a vossa árvore sagrada esta noite. Vede como ela aponta diretamente para o Céu. O fato de estar sempre verde é símbolo da eternidade. Que ela seja chamada de “Árvore do Menino Jesus”. Reuni-vos ao redor dela, não na floresta, mas em vossas casas: lá não haverá rituais de sangue, mas presentes de amor e ritos de bondade. 

São Bonifácio conseguiu converter aqueles pagãos, e o chefe daquela aldeia pôs um abeto em sua casa, colocando velas sobre os galhos.

“São Bonifácio derrubando o carvalho de Thor”, por Johann Michael Wittmer.

Terceiro motivo: a árvore de Natal é cristã porque está ligada ao pecado original. Já na Alta Idade Média, na noite de Natal, em frente a algumas igrejas, costumava-se encenar a história do pecado original. No dia 24 de dezembro, os Santos Adão e Eva eram homenageados de forma particular. Os fiéis erguiam a árvore do Éden, pendurando nela maçãs para lembrar a história do Gênesis. No norte da Europa, como no inverno não era possível encontrar macieiras floridas, escolhiam-se abetos, que estão sempre verdes. 

Além disso, algumas lendas medievais contam que a Cruz de Cristo foi construída com a madeira da árvore do pecado original. Ela teria sido fincada no Calvário, ou seja, no local onde Adão foi sepultado. Muitas fontes afirmam que, na Europa medieval, era praticamente impossível entrar numa igreja no dia 24 de dezembro e não encontrar uma árvore decorada ao lado do altar. Segundo o famoso teólogo luterano Oscar Cullmann (1902–1999): 

O significado cristão da árvore de Natal não deve vir do solstício de inverno [...]. Ela tem uma origem própria e remonta a uma tradição medieval e ao seu significado religioso: as representações dos mistérios que, na Noite Santa, encenavam diante das portas das igrejas e catedrais a história do pecado original.

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